Isabel

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"Ela devia ter cerca de quarenta e três anos
Morava no mesmo bairro que eu
Bem próxima a minha casa
Era enfermeira em um posto de saúde da cidade vizinha
Quando não estava trabalhando, fazia acupuntura
E apesar de morar muito próxima a mim
Eu nunca tinha reparado nela
Até o dia em que ela veio na minha casa
Fazer acupuntura no meu pai
Numa época em que ele ficou muito doente
Não lembro de ter visto ela antes daquele dia
Mas tenho certeza que vi
Até porque, ela chegou me abraçando e me chamando pelo nome"

Outubro de 2016

Trombose. Era o que o meu pai tinha. E também estava com inflamação no nervo óptico. Com palavras mais fáceis, ele estava praticamente cego e com as pernas tão inchadas e doloridas que mal podia andar. Eu tinha dezesseis anos. Tinha acabado de ganhar uma cadelinha vira-lata, que nomeei Gaia.
Eram cerca de dezoito horas e já estava começando a escurecer. Eu e minha mãe tínhamos saído para dar uma volta com Gaia, mas ela ficava entrando na frente dos carros e isso me irritou tanto que acabei a segurando no colo.
Já quase em casa, encontramos meus avós. Depois de alguns cumprimentos minha avó perguntou:
-Como está seu pai?
-Na mesma - respondi dando de ombros e encarando Gaia nos meus braços.
-Fiquei sabendo que a filha da Lourdes faz acupuntura, ele deveria tentar! - minha avó sugeriu esperançosa.
-Vou conversar com ele! - Respondeu minha mãe.
Logo em seguida nos despedimos e entramos em casa.
Meu pai aceitou fazer acupuntura, então minha mãe pegou o telefone e discou os números de Lourdes que ela já sabia décor. Ela e minha mãe são amigas desde que me entendo por gente.
Lá pelas vinte e uma horas a tal filha da Lourdes chegou na minha casa. Quando ela passou pela porta meu mundo parou. Ela era linda! Mas não era só isso. Ela tinha algo a mais. Uma energia mística que eu nunca saberei explicar, mas é algo que me deixa completamente hipnotizada!
-Oi, Helena! - Ela disse me abraçando assim que entrou e no exato momento  em que ela se aproximou um cheiro forte de cigarro e perfume amadeirado me invadiu. Como ela sabia meu nome?
-Fica a vontade, Isabel! - Falou minha mãe e logo em seguida ela começou a fazer algumas perguntas sobre a doença do meu pai e tirar as agulhas de uma bolsa.
Isabel. Esse era o nome dela.
Ela estava vestida de preto da cabeça aos pés. Os cabelos castanho escuros estavam presos em um coque mostrando as três estrelas tatuada atrás e orelha. Tinha olhos castanhos, meio avermelhados. Era a cor mais linda que eu já tinha visto. Seu sorriso era doce, assim como a voz. E depois desse dia eu passei a me perguntar a todo instante "o que é que Isabel fez comigo?"

"A acupuntura fez muito bem ao meu pai
E por isso ela continuou vindo até minha casa fazer
Uma vez por semana
Não consigo lembrar exatamente o dia
Até que um dia, fez acupuntura em mim"

Novembro de 2016

Isabel foi casada. O marido dela pediu divórcio a mais ou menos um ano atrás e casou com outro homem. Ela tinha uma filha, Laila, de vinte e um anos. Laila preferiu morar com o pai, porque ele tinha uma casa enorme e dinheiro.
Isabel tinha uma melhor amiga. Olga é prima de seu ex marido. Loira, alta, magérrima e deve ter mais ou menos a idade de Isabel. Pelo que percebi elas estão sempre juntas e por mais estranho e sem noção que isso seja, eu tenho muito ciúme.
Ela mora junto com os pais, ou seja, muito próxima a minha casa. Acho que não da nem três minutos a pé. Não sei como nunca tinha reparado nela antes.
Como descobri tudo isso? Bom, primeiro tive uma ajuda do Facebook, depois fiz umas perguntas discretas e inocentes para minha mãe e ela entregou a história toda.
Eram mais ou menos dezesseis horas e eu estava esperando ansiosamente Isabel chegar, porque pela primeira vez, depois de insistir muito aos meus pais, eu ia fazer acupuntura.
Quando ela chegou eu senti meu coração bater mais forte. Ela estava radiante, como sempre. E com um enorme sorriso estampado nos lábios. Me cumprimentou com um abraço e eu senti seu cheiro de cigarro misturado com perfume amadeirado.
Primeiro ela fez acupuntura no meu pai, depois veio até mim e perguntou:
-Você sente alguma dor?
-Nos ombros. - Respondi encarando minhas mãos, porque sei que ficaria ainda mais nervosa se olhasse nos olhos dela.
-Levanta um pouco... - Ela pediu e eu levantei, ela foi até as minhas costas, abaixou as alças da camiseta que eu estava usando e começou a fazer uma massagem nos meus ombros, aliviando demais a dor que eu sentia.
-Você está tensa! - Ela falou próxima demais ao meu ouvido fazendo todo meu corpo se arrepiar. Acho que ela percebeu. Porque logo em seguida se afastou e disse -Senta, vamos começar!
Eu sentei e ela começou colocando agulhas nos meus pés e pernas. Depois nos braços e ombros. E por último nos pulsos. Bem próxima a palma da minha mão.

Uma (Quase) História De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora