17 Pt. 01

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— Tirei a tarde para ficarmos juntos, o que me diz? Podemos ver um filme, depois faço um jantar...

— Você não sabe cozinhar! – lembrei-o - Eu faço o jantar!

— Não! Eu faço!

— Eduardo...

— Elena... – brincou – Você estará no meu apartamento, então, nada mais justo do que eu preparar o jantar para você.

— Então vamos para o meu...

— Nada disso. – interrompeu.

— Eu te ajudo, então.

— Não. Confie em mim. Tenho lasanha congelada!

Eu não sabia se ria ou se brigava com ele!

— Você me convida para jantar e me oferece comida congelada? – brinquei.

— Podemos sair para jantar! O que prefere?

Eu tinha que perguntar, talvez não fosse a melhor hora para isso, mas eu precisava saber. Assim que paramos na frente de nossas portas, questionei:

— O que você pretende?

— Como assim, Elena? Não entendi sua pergunta.

— Essa atenção toda comigo, Eduardo... Você deixa de trabalhar para me dar apoio, fica o tempo todo me convidando para jantar com você, passar o dia com você e...

— Então é isso! – sorriu decepcionado – Eu... eu só quero que você se sinta bem, Elena. Sei que tem passado por momentos difíceis e precisa de apoio. É isso que os amigos fazem, não é? Dar apoio?

— Eduardo, eu...

— Pensou que eu estava "dando em cima" de você? – interrompeu – Natural ter pensado isso. Você é uma mulher linda, inteligente, independente... mas acredite, Elena, não quero me envolver com ninguém por um bom tempo.

— Não fique chateado comigo.

— Tarde demais.

— Eduardo, por favor...

— Fique bem, Elena. – disse abrindo a porta do apartamento dele.

— Você disse que tirou o dia para ficar comigo...

— Mudei de ideia. Prefiro ficar sozinho.

Um tapa na cara e um chute no estômago não teriam doído tanto quanto aquelas palavras. Segui o conselho de Igor e acabei magoando Eduardo. Como pude ter sido tão egoísta? Como pude ter tido coragem de perguntar aquilo sem pensar antes?

Passei as próximas seis semanas trabalhando de domingo a domingo, sem folga, sem dar tempo para me arrepender do que fiz e, infelizmente, sem encontrar meu vizinho, sequer no corredor do prédio. Há mais de um mês não o via e estava morrendo de saudade. Inúmeras vezes pensei em bater na porta dele, mas tive medo da sua reação. Preferi ficar na minha.

Estávamos no auge do inverno. Me lembro bem do frio que senti com o corpo encharcado pela chuva gelada que caía naquele fim de tarde. Prometi a mim mesma que nunca mais caminharia no inverno, mesmo que tivesse sol, como naquele dia. Fiquei quase dois dias de cama, sem conseguir me mexer até Lua aparecer para ver o que estava acontecendo comigo. "Estamos preocupados, Anna. Igor disse que você não foi trabalhar". Ela disse quando me ligou.

— Estou bem, Lua. É apenas uma gripe.

— Já foi ao médico?

— Se eu conseguisse me mexer, teria ido.

— Eu vou aí, tá bom?

— Não precisa. Estou bem.

— Tá bom. Eu vou me certificar de que você está bem!

Quase uma hora depois ela tocou meu interfone, abri a porta e a esperei. Não deveria ter feito isso. É claro que eu queria encontrá-lo, mas não daquele jeito: com cara de morta-viva, descabelada, sem um rímel nos cílios...

— O que você tem? – questionou ao dar de cara comigo.

— Só uma gripe.

— Pois parece ser mais sério que isso. – comentou com sua voz doce – Já foi ao médico?

— Ainda não.

— Está esperando o quê? Preciso ir à uma editora agora, mas quando eu voltar, te levo ao hospital, pode ser?

— Não precisa, Eduardo. Obrigada.

O que estava acontecendo comigo? Claro que eu queria os cuidados dele! Óbvio que eu o queria por perto, mas ao invés de aproximar Eduardo de mim, eu estava o afastando mais...

Algum DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora