Capítulo 1

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Brianna McGregor

Os olhos de Holly estavam arregalados. O verde intenso demonstrando confusão e medo enquanto ela tentava manter as feições neutras, como se assim pudesse esconder de mim o quando minhas palavras a tinham deixado assustada.

Eu não poderia mentir para ela, porém.

Em momento algum tinha passado pela minha cabeça a opção de esconder a situação dela. Eu não pensei sobre como ela poderia se sentir. Na verdade, era uma questão prática. Eu não poderia esconder a verdade dela quando nós logo seríamos obrigadas a encarar a realidade.

Ela já sabia que havia algo errado e perceberia que a casa tinha sido invadida assim que visse o primeiro homem desconhecido apontando uma arma para alguém que ela conhecia. Eu só tinha adiantado as coisas contando que os invasores eram afegãos.

Como eu sabia que tinham sido eles, talvez fosse uma questão um pouco mais difícil de explicar.

Eu tinha escutado som de passos e o barulho de uma pessoa caindo. Aquilo não era nada comum na Casa Branca. Então eu tinha ouvido uma voz sussurrada falando no mesmo idioma que eu tinha escutado tantas vezes enquanto estava consciente nas últimas semanas. Um idioma cujas palavras eu poderia nunca entender, mas de cujo ritmo eu nunca me esqueceria. E não precisei de mais nada para puxar Holly pela mão e me esconder com ela dentro do primeiro cômodo que eu encontrei, que acabou sendo uma sala de estar bem no extremo leste da casa, com vista para o jardim. Eu não tinha realmente visto um afegão, muito menos reconhecido um rosto, mas eu soube o que estava acontecendo no momento em que ouvi alguém falar o idioma deles. Eu simplesmente sabia.

Assim como eu sabia que o chefe de gabinete do presidente estava morto naquele momento, caído sangrando em algum lugar do corredor.

E não importava se eu estava afastada do exército por motivos médicos ou se o presidente me queria longe de qualquer uma das forças armadas por causa das minhas mentiras quando fingi ser o meu irmão. Tudo o que eu queria era sair daquela casa e levar a minha amiga para um lugar seguro.

Nada no mundo me faria voltar a ficar presa nas mãos dos afegãos outra vez. Eu preferia morrer a deixar isso acontecer de novo. E eu nem precisava olhar na direção de Holly para sentir um nó se formando na minha garganta só de pensar na possibilidade de ela passar por tudo o que eu tinha passado nas mãos deles, talvez até por algo pior.

Não, eu não podia deixar aquilo acontecer com ela. Eu precisava tirar nós duas dali.

Mas eu precisava ser cuidadosa. Se os afegãos chegaram até nós com tanta facilidade no que deveria ser a casa mais segura do país, com seguranças e agentes por todos os lados, isso com certeza significava alguma coisa. E com certeza significava que sair dali não seria tão fácil quanto só andar até a porta da frente e atravessar o jardim principal. Àquela altura os afegão provavelmente já tinham tomado todo o primeiro andar da casa, ou pelo menos todas as saídas conhecidas, e estariam subindo para o segundo andar, que era onde nós estávamos.

Talvez tudo aquilo tivesse alguma coisa a ver com o traidor no exército americano. Porque invadir a Casa Branca com certeza não era nada fácil para quem não tinha alguma ajuda interna.

E, só porque eu não tinha conseguido contar para ninguém sobre o traidor e quem ele era, não significava que ele não existisse ou que ele tivesse parado de trair o próprio país da noite para o dia. Aquilo só significava que eu era a única que sabia a verdade sobre as ações dele.

Eu pensei por um instante que o fato de eu saber exatamente onde aquele homem estava não tinha me ajudado a impedir que ele abrisse o caminho para a invasão dos afegãos. E me odiei por isso.

Transformada pela Guerra (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora