CAPÍTULO ÚNICO - O bobo da corte e sua majestade

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      - Ei, girafa, está na hora. Levanta dessa cama!

Ahn… Oi. Se você pensou em minha mãe parada na porta do quarto, tentando me acordar, está enganado. Essa é a voz da minha consciência depois que desliguei o alarme do celular. Ou será que sou só eu e minha imaginação?

      - Bom dia, querido. Olha, tem café pronto. Preciso ir porquê estou atrasada. Ah, a Eleonora ligou, disse que se mudou de volta. Você e a filha dela estudaram juntos...

Ah, sim! A voz tagarela. Essa sim é a da minha mãe. Depois do “...querido” tudo que ouvi foram três palavras, duas sílabas e uma letra. Deveria ter ido dormir mais cedo, mas não consigo.

Quando minha mãe sai é quando percebo que estou atrasado, muito atrasado para o colégio.

E não existe nenhuma vantagem em morar perto de onde estuda. Eu durmo tarde, acordo cedo achando que tenho tempo, e adivinha? Não tenho. Será que a desculpa do trânsito intenso ainda funciona?!

      - Trânsito intenso mais uma vez, Shawn?!
      - Por favor, tenha misericórdia... - falo num tom baixo, com um sorriso de canto.
      - Na próxima não vou retirar suas faltas.

Mesmo sendo uma professora mãezona, ela não simpatizava com atrasos. Acho que ela "vai” com a minha cara. É a única razão para abonar vez ou outra (com frequência) os meus atrasos.
A sala está organizada em grupos de cinco pessoas, menos o dos meus amigo. Ponho a mochila no chão, no meio do círculo formado por suas cadeira, onde estão as deles e me sento.

      - Ei Justin, terminei de compor aquele arranjo. Ficou muito legal.
      - Cara, depois a gente fala sobre isso. Já viu a novata?
      - Que novata?

Nem mesmo tinha terminado a fala quando ele apontava, sem nenhuma discrição, na direção dela. Morena, cabelo comprido, mas preso num rabo de cavalo alto, quase que de costas para nós. Bato na mão da mula do Justin para abaixar, mas o som “seco” do tapa ecoou pela sala como se não tivesse mais ninguém ou nenhum móvel nela. Sinto meu rosto queimar de vermelhidão, então me abaixo na cadeira, escorregando um pouco. Passei grande parte da aula tentando ver a novata mais de perto, mas como as carteiras estavam mal organizadas, sempre tinha alguém para cruzar na frente com a cabeça.

Na saída do colégio, sou abordado pela professora. Hoje é Sexta-feira, não pode deixar para conversa sobre meu atraso na segunda-feira?!

      - Shawn… Oi, querido. Espero que não tenha ficado bravo com a minha reclamação. Você é um bom aluno e...

Certo, 1x0. Enquanto isso, lá está ela, a novata, depois do portão. Que ótimo! Não vi o rosto dela, e agora só na próxima semana.

      - (...) Shawn?! - O que ela disse mesmo?
      - Ah! Tudo bem, eu não fiquei chateado. Err… eu preciso mesmo ir agora.

Quando chego no portão, ela já foi. 2x0 para você, professora. 2x0. Talvez agora eu tenha ficado chateado.

Aproveito que minha mãe não está em casa à tarde para estudar um pouco de violão. Só assim descubro um novo calo no polegar. Preciso dedilhar mais. Mais tarde, quando o Justin chega, jogamos no X-Box.

      - (...) Então, eu descobri que a família dela tem uma cafeteria perto do locadora do Steve.
      - A cafeteria nova?!
      - Você conhece outra cafeteria perto do Steve?!

Quer morder, cavalo?! O coico foi fraco, então morde.

      - Vamos até lá! - disse ele.
      - Lá onde?
      - Cara, você está com algum problema cognitivo?! Para de se masturbar todo dia. Seus neurônios estão saindo pelo esperma. Anda logo…

QUEEN, aquela que foi coroada.Onde histórias criam vida. Descubra agora