Prólogo

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 Noite de tempestade

     Madrugada. As ondas do mar batiam no píer e balançavam violentamente os barcos ancorados. Todos buscavam abrigo no bar, o único lugar com luz e calor em um raio de muitas milhas. Dentro daquele estabelecimento, dançavam e brindavam os mais diversos tipos de pessoas: Homens com longas barbas trançadas, mulheres esbanjando seus vestidos, velhos senhores aconchegados próximos ao fogo. O taverneiro possuía uma idade já bastante avançada, mas ostentava um largo sorriso. A chuva iria durar horas.

     E então, todo aquele clima de descontração foi quebrado por um barulho. A porta estava aberta e a chuva entrava no bar. Um homem completamente encharcado adentrava a taverna a passos lentos. Pela porta entreaberta, os fregueses conseguiram ver um imenso barco atracado. O sujeito tinha as feições marcadas pelo tempo. Seus olhos negros possuíam um brilho profundo. Trajava um sobretudo de cor escura, que estava completamente coberto de algas, preso por um cinto de couro, o qual sustentava uma espada. Suas botas vazavam água quando o mesmo pisava lentamente no piso de madeira, deixando nítidas pegadas. E o rosto, este escondia-se detrás de uma barba grisalha e lisa. Enquanto todos olhavam para o homem misterioso, ele tirou o chapéu e sentou-se em um banco próximo ao balcão. Tirou do bolso algumas moedas de prata e jogou-as na frente do dono do bar. E, com sua voz grave como um trovão, cortou o silêncio do local.

"Uma bebida, por favor", disse.

O taverneiro encheu uma caneca com cerveja e entregou-a. Todos pararam o que estavam fazendo por muito tempo e observaram o velho. Passado algum tempo, alguns detalhes foram tornando-se mais claros. Em sua mão esquerda faltavam-lhe o mindinho e o anelar e boa parte da palma, o que aparenta ter sido uma mordida. No pescoço, grandes cicatrizes saltavam de sua pele, como se algum ácido consumísse-lhe a pele. Nesse meio tempo, uma criança que aparentava ter seus 6 anos saltou do colo de sua mãe e caminhou até o sujeito. A mulher, em choque, tentou impedir a menina, mas de nada adiantou. Ela sentou-se ao lado da figura sinistra.

"O senhor é um pirata?" a voz doce cortou novamente o silêncio da taverna.

Os lábios do homem contraíram-se em um sorriso tristonho e ele soltou uma leve gargalhada.

"Talvez" o tom grave da voz transparecia cansaço.

"E de onde você veio?" retrucou a menina.

"De um lugar muito, muito distante" disse, dando mais um gole na bebida.

"E como veio parar aqui?" a criança não perdia uma oportunidade de perguntar.

"É uma longa história...". Todos ao redor pareciam muito curiosos. E então, o velho homem percebeu que não tinha outra saída. Terminou sua cerveja, ajeitou-se no banco e pôs-se a contar sua jornada. 

Barba de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora