Se Eu Acreditar Em Você

Capítulo 4

Acordar as vezes é um pouco complicado, pois quando você se levanta da cama é obrigado a bater de frente com o mundo e enfrentar todas as coisas que estão por vir no dia. Hoje como todos os dias, não me sinto pronta, mas me levanto mesmo assim.

Esse emprego no cinema já me ganhou só pelo fato de não ter que acordar cedo todos os dias. Vou até a geladeira e preparo algo pra comer e tem panquecas, e talvez esse seja meu almoço também.
Minha vida sempre foi uma aleatoriedade, eu não sou como as pessoas que se ocupam com coisas uteis no dia a dia, na maioria das vezes eu durmo ou fico em redes socias lendo porcarias.
Antes do meu pai morrer, eu costumava ter uma vida legal, eu ia a escola, tinha alguns amigos, e até praticava esportes, como tênis, corrida e natação. Eu me preocupava em me ocupar e me encontrar em algo pois eu achava que eu tinha que ser alguém de valor no mundo, mas então meu pai morreu de repente. Ele não bebia, não fumava, não fazia coisas estranhas e erradas, ele só tinha um emprego legal como empresário de algumas bandas e adorava mandar um som. Cursou medicina mas não quis ser médico pois ele dizia que ver a vida de alguém acabando o deixava angustiado e depressivo. Meu pai era uma boa pessoa e morreu de infarto me provando que a vida passa rápido demais e perder tempo com coisas uteis é besteira, pois só deixa a gente cansado e frustado na maioria das vezes.
E panqueca é uma coisa maravilhosa.

Primeiro dia de emprego e estou ansiosa. Chego no horário que o Sr. cooper pediu e vejo um garoto arrumando o hall do cinema, deve ser Jordan.
Me aproximo em silêncio dando um grito e ele se assusta.

-Wou garota, quer me matar?

-Desculpa. -digo em meio aos risos- eu sou...

-Summer. O Sr. Cooper me falou sobre você.

-Então, por onde começo?

-Como é o primeiro dia acho que me observando e fazendo o que eu pedir, vamos ficar grudados hoje.

-Só hoje? - eu disse em voz baixa e ele não escutou.

-An? O que disse?

-Assim está ótimo pra mim.

Certo, esse é o melhor emprego que eu arrumei durante toda a minha vida. Jordan é alto, e seu cabelo em um tom loiro escuro , é de dar inveja até em mim, pois é de um brilho maravilhoso e ondulado até o ombro. Ele tem músculos, mas não são exagerados e sabe se lá o que essa camiseta esconde. O estilo dele é bem garoto nerd skatista despojado, seus olhos não consigo ver muito bem pois estão escondidos atrás de um óculos de grau. Eu dou uns 20 anos de idade para ele, e se ele quiser, meu coração também.

-Bom, agora vamos ao trabalho.

Bem que eu queria que ele dissesse "agora vamos aos beijos".

A tarde foi passando tranquila, o cinema não teve muito movimento, eu não tive que limpar nada por enquanto, aprendi a fazer pipoca, vender e receber bilhetes. Acho que esse trampo é legal, a grana não é muita, mas dá pra segurar essa barra que está minha vida.

Me abaixo para pegar algumas coisas que deixei cair no chão e Jordan se aproxima, vejo em seu joelho esquerdo uma tatuagem: "é feio, eu sei", e isso é bizarro, pois o joelho dele é realmente feio.

-É feio, eu sei.

-Caramba, realmente é estranho demais.

-Um dia eu e meus amigos ficamos bêbados pra caramba, então eu não aguentei, acabei desmaiando e eu tenho um amigo tatuador, pra me sacanearem eles me deram esse presente maravilhoso.

-Pelo menos não é um pênis na testa, joelhinho.

-haha, muito engraçado. – então rimos juntos.

Agora são 10:00 da noite, as últimas seções de filme e estou na recepção. Distraída não vejo o próximo cliente e só vou rasgando os bilhetes que me entregaram.

-Olha só, é a senhorita não me acorde cedo.

-Ah, você. E aí?

-Não sabia que você trabalhava aqui.

-É que pelo visto você não sabe de muitas coisas, tipo, qual horário certo de ligar uma furadeira. – Odeio esse sorriso de tirar o fôlego que ele sempre dá. O plano dentário dele deve ser uma fortuna.

-Quanto rancor, vizinha.

-Tenham um bom filme. Boa noite. – Eu dei um sorriso forçado, mas queria mesmo dar um tiro.
Esse cara é muito babaca mesmo.

-Ex-namorado?

-Tá ficando louco, joelho?  Nunca.

-Vi os raios saindo dos teus olhos e atravessando o corpo dele. Ainda tem sangue nos seus olhos, quer um lencinho pra limpar?

-Bem que podia ser verdade, esse cara é um babaca, joelhinho.

-Preciso que você vá vender pipoca, preciso sair um pouco. Eu tenho uma dica pra você, ali tem um chocolate apimentado que deixa a pessoa com a boca pegando fogo por horas, se ele voltar para comprar algo, dê um desse a ele, é por minha conta.

-Leeeegal.  Valeu.

Passou alguns minutos até o Hunter voltar para comprar pipoca assim como Jordan disse.

-Um combo e um free refil, por favor.

-10 dólares.

- Obrigado, senhorita humor.

-Por nada, babaca.

-Oi? – queria ter dito isso em voz alta o suficiente para ele entender.

-Eu queria te dar um chocolate como pedido de desculpa por ter sido tão mau humorada com você: desculpa, Hunter. Esses chocolates são muito bons, então leve mais um pra sua namorada.

- Ah, obrigado...

-Summer.

-Obrigado, Summer. – Sério, o plano dentário dele deve dar pra pagar todos os meus aluguéis atrasados.- Quero soltar uma gargalhada de bruxa, pois esse plano foi magnífico.

Eu e Jordan, limpamos o cinema, eu fiquei com os banheiros e ele com as salas de filme e o hall. Foi tudo bem rápido e fácil.
Agora são 01:00 da manhã e estou na porta do apartamento procurando minhas chaves quando o elevador se abre e lá está ele: Hunter, O babaca.

-Boa noite.

-Boa noite. Como foi o filme?

-Não assisti. A menina que estava comigo comeu um chocolate apimentado, que por magia do destino você me deu, e tive que levar ela pra casa, pois a boca dela não parava de arder. Engraçado isso, né.

Eu não consigo conter as gargalhadas e Hunter começa a rir comigo.

-Muito. E o chocolate era pra você.

-Acho que sua vingança falhou, e como você é vingativa, ein. Tá me devendo uma transa.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAA, mais uma ordem de despejo. Caraca, será que esse cara não cansa de imprimir essas coisas?

-Problemas?

-Nada que eu não consiga resolver.

-Eu vi o síndico batendo na sua porta, mas você não estava.

-Eu estava, mas estou tentando fugir dele a duas semanas.

-Ah sim.

-Vou indo, boa noite de novo. – Eu soltei um sorriso sincero.

-Não vai me convidar pra entrar? - Estava demorando pra ser babaca de novo.

-Nem se você fosse a única pessoa que pudesse salvar a minha vida. Até mais.– Bati a porta na cara dele, e só ouvi um grito.

-GROOOOSSA.

-RÍDICULO.