Ananda - I

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- Wingardium leviosá – comentou Diogo, gesticulando no ar com as mãos e encarando Ananda com um sorriso de meia boca.

Ananda logo compreendeu.

- É leviôsa, e não leviosá. –

Riram.

Diogo aproveitou o momento para passar a mão na cintura de Ananda, afagando suas costelas com o polegar.

- Acho que, com esse, completo os cinco feitiços. Passei no teste? –

Puxou para mais perto de si o corpo de Ananda, que parecia não se incomodar.

- Bem, você não acertou a pronúncia desse último.-

- Como não? Só não vou questionar porque não estou com minha varinha aqui para te mostrar. –

Riram novamente.

- Vou fingir que o que você falou não foi uma metáfora – disse Ananda, passando seu braço direito pelo braço esquerdo de Diogo, forçando-o em uma caminhada.

Por alguns segundos, houve um silêncio de ambos. Deram alguns passos arrastados, meio abraçados, até encontrarem o tronco de uma árvore para escorar.

Não estavam tão afastados do acampamento. Ainda se viam as cores quentes da fogueira e o cintilar de suas faíscas. Ainda se ouvia os tons fortes, rápidos e melodiosos do violão, e as vozes quase uníssonas dos presentes naquela roda.

Ananda virou a cabeça para observar os que ainda se encontravam no acampamento, sentida por ter que deixar Ana sozinha ali.

Diogo pareceu entender aquele olhar perdido.

- Ela ficará bem, o Carlos é uma ótima pessoa. –

- É com essas ótimas pessoas mesmo que eu me preocupo – respondeu instintivamente, sem controle das palavras que lhe saíram da boca.

Corou, assim que percebeu o que tinha falado. Era um infeliz costume seu, falar antes, pensar depois. Sempre impulsiva, impetuosa...

-... doida. –

- O quê? – retrucou Ananda, constrangida com o que tinha falado, mas indignada com o que tinha acabado de ouvir.

- Eu falei que o Carlos é do bem, apesar de ser uma pessoa doida! –

- Ah, sim – suspirou – Por um momento achei que você que estivesse me chamando de...-

- Doida! – interrompeu Diogo, com um risinho sarcástico – Mas isso também é verdade! Como que você sai assim, do nada, com um desconhecido? –

Dessa vez, Ananda não se ofendeu, até achou engraçada a argumentação.

- Doidos, melhores pessoas, não acha? – respondeu – o que é uma pessoa normal se não alguém que contém suas loucuras?

- Uau, nerd, doida e ainda é filósofa. Onde você esteve todos esses anos? –

Ananda o encarou, com um olhar subitamente sério.

- Se começar a me chamar de amor eu volto agora para o acampamento –.

Diogo ficou sem reação.

- Juro solenemente que não farei nada de bom – enfim falou, com um sorriso tímido, tentando quebrar o gelo que criara.

Ela riu. Achava engraçado, e irônico, a forma como ficavam na defensiva.

- Em vez de ficar falando, poderia me mostrar que truques sabe fazer com sua varinha – gracejou, curiosa para saber qual seria a reação do rapaz.

Escorpiões de AreiaOnde histórias criam vida. Descubra agora