Capítulo Três

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    Quando a porta se abriu confesso que, por alguns segundos, fiquei confuso.

    Um garoto com cabelos cor de mel, franja de Justin Bieber, camiseta branca, jaqueta de couro preta e jeans rasgados me atendeu. Tinha um sorriso leve, e me analisou por um tempo. Mas atrás dele, havia outro garoto, exatamente igual, porém com roupas muito diferentes. Esse usava uma camisa florida, shorts vinho e o cabelo jogado para trás, em um topete. Me senti um estúpido até perceber que eram gêmeos.

     - Trouxe o último do quarto, caras.- falou Wade, me empurrando para frente e sorrindo, como eu se fosse um presente para o Imperador Chinês.- Este é Thomas.

     - E aí?- falou o gêmeo de trás, se aproximando.

     - Beleza?- respondi, acenando com a cabeça. Não sabia se eu entrava ou ficava ali até Wade dizer mais alguma coisa. Foi um momento estranho.

     - Então, estamos desfazendo nossa mochila e... Guardamos uma cama para você.- disse o mesmo gêmeo, quebrando o silêncio. Ele parecia comunicativo e sorria enquanto falava.

    - Beleza, obrigado.- falei, puxando minha mochila para dentro, rapidamente.

     O quarto era básico. Haviam duas beliches, uma janela, um aquecedor que parecia dos anos 90, quatro baús de madeira e uma cômoda com algumas roupas já jogadas dentro. Havia uma porta para um banheiro também.

     - Pode ficar com qualquer uma dessas camas.- falou o gêmeo de topete.- O nosso outro colega de quarto teve uma diarréia e foi embora praticamente cagando.

     Eu não estava esperando uma piada, e soltei uma risada muito espontânea. O garoto olhou para mim, surpreso. O outro gêmeo, de jaqueta, olhou para o irmão com um sorriso meio maroto, que não consegui decifrar. Falou:

     - Esse meu irmão piadista é o Nathan. E eu sou Tyler.- ele esfregou as mãos e continuou.- A gente promete que vai ser bonzinho com você. É só não confundir a gente.- e falou com voz mais séria a última parte.

    Parei de rir na hora, mas não consegui parar de sorrir. Olhei para as camas, evitando o olhar dos gêmeos. Como não os conhecia, não sabia se realmente estavam falando sério.

     - Acho que é difícil isso acontecer.- respondi, tentando normalizar meu tom de voz. Afinal, o estilo dos dois era praticamente inconfundível. Voltei a olhá-los.

     - Não quando estamos pelados.- falou Tyler, arqueando uma sobrancelha.

      - Isso é mentira, cara.- argumentou Nathan, apontando para a cueca. Eu ri novamente. Tyler fez uma cara de impaciente e se sentou na cama. Nathan deu de ombros, sorrindo e foi falar com Wade na porta, que tinha nos observado em silêncio por um tempo.

      - Pode deixar, Wade. Cuidamos dele.- falou ele, e os dois olharam para mim. Wade parecia protetor e saudoso, o que era esquisito, pois nos tínhamos conhecido há quinze minutos. Também olhava desconfiado, tentando descobrir se os gêmeos eram como aqueles outros quatro do chalé, se eram idiotas disfarçados.

      - Espero que sim.- respondeu Wade.- Esse aí é gente boa.- e olhou para mim mais uma vez. Eu geralmente gostava de ser o centro das atenções. Gostava de ser elogiado por pessoas honestas como adolescentes. Mas aquilo parecia "o meu filho está indo pela primeira vez pra escola". Wade estava me tratando assim e eu não sabia o porquê. Eu não sabia o que havia de errado comigo. Forcei um sorriso.- Nos vemos mais tarde, na Cerimônia.

     - Até lá.- falei por fim, e Wade se virou, desceu os degraus e desapareceu caminho acima. Nathan fechou a porta, e o vento cortante cessou.

Buracos no CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora