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— Humana, você parece nervosa. Seus batimentos cardíacos estão tão altos que não consigo nem pensar direito.

Amelie tinha uma orquestra inteira de tambores no peito.

— Estou bem.

O carro parou. O banco de trás ficou em silêncio. Loki bateu o punho fechado sobre o joelho.

— O que posso fazer para você se acalmar um pouco? Se sair assim você vai acabar...

— Nada. Vai passar.

— Ora, você me chamou para esse momento. Achei que estaria mais preparada. — Loki disse, mas ao perceber que Amelie ainda continuava com as mãos trêmulas sobre o vestido e olhando para o lado de fora, percebeu que não era hora para sarcasmo. — Você é a humana mais atraente que já vi e parece mesmo uma bruxa. Mística e bonita. Lembre-se disso quando sair do carro.

Amelie virou-se lentamente para ele, como se esperasse alguma piada nas próximas palavras.

— Confie em mim. Estarei do seu lado a noite toda. — Ele tomou uma das mãos da garota e a apertou para selar a promessa.

Amelie assentiu lentamente e abriu a porta.

Loki estava do lado de fora e segurou a cintura dela com pressão. Em algum lugar, Sympathy for the Devil começou a tocar.

— Eu gosto muito dessa música.

Amelie, conforme caminhava do lado do deus da trapaça, sentiu os olhos de seus colegas cravados nela. Ouviu ruídos de "quem é ela mesmo?" e outras frases invejosas, mas não se abalou. Loki sorria, encantador, enquanto mantinha firme as mãos entrelaçadas na garota. O cabelo negro caía sobre seus ombros realçando a palidez de seu rosto ovalado e as orbes marcantes. Parecia jovem e confiante.

— Amelie? — uma garota chamou, quando entraram no ginásio. Ela tinha cabelos rosa choque e usava um vestido preto rasgado em vários locais.

— Olá, Jane. Esse é Lou..

— Lord Louis. É um prazer conhece-la. — Loki curvou-se e tomou a mão da menina de cabelo rosa.

A garota nem mesmo disfarçou a boca aberta durante vários segundos.

— Senhoritas, se me dão licença vou buscar um drink. Essas festas coercitivas pândegas de recepção da maioridade humana são deprimentes. Preciso de álcool.

Ele beijou o topo da cabeça de Amelie e saiu de perto das duas.

— Então deu certo você evocar um demônio. — Disse Jane, animada. — Desculpa duvidar de você, minha amiga.

— Não é um demônio.

—Qual entidade é?

— Acredito ser Loki.

— Uau! — Jane sorria tanto que dava para ver seu piercing preto na língua. — Ele é muito gato.

— Sim, muito. — Amelie concordou, agradecendo a luz azul não mostrar que ela estava muito vermelha.

— Você não tem como evocar um íncubo para mim no fim da noite?

— Não é assim que funciona, Jane, eu já te expliquei.

— Seja como for, bom proveito. Vou sumir para deixar você aproveitar o deus dos ventos.

Amelie sorriu enquanto via a amiga se distanciar. O baile seguia sem nada de especial. Músicas da moda, os colegas de sua turma bem vestidos, garotas maquiadas e todos bebendo em excesso os drinks ralos com vodka ou Hennesy.

Alguns colegas passavam perto de Amelie olhando-a sem disfarçar, como inquisidores, contudo, nenhum se aproximou para conversar. Aos poucos ela percebeu que aquilo era meio idiota. Uma festa que parecia uma desculpa para movimentar o aluguel de vestidos e smokings da região não era assim tão legal como nos filmes.

— Seu coração ainda está acelerado, humana, o que houve? Alguém te perturbou enquanto fui me embriagar? — Loki reapareceu, sorrindo e passando o braço pelo ombro de Amelie, trazendo-a para seu peito como uma barreira protetora.

— Não, ninguém. Ninguém veio conversar comigo.

— E o que uma forma humanoide insignificante tem a dizer a uma bruxa como você? Não deve ser interessante.

— Você está certo. Não é interessante. — Amelie encostou a cabeça no peito do deus. — Eles nunca conversaram comigo, não seria agora o momento.

— Eles fazem o certo em não te perturbar com palavras mundanas. E além do mais, você está com o deus da linguagem. Podemos conversar sobre o que quiser.

Amelie sorriu e sentiu Loki beijar sua cabeça mais uma vez.

— Quanto tempo tenho com você?

— Ora, o que acha que isso é? Um conto de fadas? — Loki falava tão baixo que parecia falar dentro da cabeça da garota.

— Sim. Deve ser.

— Posso sumir a hora que eu quiser. O que talvez demore um pouco.

— Está gostando de mim, senhor deus da trapaça?

Loki a soltou, mas ainda a tomou pela mão.

— Chega disso. Venha, vamos dançar.

Educadamente Loki guiou Amelie para a pista de dança e uma música calma começou a tocar. Ele a envolveu pela cintura e trouxe para si, colando os corpos sem cerimônia.

— Quando é seu aniversário, mesmo? — perguntou o deus, com os lábios próximos da orelha da garota.

— Qual o motivo dessa pergunta, senhor Odinson?

O deus riu e fez Amelie girar lentamente na dança, olhando-a com uma malícia já aderente aos seus olhos azuis.

— Seria uma desculpa para lhe dar um presente.

— Ah sim, que agradável da sua parte. Não é que você possui um lado gentil? — Amelie riu e continuou com a cabeça apoiada no peito do deus. Um cheiro agradável de colônia envolvia seus sentidos. — Em alguns estados, eu já tenho a maioridade. Você sabe como são os humanos... cada pedaço do mundo tem leis diferentes.

— É um erro da sociedade de vocês não fazerem mais rituais de iniciação da vida adulta. Como vocês sabem se já estão velhos ou não? Vivendo por aí como crianças com rugas. — Loki disse, com os pés traçando o desenho perfeito de uma valsa. — Isso é o agravante das ansiedades que vocês desenvolvem.

Amelie riu. Continuaram valsando juntos calmamente até a música acabar. Ao final, Loki a olhou de um modo diferente do que havia olhado durante toda a noite, havia despido a malícia e agora aparentava afeto.

— Vamos dar uma volta por aí?

Loki beijou a testa da moça.

— Claro.

Amelie segurou a mão dele e o beijou na bochecha.


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caught in a lieOnde histórias criam vida. Descubra agora