Capítulo 2.

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Assim que consegui chegar no final dá rua onde minha faculdade fica localizada, abri o meu aplicativo do Uber e pedi que um carro viesse me buscar. Não estava nem um pouco afim de ouvir as perguntas do Luiz, do tipo " O que está acontecendo? Você está bem? " A verdade é que eu não queria ouvir pergunta nenhuma, não queria falar com ninguém.

O carro chegou em 2 minutos, ele estava bem próximo de mim quando o pedi. Entrei, e resolvi abrir mais uma vez a foto que me abalou tanto.
Era um print de uma reportagem, na qual o título era " Manuela Velasco, a garota problema é vista aos beijos com a amiga Júlia Nunes, nesta madrugada em uma balada em SP." E havia uma foto de nós duas se beijando num canto daquela maldita boate.
O texto dizia coisas horríveis. Como "Será que a nossa queridinha garota problema está mudando de gosto, e acabou virando Lésbica? Quando será que ela irá assumir sua homossexualidade? " Entre outras coisas desnecessárias. Não que eu tenha problema com isso, não mesmo. Não sou homossexual, mas não tenho nenhum tipo de preconceito quanto a isso. Eu sempre beijo algumas garotas nas baladas, Júlia e eu sempre nos beijamos quando estamos bêbadas, e eu já até fiz sexo com uma garota. Mas de qualquer forma não me considero bissexual nem nada do tipo. É só por diversão, tudo não passa de uma brincadeira. Eu sei que dizendo assim, não tem motivo aparente então para o meu desespero para com a reportagem, já que não tenho problemas com isso e já estou acostumada com a exposição, era pra estar tudo OK, certo?

Errado! O problema não é por mim. É pela Júlia. Ela é filha de um médico muito conceituado na cidade, que é conhecido pelo seu jeito arcaico e rígido de ser. Ele é extremamente rigoroso, mesmo com a sua filha já com vinte e um anos, ele a proíbe de sair e a obriga a estudar 5 horas por dia. Todos os dias. Não é atoa que Jú, já está no quarto ano de medicina dá usp. Ela nunca perde um dia de aula, até estranhei não ter cruzado com ela nos corredores dá universidade como sempre. Júlia nunca quis cursar medicina, ela sempre quis ser atriz, e digamos que é visível essa veia artística que a minha amiga possuí, mas ela acabou cedendo a pressão de seus pais e passou em primeiro lugar para medicina. Acontece que ela sempre faz a vontade dos pais, tanto que sempre saímos escondido. Como ontem, que ela disse que iria dormir na minha casa pro pai dela, e agora fica mais fácil de entender o por que dá preocupação dá garota né? E o por que dá minha preocupação. O pai dela vai nos matar! Ele já não queria mais que nós fossemos amigas, imagina agora então?

Nós somos amigas de infância, nossos pais são amigos desde jovens e consequentemente viramos amigas, ninguém nunca tinha "desaprovado" nossa amizade, até que eu comecei a sair nas revistas e comecei a ser vista como uma má companhia para Jú. Seus pais fizeram de tudo para nos afastar, mas nós conseguimos contornar a situação e fizemos com que eles aceitassem a nossa amizade. Mas agora com isso, já era. Estamos perdidas. O pai de Jú é a pessoa mais preconceituosa que existe, por ele os negros ainda estariam sendo escravizados até hoje. E sobre os gays? "Os quero bem longe de mim." É o que ele diz quando questionado.

Liguei pra Júlia que atendeu já choramingando.

— Oi, amiga. Você viu? - perguntou ela. Sua tristeza era perceptível mesmo que por trás dá linha.

— Sim miga, eu vi. Cara, o pessoal dessa revista são uns idiotas, como podem fazer isso? Vou conversar com o Pedro hoje mesmo sobre isso, iremos dar um jeito.

Pedro era o empresário e o dono dá assessoria do meu pai. Ele cuidava dá imagem tanto do meu pai, quanto de toda a família Velasco.

— Whatever. De qualquer forma meu pai já deve ter visto isso, já deve estar furioso e com toda a certeza vai me proibir de falar contigo. Conhecendo ele como conheço, é capaz de ele conseguir um mandato, pra que você fique no mínimo a 10km de distância de mim.  - disse Jú, rindo um pouco.

Cartas Para ManuelaOnde histórias criam vida. Descubra agora