Capítulo 2

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Conheces alguma, Amélia?

Arregalei os olhos quando o Miguel perguntou-me isso, eu estava na minha cama a ler um livro e ele estava concentrado num jogo qualquer no computador.

- Porquê? - Perguntei.

- Conheces ou não? - Ele perguntou enquanto olhava para mim. Começou a rir quando viu a minha cara. - Conheces! Eu sabia! Porque continuas com essa mania de esconder as tuas namoradas de mim? Tens medo que tas roube ou quê?

- Eu não tenho medo de coisa nenhuma! - Eu não gostava da reacção das raparigas com quem eu saia quando elas descobriam que eu tinha um irmão gémeo. Algumas ficavam o tempo todo a fazer comparações, outras ficavam tão assustadas que quando estavam na presença do Miguel ficavam sempre a olhar descaradamente, e uma, só uma, gostou mais do Miguel do que de mim. - E conheces a Amélia de onde?

- Bem, foi uma coisa engraçada. Eu estava com a Sílvia num bar, e de repente apareceu uma louca, sabe-se lá de onde e pôs-se a dar-me porrada.

Larguei o livro, olhei-o incrédulo. Amélia deve tê-lo visto e pensado que era eu. Por isso é que não falava comigo há dois dias.

- Estás a brincar!

- Não, não estou. Chamou-me um monte de nomes, chamou um monte de nomes a Sílvia.

- E porque não lhe disseste quem eras?

- Achas que ela me deixou? Eu só tive tempo de me defender, aliás, tens que parar de te envolver com raparigas tão violentas! A Sílvia pensou que eu a tinha traído e saiu do bar possessa comigo!

- Desculpa, se quiseres eu falo com a Sílvia e explico...

- Não, deixa estar. - Ele respondeu voltando ao jogo do computador. - Eu também já estava farto dela.

Abanei a cabeça, o Miguel não tinha jeito mesmo.

Acordei com o som do telemóvel a tocar. Ergui-me e estiquei a minha mão até a comoda tirando-o de lá. Era Clara. Quando fui atender ela já tinha desligado. Olhei para as horas, eram três da manhã. Dei um pulo imediatamente, para ela ligar à aquela hora do hospital é porque alguma coisa tinha acontecido. Reparei também que eu tinha várias chamadas não atendidas dela. Liguei logo para ela.

'' João. '' Reparei que chorava, chorava desconsoladamente, o medo tomou conta de mim, um medo avassalador, aterrorizante.

- Clara, o que aconteceu?

'' O Miguel! O Miguel... acordei com as maquinas a apitar, chamei o médico... levaram-no para o centro cirúrgico... ''

Perdi as forças, o meu telemóvel caiu ao chão, saí a correr do quarto sem pensar sequer em dizer mais nada a Clara. Fui chamar a minha mãe. Ela ficou desesperada quando eu lhe disse. Saímos de casa imediatamente.

Mentiria se dissesse que apesar da situação eu tive uma condução decente, nada disso. Ultrapassei alguns sinais vermelhos, atingi o limite de velocidade, mas eu não estava nem um pouco preocupado. Nem um pouco!

**

- Foi por um triz. - O médico disse, aparentava cansaço e esgotamento. - Mas conseguimos estabiliza-lo. Eu sei que disse que ele tinha uma semana mas...

''Mas'' Eu odiava o ''mas'' ele dava cabo de mim todas as vezes que aquele médico o usava, o ''mas'' antecedia sempre a uma noticia que abalava as nossas esperanças em relação a sobrevivência do meu irmão.

- Mas? - Clara se atreveu a perguntar.

- Temo que ele tenha menos que isso. Dias... talvez horas...

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