magic

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— Uma coisa que não entendi nesse nosso contrato é: quando devo te dar minhas lágrimas?

Estavam sentados em um banco em frente a piscina olímpica, do outro lado da escola. A iluminação era baixa: luzes de emergência e luz lua que entrava nas vidraças. Haviam caminhado conversando sobre runas, rituais e uma marca de chocolate. Ambos percebiam que mil anos de diferença não impediam a coincidência de seus gostos.

Loki ficou em silêncio contemplando as ondas na piscina.

— Elas precisam ser espontâneas. Então, quando você chorar de alegria em algum momento.

— Se eu te dar, você vai embora?

— Sim. — Ele olhou-a. Não estava mais sarcástico, mas com o olhar distante.

Ficaram um tempo em silêncio. Loki havia conjurado algumas carpas esverdeadas na piscina e os dois ficavam vendo-as se moverem. Amelie aproximou-se de Loki e apoiou a cabeça no ombro dele.

— Obrigada por essa noite. Sua companhia, o vestido...

O deus ficou em silêncio.

— Preciso te dizer uma coisa. — Amelie disse. — Eu nunca quis evocar seu irmão, eu quis evocar você. Eu menti.

Loki desenhou um sorriso calmo.

— Sua trapaceira.

— Eu sabia desde o início que, para chamar um deus específico, você precisa agir especificamente.

— Você tem talento para o teatro, humana.

Amelie sorriu.

— Você acha? Por que não me ensina mais?

— Quer se tornar mais trapaceira?

— Quero ser como você.

O deus riu e desviou o olhar.

— Impossível.

— Por quê?

— Porque você é humana. Humanos são os seres mais frágeis do universo. Sempre pedindo por ajuda e fazendo idiotices. — Loki apoiou o peso nos braços atrás de suas costas, suspirou fundo. — Vocês nascem com um prazo de validade e trazem a morte no DNA. Como seres assim podem ser fortes? O pouco poder que vocês têm, usam para a maldade. E ainda culpam quem tem chifres.

Amelie desviou o olhar para as carpas.

— A grandeza não é relacionada a finitude. Você está errado. — Ela disse.

Loki olhou longamente para as costas da garota.

— Por que você acha isso?

— Você é arrogante. Mortais podem ser inteligentes e fazer coisas incríveis, serem poderosos e ajudar...

Bla bla bla. — disse o deus. Ele moveu o indicador para cima e a cobra de ouro que prendia o vestido de Amelie se transformou em uma cobra viva e dourada, enquanto que as correntes se uniram para amarrar o vestido de volta.

Amelie sentiu o toque gelado da criatura subindo pelas suas costas, se assustou, mas não tremeu.

— Você fala que sou arrogante e de mortais inteligentes. Já estou cansado de ouvir sua voz sobre o mesmo assunto.

A cobra começou a envolver o pescoço de Amelie, que ficou imóvel.

— Você critica os humanos, mas não existiria sem eles.

Loki se aproximou. A cobra ainda dava voltas no pescoço da garota.

— Isso foi a coisa mais idiota que você disse essa noite.

Amelie sorriu. Loki a olhava desconfiado.

— Você é muito estranha, humana. — Loki moveu o indicador e a cobra desceu pelo braço de Amelie, afinando seu tamanho até se tornar um bracelete de ouro.

— Eu sou uma bruxa que não tem medo do deus da trapaça.

— Deveria escolher melhor seus medos e deixar um espaço neles para minha raiva. — Loki segurou o rosto de Amelie com uma de suas mãos macias, se olharam com intensidade. — Minha vontade nesse momento era de ir embora e deixá-la aqui.

— E porque não faz isso?

Loki esboçou um sorriso afetuoso.

— Por que a trapaça ainda não se concluiu.

Naquele momento, Jane entrou abrindo as portas duplas do ginásio. Estava ofegante.

— Amelie! Amelie onde você estava esse tempo todo! Você precisa ir pegar o prêmio!

O quê?! — Amelie se levantou com ajuda de Loki.

— Você é a rainha do baile! Precisa ir buscar o buquê! Estão todos te procurando!

Amelie olho upara Loki, que a observava com ar de quem sabia de tudo.

— Mas... Loki, você vem?

— Você terá o rei do baile para te acompanhar.

— Não! Eu não quero um "rei do baile", quero você.

— Amelie! Vamos!

Loki, que já estava próximo, pousou as mãos na cintura da garota e a fitou com profundidade.

— Vá concluir sua trapaça, humana. — E se aproximou até beijá-la.

Amelie abraçou o deus com força enquanto ele a tocava com suavidade, pressionando a nuca da garota e envolvendo-a com seus braços longos. Ele tinha gosto de menta e cheiro hálito de licor. Amelie sentiu o estômago se contrair pela excitação, sentindo as mãos de Loki mexendo em seu cabelo e deslizando em suas costas como se ela fosse um instrumento musical.

Ao fim do beijo intenso, Loki beijou a testa da garota.

— Não vá.

— Você pode mentir para me apanhar de novo.

— E quanto as lágrimas? — Amelie disse com a voz falha.

— Eu sei onde encontra-la. Agora vá. — Ele apertou a mão de Amelie uma última vez e a garota se deixou ser arrastada por sua amiga, que ainda estava babando pela cena que acabara de ver. 

 

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caught in a lieOnde histórias criam vida. Descubra agora