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Já era tarde e eu mal podia esperar pra aula acabar. Eu já não aguentava mais meu professor falando as mesmas coisas, sempre com as mesmas palavras e fazendo a mesma cara de indiferença de sempre. As vezes fico inconformada em como uma pessoa consegue ser tão insuportável a esse ponto.

Eu mal me despedi de Lana quando a aula acabou, os últimos momentos na minha mente só me mostravam corredores, escadas, a saída e logo em seguida meu carro. Eu estava exausta. Psicologicamente e fisicamente e isso não era novidade para ninguém. Minha única salvação foi ligar o carro, aumentar o volume da música e finalmente seguir pro meu apartamento.

Um turbilhão de pensamentos e perguntas se passavam na minha cabeça, esse negócio de último ano de faculdade é realmente um pé no saco, principalmente quando você está na reta final. Eu só queria poder passar uns dias sem pensar em nada, tranquila, sem ninguém me perguntando como vai ser daqui pra frente. Será que é pedir muito ? Ou talvez eu não esteja sendo justa comigo mesma ?!

Quero dizer, eu estudei tanto, batalhei tanto, pra chegar aqui e agora ? São esses tipos de perguntas que me atormentam a dias e eu não sei reagir, não sei como vai ser daqui pra frente e isso realmente me assusta.

E no meio de toda essa bagunça, pra me ajudar ainda mais, começa a chover. Não que eu não gostasse de chuva, mas digamos que não é um
bom momento, já que minha cabeça está a milhão. Obrigada universo.

A única coisa que eu sei fazer nessas situações é chorar e como de costume, hoje é um desses dias. Aumentei mais ainda o volume e acelerei, quanto mais rápido eu chegar, melhor.

E de repente a última coisa que eu lembro é de uma dor muito forte, minha visão totalmente embaçada e depois silêncio.

...

Quando consegui abrir meus olhos, percebi que havia um cheiro muito forte de gasolina, eu estava totalmente presa em um emaranhado de ferros e minha unica vontade era de sair dali. Eu não conseguia me mexer e cada tentativa era falha. Não havia uma luz se quer onde eu estava e gelei ao pensar que ninguém poderia me encontrar.

Chovia muito e aquela pista não era uma das mais confiáveis, diga-se de passagem, então se alguma alma passar por ali, é pura sorte.

Continuei a me mexer, tentando sair de dentro do carro, mas eu já não tinha mais forças. Estava frio, minha cabeça doía demais e meu corpo estava começando a doer mais do que eu poderia imaginar. O cansaço, medo, a dor, toda a bagunça havia tomado conta de mim e agora eu estava me deixando levar, já não tinha mais forças. Eu tentei, tentei de tudo, mas sozinha e presa como eu estava, não teria como sair tão fácil.

Deixei todo pensamento ruim ir embora e tentei me concentrar em tudo de bom que um dia já aconteceu comigo, e naquele silêncio, as palavras em minha mente pareciam ser ditas ali, naquele momento. Toda dor que eu estava sentindo tinha ido embora. Eu já não sentia medo algum e o desespero já não tomava conta de mim.

Lembro que nesse momento, uma luz apareceu, bem fraca e distante, mas não dei muita importância. Foi quando então o destino decidiu me dar uma nova chance. Eu ouvi passos vindo em direção onde eu estava e uma voz totalmente estranha disse:

— Ei, você ! Fica acordada, eu tô aqui, eu vou te ajudar.

E logo em seguida eu fechei meus olhos, eu sabia que de ali em diante, eu não estaria sozinha.

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