Capítulo Dois

12 0 0
                                    

     Meu pai dirigiu por mais meio quilômetro até meu coração dar um salto. Estávamos parados em frente a uma imensa cabana de madeira escura, com um grupo de pessoas uniformizadas e ansiosas a nossa espera.

     Olhei para o exterior da recepção do Acampamento, e ela era linda. Lampiões amarelos emitiam uma atmosfera calma e esperançosa. A construção era tão larga que não era possível ver o Acampamento em si, apenas esta entrada.

     Encarei o banco de passageiro vazio ao meu lado e pensei se já era tarde demais para pedir para voltarmos. Eu não sabia se estava pronto. Fingi o tempo todo ter uma confiança em mim mesmo e me colocar acima de todos, quando na verdade estava apavorado e ansioso. Eu não iria ver meus pais por quase um mês. Isso significava que eu praticamente iria viver sozinho e em função de mim mesmo. Sem dormir e acordar a hora que eu quisesse. Sem jogar horas e mais horas de videogame com os babacas do clube de informática. Sem pedir um copo de suco e recebê-lo em menos de um minuto. Nada disso.

     Agora eu começava do zero. E sem ajuda.

    Meu pai arrumou o espelho do seu banco e me disse:

     - Venha ajudar seu pai velho a tirar suas malas do carro.

     Concordei com a cabeça e abri a porta, mas não a que eu estava apoiado, pois esse era o lado que aquele grupo de olhos animados estava. Eram provavelmente os monitores. Não conseguia vê-los direito, mas pareciam fortes, mais velhos e bonitos, exatamente o tipo de pessoa que eu não estava acostumado a interagir.

     Minha mãe desceu do carro também, e abriu o porta-malas. Eu estava levando duas, e me sentia muito envergonhado. Não era como se todo garoto da minha idade tivesse as malas arrumadas pela mãe, mas sim só um mochilão bagunçado e sujo, com pares de meia trocados. Evitei o olhar dos monitores. Talvez eles já tivessem sacado a minha, e estavam cochichando sobre a minha criancice, mas eu esperava que não.

     - Feito. Agora é com você.- disse minha mãe, colocando sua mão no meu ombro.

     Olhei desconfortável para ela, só esperando que eles fossem embora logo.

     - Obrigado, mãe.- respondi, com um sorriso fraco.

     - Sei que vai sentir nossa falta.- falou meu pai, tentando ser brincalhão, com um sorriso de comediante de bar bem fajuto.

     - Menos vai, pai.- dei uma risada falsa, e bati no peito dele com um soquinho.- Nos vemos em três semanas.

     - Com certeza, filho.- disse minha mãe, dando uma beijo na minha cabeça. Meu pai me abraçou.

     Eu podia sentir meu corpo tremendo de ansiedade. Está bem, vão logo, vão logo, eu pensava.

     Minha mãe me beijou mais uma vez e começou a me dar mais instruções desnecessárias, quando meu pai a puxou pelo braço e praticamente a enfiou dentro do carro. Ele deu a partida, e quando fez retorno, abriu a janela, sorriu e buzinou. E foi embora pela estrada.

     Respirei fundo e me virei lentamente para a grande cabana. Os monitores me encaravam ansiosos. Fui andando devagar, com um sorriso bobo no rosto, suando. Um deles se aproximou descontraído. Era muito alto e forte, tinha os cabelos castanhos compridos e dentes muito brancos. Parecia um ator de filmes adolescentes, o quê me deixou totalmente desconfortável.

     - Ei!- ele disse, quando chegou perto de mim.- Bem vindo ao Acampamento, cara. Qual seu nome?

     - Thomas.- falei, tentando parecer muito confortável, o que não deu certo.

     - Ei, Lizzie, Thomas!- ele falou alto, para que uma monitora morena e muito bonita procurasse meu nome em uma prancheta. Ela fez um joinha, e o tal monitor se abaixou para me ajudar com as malas. Eu queria dizer que não precisava, para parecer adulto e másculo, mas na verdade aquelas malas estavam pesadas demais, então apenas sorri e dei uma a ele.- Eu sou Wade, monitor-chefe dos garotos.

Buracos no CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora