Capítulo 2

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  Por anos e anos de prática, pude controlar meus sonhos. Meus antigos pesadelos eram de mim me jogando de um penhasco, ou somente me jogando de um penhasco. Meu cérebro não usava criatividade alguma para a mudança de roteiro desses sonhos. Uma vez eu li que isso acontece porque seu coração está parando, então a sua mente cria um sonho para lhe fazer acordar. Vai saber do porquê né. Talvez minha mente quisesse que eu soubesse que eu poderia controlá-los. Foi então que em um deles; durante um dos segundos em que meu corpo sentia o ar contra minha pele enquanto eu caia do penhasco de sempre, eu disse;

— Não. — Indignada com tudo aquilo. Por quê eu deveria cair toda hora? Qual é o propósito de se sentir caindo, por mais que depois dos primeiros dias, a sensação fosse "gostosa"?

Nos primeiros dias a sensação não era tão "agradável..." Ao invés de sentir como se eu dissesse "Deixa, já acabou mesmo. Esse é só o fim de tudo que eu já vivi." — As sensações "gostosas" vieram após. — Eu sentia um enorme pavor, tentava de muitas formas esticar os braços para não cair. Isso quando não acordava sem fôlego nas madrugadas.

E no mesmo momento, no mesmo segundo em que neguei tudo aquilo, em que meu corpo sentia o ar contra meu corpo e eu estava caindo do penhasco, eu simplesmente parei no ar. Aflita, olhei de um lado para o outro. Pude claramente ver que eu estava fazendo o que eu queria, senti que eu poderia fazer o que eu quisesse, com a simples força de vontade, mas com um porém; Eu não posso sentir medo.

Agora, o mesmo corpo que antes sentia aquele ar contra a sua pele e sua vida indo embora, voa para onde bem imaginar. Luta com quem quer e tem o maior poder, o poder da criatividade. Só bastava querer e acreditar.

Mas hoje eu não sonhei com nada. Incrível como quem pode controlar seus sonhos, não pode controlar se quer ou não sonhar... Ou isso só acontece comigo mesmo.

— Filha, eu já estou indo, o pagamento da Elisa para o mês, está aqui. — A voz parecia ser da minha mãe, Carmen.

Crua. Era uma mãe exemplar, me ajudava com o curso nas segundas e quartas, não me deixa faltar nada, como ela dizia. Só havia alguns Problemas, cujo não iremos entrar em detalhes agora.

Fora estes, era a melhor mãe.

— Tá, mãe, bênção. — A lembrei, aceitando que fosse sua voz.

— Deus te abençoe. — Ela respondeu fechando a porta com calma. Imagino eu que tenha sido para impedir que tirasse meu sono.

Não preciso olhar as horas no relógio. Tanto minha mãe, quanto meu pai, saem às três horas da manhã.

Aproveitei que já estava deitada em minha cama, de olhos fechados, embarquei no resto das horas que eu tinha para dormir.

A madrugada estava fria, pouco me dava vontade de olhar para a janela. A estrada vazia me fazia imaginar coisas horríveis. Algumas que até poderiam ser comparadas com filmes de terror.

Não consegui dormir, por mais que eu quisesse. As gotas já gélidas acumularam tanto no travesseiro que reencostaram novamente em minha pele. Não consegui dormir, estava me sentindo assombrada pelos meus Problemas que não pareciam ser capazes de ser resolvidos.

O sol bateu em minha janela e só então pude me levantar, já não iria dormir mesmo. Minha motivação para me levantar foram minhas irmãs, e como pôde perceber, não estou escrevendo muito sobre uma delas... Esse era um dos problemas. Lorise está internada, por uma doença não muito "nível baixo" entre as mais perigosas... Câncer. Câncer. Como quando você mata uma formiga e sabe que está a matando, apenas isto. Seus pequenos ossos agora estão sendo quebrados. Não um por um, mas poderia ser cinco por cinco... E você nem se importaria com seu tão pequeno e inescutavel grito de dor. Tão insignificante não é? Quem se importaria?

Como Eu QueriaOnde histórias criam vida. Descubra agora