Dezessete anos

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_O que você acha que ela quer me falar? – indagou MinGyu a HwangSang enquanto caminhavam para casa após um dia cansativo na escola. Caminhavam lado a lado com suas mochilas nas costas, conversando baixinho entre si. O mais baixo murmurou uma negação.

Antes de saírem para o colégio a mãe do Kim informara que queria ter uma conversa com o garoto após seus estudos. Sua expressão não era severa, o que fez com que o garoto não se ocupasse o dia inteiro pensando sobre aquilo. Sabia que não estava encrencado, o que o livrara de se distrair na aula. Mas WonWoo permaneceu em silencio, coisa que ele nunca fazia. O garoto era falante, risonho, geralmente quem aparecia e iniciava a conversa. Sempre distraindo MinGyu do mundo cruel ao redor e de suas preocupações.

Agora ele estava quieto.

Eram literalmente adolescentes agora, numa idade em que metade se preocupa com vestibulares e faculdades. A outra metade com festas e amigos. Os dois não se importavam muito com nada daquilo. MinGyu era distraído, sempre em seu mundinho, inventando coisas. Suas notas não eram as melhores por essas mesmas ocorrências. Já as de WonWoo... MinGyu nunca perguntou.

Porém MinGyu não estranhou o silencio, pelo contrario, sorriu para ele deixando seus pensamentos serem abraçados pelo mesmo. Chegando em casa olhou para o lado e não viu HwangSang. Apenas sorriu, ele sempre sumia antes de chegarem a casa do mais novo. Geralmente o esperava em seu quarto após escalar ate a janela do mesmo.

O Kim abriu a porta, sua mãe estava na sala. O garoto se assustou por não esperar sua companhia logo ali, mas a mulher já o esperava. Acomodada enquanto lia e relia aquele papel em suas mãos diversas vezes. Melancolia reluzia com tom prateado em suas orbes por diversas vezes.

_Mae? – A voz do garoto a despertou de seus devaneios, a inocência da voz a fazendo derramar lágrimas que há muito segurava. O menino passou a se aproximar dela cautelosamente, assustado com as lágrimas da mais velha. Ela não o deixou se aproximar de mais. Sua coragem não podia ser destruída outra vez. Fazia anos que sabia daquilo e não conseguia lhe contar. Tentara varias vezes negar, tentara provar que aquilo estava errado. Mas não estava.

O papel era simples, apenas uma folha com vários escritos médicos e uma foto de MinGyu na parte superior esquerda. Mas a foto fez MinGyu franzir o cenho, lembrava-se daquele dia. Tinha treze anos quanto tirara a foto abraçando WonWoo, naquele dia de calor escaldante. Mas havia uma anomalia estranha ali, WonWoo simplesmente não era visível na foto. Ele não fora cortado, a foto não tinha nenhum tipo de foco em MinGyu. HwangSang simplesmente não aparecia. MinGyu estava abraçando o nada.

_Cadê o WonWoo? – Ele indagou confuso, imaginando que aquilo só podia ser algum tipo de montagem.

Até ele ler o papel ele não havia entendido nada, após ler o papel ele desejou ter continuado sem entender. Aquilo não podia ser verdade, WonWoo era real. Sabia disso.

Lágrimas embaçaram sua visão tão rápido quanto seu coração batia no momento. Tentou negar, discutir com a mãe. Afinal, eles se viam todos os dias. Não podia ser apenas ele que o via. WonWoo existia. Não era uma alucinação, era real, tinha certeza.

Subiu as escadas lentamente, não querendo chegar ao final da mesma. Não querendo ver a pessoa que o aguardava em seu quarto. Era mesmo uma pessoa? Era uma ilusão. Era como aqueles pensamentos estranhos que lhe tiravam a atenção do mundo real, de tudo? Então era isso. Por isso conversava com pessoas que até mesmo sabia que não eram humanas.

HwangSang era, literalmente, uma ilusão.

Ele estava sentado na janela, as pernas balançando freneticamente num ritmo estranho. Seus pés emitiam um estampido ruidoso ao encontrar a parede. MinGyu não entendia como aquilo podia ser de sua mente. Não, WonWoo era real, tinha que ser. Sua vida não podia ser aquela mentira. O que seria de si sem WonWoo?

O olhar do garoto era fixo no Kim, de maneira que chegava a ser macabro. Ele não parecia ser real naquele momento. Suas pernas pararam de se mover no instante em que o mais alto fechara a porta. o Jeon parecia um boneco, um boneco humano. Os olhos sem vida ou emoção, inanimados, a face sem expressão.

MinGyu não queria aquilo, sentia que estava errado. Os dois permaneceram silenciosos enquanto se encaravam. MinGyu não sabia o que dizer, consequentemente WonWoo era limitado a dizer algo também.

Mas a mente de MinGyu, certa parte dela, era independente na hora de criar diálogos e imagens.

_Olá MinGyu – A voz era de WonWoo. Mas a mesma voz com a qual falara com ele da primeira vez, quando tinham cinco anos de idade. Aquilo o assustou, ele deveria ser WonWoo, não aquilo. O conhecia desde seus cinco anos de idade. O conhecia há doze anos, mais da metade de sua vida. Como podia não ter sequer suspeitado?

_Você é real? – indagou o Kim cautelosamente, com medo. Não queria ouvir a resposta, tinha profundo medo dela.

Mas ele não lhe respondeu. Nada disse, nada fez, permaneceu imóvel. Assemelhando-se a um manequim. MinGyu se perguntou se na verdade não estava olhando para uma foto.

Após alguns minutos o menino olhou para trás, MinGyu não entendeu o ato. HwangSang desceu do apoio da janela e subiu novamente virado para o lado de fora, as pernas dependuradas para o nada. Seu olhar se voltou para MinGyu, ainda do lado de dentro do quarto. Ambos sabiam o que o Jeon faria. MinGyu simplesmente não conseguia reagir, impedir ou falar nada para o outro.

Então, ele pulou.

O Kim finalmente reagira e fora até a janela correndo, deixando a mochila cair no processo. Olhou pela janela para o chão além vendo apenas o corpo de WonWoo jogado no chão. Desacordado.

Desespero e insânia, era o que restava na mente do garoto. Mas ele mal expressou, não gritaria o nome de WonWoo para os quatro ventos, sua mãe viria checar. Estavam no ultimo andar da casa, ao menos cinco metros separavam aquela janela do chão. WonWoo apenas conseguia subir ali pelas trepadeiras que haviam na parede da casa.

Geralmente quando o desespero bate à mente, usar a logica em primeiro lugar torna-se deveras complicado. Simplesmente se faz sem pensar de mais. MinGyu geralmente era impulsivo demais, desespero era apenas um pretexto para quaisquer loucuras que ele faria. Com insânia rondando os pensamentos ele apenas saltou.

Caindo sobre a realidade dura de que WonWoo não estava ali.


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