Capítulo 3.

20 1 0
                                    

— Só vim te dar isso. Mais uma pra sua coleção. - Falou meu pai em tom arrogante e jogou a revista em mim.

— Pai. Me desculpa - pedi em total arrependimento. Lá estava eu, mais uma vez, o desapontando como sempre.

Ele me olhou com desprezo, virou as costas e entrou em seu quarto batendo a porta atrás de si.

— Boa noite papai. - sussurrei triste, encostando a cabeça na porta e ali ficando por alguns segundos.

Demorei mais do que o normal para fechar a porta e me virar de volta para Júlia. Sentia que ia desmoronar a qualquer momento, mas sabia que tinha que ser forte, então suspirei fundo, me joguei na cama, coloquei o meu melhor sorriso no rosto e disse dá maneira mais sincera que pude dizer.

— Bora continuar a maratona miga?

— Ei, a mim você não engana ok? Sei que não está bem. Mas relaxa. Tudo isso vai passar. Nossos pais são uns velhos gagás. - disse Jú, rindo.

— Tudo bem amiga. Vamos voltar a série. - respondi tentando soar tranquila.

Não importa o tanto que eu tente disfarçar, Júlia sempre vai saber quando eu não estiver bem. E vice-versa. Creio que em outra vida nós fomos irmãs, por que não é normal nos conhecermos tão bem assim.

Não é normal nós nos amarmos tanto assim...

Depois de uns três ou quatro episódios eu acabei dormindo. Na verdade, tentando dormir. Afinal Júlia ronca como uma porca, as vezes tenho vontade de enfiar o travesseiro na cara dela pra ver se ela para de roncar um pouco.

Acordei com uma certa Júlia pulando em cima de mim, literalmente pulando.

— Oh garota, por acaso tenho cara de pula-pula? Sai de cima de mim infeliz. - Berrei tentando parecer brava, mas sem conseguir disfarçar a vontade de rir.
Esse é o nosso jeito "carinhoso" de se tratar normalmente.

— Cala a boca bicho preguiça, eu acordei às 7hrs dá manhã, já tomei café, já andei igual barata tonta por toda essa casa enorme, já corri uma maratona e você ainda tá dormindo. - Berrou ela de volta, abrindo as cortinas do meu quarto, ao que instantaneamente eu cobri meus olhos, que ardiam com a luz solar.

— O que você quer? Ainda são.. - procurei meu celular e o desbloqueei para olhar a hora. - São só 11hrs garota, tá muito cedo, praticamente de madrugada, deixa eu dormir. - bufei e ela bufou de volta com sarcasmo.

— Miga, pelo amor de Deus, a gente dormiu a mesma quantidade e eu tô aqui, super disposta. Vamos aproveitar o dia, tá um dia lindo. Por favor. - implorou, fazendo biquinho.

— Primeiro que "dormimos a mesma quantidade" uma ova! Você dormiu. Eu tive que ficar aguentando seu ronco, quase enfiei uma rolha dentro dá sua boca.. E segunda que, não adianta fazer esse biquinho, muito menos essa típica cara de gato de botas que não vai rolar. Eu vou voltar a dormir sim!! - disse virando para o lado e cobrindo a cabeça.

— Ok, então. Sendo assim vou embora para a minha casa. Não vim até aqui, nem perdi aula pra ficar olhando você dormir. - argumentou, fazendo drama.

— Ah, tá bom Júlia, o que você não pede sorrindo que eu não faça chorando. Pronto, já estou acordada. Satisfeita? - disse ficando em pé em um rompante.

— Sim, completamente satisfeita. Agora vai se arrumar e vamos pra piscina, por favor.

Sério, não sei como Jú consegue ser tão disposta assim, se eu tivesse ao menos um terço da energia que ela tem já estava ótimo. Por que meu esporte favorito é "cochilo sincronizado". Se existisse um campeonato chamado " Quem dorme mais" esse com certeza eu ganharia fácil. Muito ao contrário de Jú, que joga vôlei, faz natação, corre todas as manhãs, faz crossfit, mil e uma atividades, três tipos de dança diferente, muai-thai, e ainda treina uma hora por dia na academia.
Enquanto eu, só frequento a mesma uma vez por semana e olhe lá. E ainda só vou com a insistência da minha melhor amiga, por que se não, eu nem passaria pela porta daquele lugar.
Claro que ser ativa assim como ela é, tem lá suas vantagens. Júlia é dona de um corpo de dar inveja a qualquer um. Tem suas curvas bem delineadas, barriga chapada e com um leve tanquinho, bem definido e feminino, pernas e coxas torneadas, um bumbum na nuca, enorme, durinho e sem nenhuma celulite ou estria. Ou seja, um mulherão dá por**.

— Vai ficar jogando esse seu corpo escultural na minha cara com esse biquíni, sua escrota?- eu disse fingindo estar irritada por Júlia ficar desfilando de biquíni pelo meu quarto, enquanto eu procurava algo pra usar.

— Ah, nossa, como se seu corpo ficasse pra trás né? Já cansei de te dizer que você tem o porte de mulher elegante. E ser magra assim, a faz parecer ainda mais como aquelas gringas. - ponderou ela.

Whatever. Vamos logo pra piscina antes que o sol vá embora. - disse vestindo o primeiro biquíni que achei na gaveta e me olhando no espelho com reprovação.

Não que meu corpo seja realmente feio, não é. Mas a dificuldade para achar roupas que caiam bem sobre ele, e todo o bullying que sofri no ensino médio por ser magra demais, me fizeram ter um certo "ranço" do meu próprio corpo.

Júlia, esportiva como é, não esperou nem alguns segundos, e já foi logo se jogando na piscina, nadando como César Cielo. Já eu, sentei na espreguiçadeira para apreciar o sol, que naquele dia estava especialmente maravilhoso.
Coloquei meus fones de ouvido, óculos escuros, e fechei os olhos para curtir o momento.
Até que sou surpreendida, pela vagabunda, ou melhor, Júlia, tirando meu celular de cima de mim, e me jogando dentro da piscina, com óculos, chinelos e tudo. Foi tudo tão rápido que nem sei como eu caí, mas uma coisa é certa, não tentei me segurar por que aquela garota tem uma força descomun.
De imediato fiquei brava por que não queria ter que entrar na piscina, mas depois, quando Jú se jogou gritando (bola de canhão) eu caí na gargalhada, e nos divertimos muito, tentando afogar uma a outra de vez enquando, mas nós divertimos.

— Cara, sério. Você é a melhor amiga que alguém poderia ter. - disse Jú, enquanto me olhava com a carinha mais fofa desse universo.

Achei tão fofinha, e foi ao seu encontro pra dar-lhe um super abraço. Estávamos na ponta da piscina abraçadas, quando meu pai passou por nós, fazendo a pior cara de reprovação possível, e soltando um "que nojo" enquanto saia.

Não consigo entender, por que tanto preconceito? não estávamos fazendo nada demais, apenas nos abraçando. E mesmo que estivéssemos, isso não dá o direito de ninguém dizer algo rude ou nos tratar mal por isso.
O pior de tudo é que a cena que meu pai viu, mesmo que não fosse nada demais, na cabeça dele, confirmou tudo o que andavam dizendo por ai, o que me deixou verdadeiramente chateada.

                       _______

Olá pessoas!
Como demorei muito pra soltar o segundo capítulo, resolvi soltar esses dois de uma vez.
Voltei a escrever agora, depois de mais de um ano sem escrever, então peço que relevem se tiver algum erro ortográfico, ou de concordância. (Estou me enferrujada hahaha)
Bom, no momento pretendo dar mais atenção a essa história, que vem surgindo ideias novas sobre ela todos os dias nessa minha pequena cabecinha haha (-insira uma dose de sarcasmo aqui-)
Minha intenção é postar um capítulo por semana, e tentar fazer ela crescer ainda esse ano, então conto com o apoio de vocês. Quantos mais votos, visualizações e comentários tiver, mas capítulos irei e soltar e cada vez mais rápido. Tudo dependendo do engajamento da história. Conto com vocês..
Obrigada pela leitura! - Gabs.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 15, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Cartas Para ManuelaOnde histórias criam vida. Descubra agora