Capítulo sem título 4

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- Escute, Clari - Odeio o fato de ter sentido tanta saudade de ouvi-lo dizendo meu nome. - Você acha que a gente consegue colocar toda aquela merda para trás e começar de novo? Eu realmente quero voltar. E achei que você iria querer também.
A expressão dele é ilegível. Já vi isso antes, toda vez que confiei nele, terminei com o coração destroçado.
- Quer começar de novo? - Solto uma risada - Mas é claro, porque não, né? 

- Não precisa ser assim.

A questão é que não estou sendo sensata. Se eu não estivesse com tanta raiva, eu iria.
- E como seria? - As palavras saem automaticamente. - Por favor, Alex, me fala. Afinal, não era você que tomava todas as decisões sobre nosso relacionamento? Como quer brincar dessa vez? Coleguinhas? Uma rapidinha nos fins de semana? Inimigos? Ah, espera, já sei! Por que você não banca o mestre dos magos e some, e eu faço a mulher que não quer mais lembrar que você existe, que tal?
Sua expressão muda totalmente.

Está bravo. Ótimo.
Eu entendo.
Ele balança a cabeça. Estou esperando ele gritar, ou algo do tipo, mas ele não faz nada.
- Nada do que eu disse nos meus e-mails significou alguma coisa pra você, né? Achei que a gente podia ao menos ser capazes de conversar sobre o que aconteceu. Você leu? - Ele fala pausadamente. 
- Sim, só não acreditei. Eu tenho um limite para a quantidade de vezes que posso engolir suas idiotices sem vomitar. Como é o ditado? Errar é humano, mas persistir no erro é.. ?
- Não estou mentindo pra você dessa vez. No passado, fiz o que achava certo para nós.
- Tá brincando? Você quer que eu cite todos os acontecimentos? Foi por mim?

- Não - Sua voz está mergulhada na tristeza - Claro que não. Eu só .. 
- Quer que eu dê outra chance para você acabar comigo? Quão idiota acha que sou?
Ele abaixa a cabeça.
- Quero fazer diferente. Se quer que eu me desculpe? Eu faço, até ficar rouco. Só quero que as coisas fiquem bem entre nós. Fale comigo. Me ajude a consertar isso. 

- Não dá.
- Clarisse .. 

- Não, Alexandre! NUNCA MAIS.
Ele se inclina para a frente. Está muito próximo. Próximo demais.

Tem o cheiro que costumava ter, e eu não consigo raciocinar. Quero empurrá-lo para longe para eu poder esfriar a cabeça. Ou bater nele até que ele entenda que não sou feliz há anos, e é tudo culpa dele. Quero fazer tantas coisas, mas tudo o que eu faço é ficar paralisada.

Sua respiração está tão ofegante quanto a minha. Seu corpo, tão tenso quanto. Mesmo depois de tudo o que passamos, a atração que sentimos um pelo outro ainda nos tortura. Como nos velhos tempos.

Graças a Deus a porta no fim da escada se abre e vejo Cody com uma expressão confusa.
- Com licença, está tudo bem? - Alex se afasta de mim e passa os dedos no cabelo.

Minha respiração está pior, superficial.

- Sim. 
- Tudo bem, então - Ele se anima. - Só para que estamos prestes a começar.

Ele desaparece e de novo somos apenas nós. Nós e o monte de merda que podemos carregar.
- Estamos aqui para um trabalho - começo, com a voz firme - Vamos apenas trabalhar.

A sobrancelha dele se franze e a sua mandíbula enrijece, e por um segundo penso que ele não vai deixar por menos, mas ele diz:
- Se é o que você quer.
Eu me afasto e passo a mão pelo cabelo.
- É, sim.

MENTIRA!!
Ele concorda e, sem dizer outra palavra, desce as escadas e entra pela porta. Levo um momento para me recompor. Meu rosto está quente, o coração acelerado; eu quase dou risada quando penso como já estou envolvida por ele, e ainda nem começamos a trabalhar. As próximas quatro semanas vão me sugar mais energia que um buraco negro.
Eu me endireito e sigo para a sala de ensaios.

Quando chego para pegar a pauta e água, há apenas uma cadeira sobrando na mesa de produção, e naturalmente é ao lado de Alexandre. 

Eu a puxo para o mais longe possível e afundo no plástico desconfortável.
- Tudo bem? - Ava pergunta e levanta uma sobrancelha.

- Tudo em ordem - Respondo com um sorriso, e é como se eu estivesse de volta ao primeiro ano da faculdade de publicidade, dizendo o que os outros querem ouvir para que fiquem felizes mesmo quando eu não estou. Fazendo uma propaganda falsa de mim mesma.
- Então vamos começar, né? - Ava anuncia, e há outro farfalhar de papel quando todos abrem as pautas.
Que ideia maravilhosa. Todas as boas histórias precisam de um ponto para iniciar.

Porque a nossa seria diferente? 

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⏰ Última atualização: Jun 03, 2018 ⏰

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