Apenas MinGyu

199 30 23
                                    

Os olhos de MinGyu se entreabriram levemente, o garoto não tinha forças para se manter acordado por muito tempo. Sua sina já havia sido decidida. O local era branco de mais, fazendo com que seus olhos ardessem e fosse necessário que os fechasse novamente. Ele tentou se recordar do que havia acontecido, conseguia apenas ter acesso à memoria de WonWoo se pendurando na janela antes de se jogar.

Não muito longe, sentado com as pernas cruzadas sobre um balcão estava WonWoo. Este não tinha nenhum machucado aparente apesar de ter as roupas sujas da queda. Seu olhar era fixo no rosto do Kim, e curiosamente nenhuma parte de seu corpo tinha movimento. Era alguém completamente imóvel, o olhar sombriamente analisava as feições do outro de forma sobrenaturalmente quieta.

Quando a visão do Kim se ajustara à luz e ao branco do local, sua atenção fora atraída para o Jeon como um imã. Ele era a única coisa ali que destoava de todo o branco. Um único ponto de caos e bagunça em meio a paz fúnebre que o lugar exalava. Ele, e o único som irritante do aparelho que media os batimentos cardíacos do Kim, eram o que quebravam a paz do lugar.

Silêncio era o que prevalecia, mesmo com os breves apitos que o aparelho emitia. Absolutamente nada se passava na mente de MinGyu, ele apenas conseguia olhar para WonWoo. Consequentemente o Jeon fazia o mesmo.

Até a mente de MinGyu resolver trabalhar - Por que pulou? - indagou o Kim, a voz falha e rouca. A primeira coisa na qual pensou, e indagou mesmo sentindo dor. Naquele momento não era ele quem importava, mesmo que o Jeon não parecesse nem um pouco machucado. De fato, não estava.

O garoto não parecia querer responder, permanecendo macabramente imóvel. Como uma pintura sombria na qual o elemento principal mais que se sobressaia no momento de chamar atenção. Neste caso, chamar atenção pela quietude e pelos olhos nublados de olhar obscuro. Uma pintura de dar calafrios.

Até suas pernas começarem a se mover, um movimento perpendicular para frente e para trás. Como uma criança agitada que se sentou num local que suas pernas não alcançavam o chão. Elas já não estavam mais cruzadas, mas em paralelo uma com a outra.

_Você quis que eu pulasse - respondeu certeiro, destruindo qualquer esperança de MinGyu de que ele fosse real. O garoto não parecia estar ali, mesmo que estivesse. A voz era estranha, não parecia ser WonWoo falando. O que acontecera com sua mente? Não podia ao menos ver WonWoo como ele era?

Mas como ele era? Ele não era de forma alguma, ele não existia, era fruto daquela doença alojada em sua mente. Aquela que estava escrita naquele papel o qual sua mãe lhe mostrou. Aquela da qual se esquecera o nome. Algo que supostamente lhe fazia ver coisas, escutar vozes.

WonWoo era uma dessas coisas.

_Por que quis que eu pulasse? - Foi direto, mas como ele queria saber aquilo se era MinGyu que tinha a duvida? Como WonWoo havia feito sua vontade antes e pulado, se MinGyu não sabia que queria aquilo? Se ele fazia as vontades do Kim então ele não deveria estar ali. MinGyu queria estar sozinho naquele momento, queria poder pensar em tudo. Sua vida inteira fora enrolada numa mentira que sua própria mente criara para si.

_Não sei - Talvez por outra alucinação, ou apenas porque sua garganta não estava tão ruim, sua voz não soara rouca daquela vez. O garoto com as roupas sujas novamente ficara imóvel, as pernas paradas. Era quase tão macabro quanto um filme de terror, os movimentos fluidos como tinta na agua, a imobilidade sobrenatural. O "mais velho" se levantou e num piscar de olhos estava sentado ao lado da maca. Como num apagar e acender de luzes. O olhar continuava sombrio.

_Por que me criou? - Mais uma duvida que seu próprio criador também adoraria sanar, mas feita de um diferente ponto de vista - Por que nunca me contou que eu não existia? - Mas MinGyu não tinha como contar algo que não sabia. Não havia como ele responder nada daquilo, ele também queria aquelas respostas. Já aquela ultima não fora criada por MinGyu. Não havia como ele contar para WonWoo que este não era real se MinGyu acreditara em sua existência por tantos anos. Acreditara que finalmente tinha um amigo que não era imaginário, mas no final este era tão falso quanto todos os outros.

Lágrimas passaram a serem visíveis no rosto de WonWoo, embora sua expressão permanecesse inexpressiva. Na realidade, era MinGyu quem chorava.

_Queria poder sentir sua falta, mas assim que você for, eu deixarei de existir - admitiu o Jeon baixinho, pendendo a cabeça para o lado, a inexpressividade era assustadora. Mas eram minutos, talvez segundos até a sina. A morte não tinha expressão, tinha?

O aparelho pareceu apitar entre um espaço de tempo maior.

_WonWoo... - Sua voz voltou _ ou talvez nunca tenha deixado de ser _ a ser rouca. Curiosamente tudo parecia delicado de mais, o mundo, WonWoo, sua visão.

A vida tinha acabado.

Era este seu fim?

Uma vida com uma grande mentira, que por acaso fora a melhor coisa dela.

A porta do local fora aberta, mas os olhos de MinGyu viam apenas as orbes negras e vazias de WonWoo. Tudo começava a desabar, cada vez mais o intervalo de tempo entre uma batida e outra de seu coração aumentava.

_Adeus - Pôde ouvir uma ultima despedida, um sussurro vindo de WonWoo antes que seus olhos pesassem e o sono da morte lhe desse um beijo frio na testa. A maquina fora desligada pouco depois que parara de apitar. WonWoo já não existia.

AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora