But not. It could not be.

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Dois dias haviam se passado desde que desmaiei na escada. Dois dias em que Christopher estava em alerta máximo a cada passo que eu dava.

-Ei tá tudo bem...-Rolei os olhos.- Eu só estou cortando a cebola pra sua mãe! –Ri.

-Porque não me chamou para ajudar ?

-Porque eu não quero atrapalhar seu tempo com sua família ! –Respondi, já despejando a cebola na panela e lavando a faca que havia usado.

-Eu já disse que você não me atrapalha em nada. –Foi a vez de Chris rolar os olhos.

-Tá bom, tá bom... –O abracei.-

-Vou dar uma volta com sua namorada hoje, tudo bem ? –Yenny disse virada para o fogão.-Preciso saber mais dela, sem que o guarda-costas acompanhe !

E nós duas rimos enquanto Chris fazia uma careta e mostrava a língua.

...

Christopher havia saído com seu irmão, enquanto eu e Yenny caminhávamos loucamente pelo shopping.

Em nossas mãos, várias sacolas. Naquele dia, havíamos nos permitido um banho de loja.

Qual é? Também mereço, vai.

Havíamos entrado em uma loja de sapatos e nós duas optamos por comprar uma bota, aquelas de cano alto, sabe ?

Enquanto a moça buscava as caixas com os nossos números, a mãe de Chris se virou para mim.

-Fiquei preocupada com você aquela noite...-Ela mexia em suas mãos.

-Foi só o vinho... –Ri.- Está tudo bem!

E então ela sorriu, já se virando para a moça que chegava com as caixas. Nunca vi tanta caixa em toda minha vida.

Posso jurar que ficamos ali escolhendo por mais ou menos uma hora. Yenny havia pego uma bota preta, maravilhosa, e a minha não ficava atrás não. Arrumamos as sacolas no carro e então voltamos para casa.

Ao chegar, a avó de Chris estava preparando nosso jantar, enquanto Chris e seu irmão jogavam baralho na mesa que havia ali.

Levei as sacolas para o quarto e desci novamente, me sentando ao seu lado e dando um beijo em sua bochecha.

-Pensei que as garotas não voltariam mais...-Ele disse, todo dramático.

-Por Deus, Chris ! –Seu irmão dizia rindo.- Foram só algumas horas...

E então olhei para seu irmão e gesticulei, como se dissesse "Está vendo?" e nós dois caímos na risada, fazendo com que sua avó nos acompanhasse.

...

Naquela noite, muita coisa acontecera.Naquela noite, um peixe acebolados preparado pela avó de Christopher fez com que minha vida virasse de ponta cabeça.

Já se passavam das 2h da manhã quando desci as escadas em direção à cozinha, para tomar um remédio pra o estômago. Só de lembrar o cheiro daquele peixe, meu estômago embrulhava.

Peguei o copo na pia e caminhei em direção ao filtro. Esperei com que a água enchesse o copo e me assustei.

-O que faz aqui, minha querida ? -Yenny perguntou, pegando outro copo na pia e fazendo o mesmo caminho que eu.

-Aquele peixe não me fez bem...-Respondi assim que engoli o comprimido.

-Ah...-Ela bebeu sua água.- Pra quem não está acostumado com o tempero, é assim mesmo...-Forçou um sorriso.

E foi aí onde tudo começou. O cheiro. A lembrança do tempero. Eu vou vomitar.

E assim aconteceu.

No meio da cozinha de Chris, com sua mãe ao meu lado.

-Me perdoa, por favor! -Disparei, já correndo atrás das coisas para limpar aquela sujeira.

-Não se preocupe, isso acontece...-Ela respondeu enquanto preparava um balde com alguns produtos de limpeza.

-Eu só passo vergonha...-Virei os olhos.-E dou trabalho.

E mesmo assim ela riu. Aquela mulher só podia ser um anjo.

...

Tudo já estava devidamente limpo, quando a avó de Chris apareceu na cozinha e se sentou à mesa. Yenny e eu nos assustamos quando a vimos. Ela apenas sorriu, como uma criança sorri quando apronta uma arte.

Yenny e eu nos despedimos e seguimos em direção aos quartos, novamente. Ou pelo menos essa era a intenção.

Esperei com que Yenny entrasse em seu quarto e corri para o banheiro que havia no corredor e ali, mais uma vez, vomitei.

Meu estômago gritava conforme eu botava tudo o que conseguia pra fora e eu rezava para que ninguém aparecesse ali para usar aquele banheiro. Dei descarga e me joguei pelo chão.

O que estava acontecendo comigo ? Eu acabara de tomar o remédio para o estômago, não era para isso estar assim.

Me levantei, lavei meu rosto e sai dali, já aceitando que não conseguiria dormir. Desci mais uma vez e me sentei junto a avó de Chris.

-Está sem sono mais uma vez ? -Ela perguntou enquanto colocava uma carta sob a outra, na mesa.

-Não senhora...-Suspirei.- Só não estou bem.

E então ela parou de jogar e me olhou, em silêncio. Garanto que me observou por uns 5 minutos antes de começar a dizer.

-Quanto tempo faz desde que você e Chris... -Ela riu novamente como uma criança quando apronta.- Você sabe.

Arregalei os olhos e pensei em não responder. Mas não havia escolha.

-Alguns dias...-Ela me encarava.- Muitos dias.

-E alguma vez ele aproveitou demais o momento ?

Meu queixo havia ido ao chão e voltado várias vezes.

-Não que eu me...

E então eu parei e esqueci tudo o que havia pensado em dizer e um sorriso se formou no rosto da senhora em minha frente.

Mas não. Não podia ser.

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