Mas voltando a realidade, o relacionamento que eu tinha com Lorenzo, já não era mais o mesmo. O nosso conto de fadas estava indo para o brejo. E eu não sabia como sair dessa. Sei que a culpa não é só dele, mas de uma certa maneira, era isso que eu queria pensar. Acho que me sentir culpada por ter um casamento fracassado, não era o sentimento que eu gostaria de ter no momento.
Relembro tudo que vivemos e fico pensando, onde foi que eu errei. Tento ser a esposa perfeita, uma mulher independente, divido as contas e sempre procuro ter meus cabelos e unhas impecáveis. Mas as vezes isso tudo, perde o sentido. Parece que falta emoção na minha vida, estou vivendo em um filme preto e branco, sempre a espera de algo novo acontecer. Pior de tudo, que eu não faço ideia do que eu estou esperando. As vezes gostaria de sentir aquele frio na barriga ao ver o Lorenzo, de ter vontade de me isolar em uma ilha, somente com ele. Mas isso já não faz parte de mim.
Voltei do mercado, com as mãos tremendo e sem nenhuma compra. Ou seja o almoço, não teria como ser feito. E mesmo querendo voltar ao mercado, minha consciência não permitia. Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Porque sair do mercado correndo Aurora??? Respirei fundo e tentei me acalmar. Resolvi pagar o almoço em algum restaurante, e arrumar qualquer desculpa, pelo almoço não feito.
Deitei na rede, para esperar minhas amigas. Peguei meu celular, e decidi ligar para o Lorenzo. Após duas tentativas mal sucedidas, resolvi mandar uma mensagem para ele:
-" Oi amor, onde você está? Tentei te ligar duas vezes. Tudo bem? Quando puder me liga. Afinal, não nos falamos desde a minha chegada na praia. Beijos"
Em seguida recebi o retorno:
-" Não posso atender, ligo quando puder."
Curto e grosso, junto com um balde de água fria.
Quando minhas amigas voltaram da praia, contei a novidade, de que iríamos almoçar fora, e que seria por minha conta.
Por uma sugestão, fomos ao um restaurante maravilhoso, ao som de Bob Marley. Simples porém muito convidativo a você esquecer o mundo louco que tem lá fora, e curtir os pés na areia contemplando a imensidão do mar. O telhado era coberto de sape e fotos das praias que os donos haviam visitado, estampavam as paredes do charmoso restaurante. Fiquei admirada, pela volta ao mundo que eles deram. Um casal simpático, que abdicara da vida de estresse e correria, para viver mais sossegados na praia. Ao conversar com eles, me contaram que não foi de uma hora para outra que tomaram a decisão:
- Quatro anos antes da nossa mudança. Começamos a economizar. Fazíamos tudo em casa, trabalhávamos muito, e guardávamos qualquer tostão. Minha esposa era médica intensivista e eu administrador de uma grande empresa em São Paulo. Nossos salários eram muito bons. E conseguimos juntar o suficiente para começar uma nova vida aqui - me falou Ricardo, o marido.
- E nosso grande impulso, foi que eu estava tentando engravidar e não conseguia. Fizemos todos os exames possíveis, e a única conclusão que chegamos, foi que o culpado pelo minha infertilidade era o estresse. Já estava com 33 anos, e tentando desde os 31. - a esposa comentou - após nossa mudança engravidei da minha primeira filha, três meses após minha chegada. Vendemos nosso apartamento, e compramos uma casa aqui. Decidimos que ficar completamente parados, também não seria o mais saudável. Foi aí que surgiu a ideia do restaurante. Hoje cuidar desse lugar é um hobby. Tenho duas meninas, das quais pude acompanhar todo o crescimento. Se eu estivesse trabalhando naquela loucura do hospital e consultório, veria minhas filhas crescendo apenas pelas fotos que a babá iria tirar. E quando podemos, viajamos para conhecer outras praias tão fantásticas como a nossa.
Delicadamente o marido abraçou-a e falou:
- Não existe no mundo dinheiro que pague isso, você acordar e ter uma paisagem linda no seu quintal, não estar sempre atrasado, não ter que enfrentar filas quilométricas para chegar ao trabalho. Vale muito a pena abrir mão de algumas coisas, para ter uma vida feliz.
