1 - Joanna

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Era isso. Minha última aula do ensino médio havia terminado. Eu não sabia como estava me sentindo exatamente. Era uma mistura de felicidade com tristeza, saudade com liberdade, medo com esperança. Enfim, eu era feita de sentimentos naquele momento. E ainda assim, me encontrei fugindo dos meus amigos. Nós não planejamos uma despedida ou algo do tipo, teríamos a nossa formatura em duas semanas e prometemos que mesmo assim aquele não seria o fim da nossa amizade.

Mas eu sabia que era. Já havia conversado com pessoas que terminaram o ensino médio e só entraram em contato com os amigos no encontro da turma vinte anos depois. Então, mesmo que eu tenha prometido não ficar triste antes da formatura e manter contato com todos eles, eu já estava tentando adiar a nossa despedida furando o combinado que havíamos feito de lanchar pela última vez na cantina. Última vez. O quão triste parece ser essa frase? Esse foi o motivo de eu ter saído correndo da escola alegando estar com dor de barriga. Essa é uma ótima desculpa, aliás. Ninguém vai ligar pra sua mãe e tentar saber se é verdade mesmo, ninguém vai te seguir porque, bom, porque é nojento fazer companhia para alguém em uma situação dessas. E finalmente, todos irão acreditar e te dar um passe livre para casa.

Ok, eu era uma péssima pessoa por não estar desfrutando do nosso último lanche e talvez acabaria me arrependendo disso em um futuro próximo, mas eu não queria rir das piadas e logo depois sentir aquela melancolia ao pensar "poxa, momentos como esse nunca mais vão acontecer" ou então "agora vai cada um para o seu lado e eu nunca mais irei ouvir essas piadas". Essa seria para sempre a minha justificativa.

- O que você está fazendo em casa tão cedo? – minha mãe perguntou quando entrei como um raio na cozinha, abrindo a porta da geladeira e tirando uma garrafa de água gelada com a qual estava sonhando desde que comecei a correr. Esse é o resultado de ser sedentária.

- Recebi os resultados... – respondi entre uma respiração e outra enquanto derramava a água em um copo. – e passei direto, por sinal.

- Isso não era mais do que a sua obrigação, querida. – Jordina, mais conhecida como Jô e para os mais íntimos que saíram dela, ou seja, só eu, era apenas "mãe", comentou com a sobrancelha levantada antes de cair na risada. – Brincadeira, até que enfim você não ficou pendurada em nada, cansei de ir na sala da Poderosa Chefona.

Ri ao ouvir o apelido ridículo da diretora que havíamos inventado no oitavo ano e que havia se tornado uma febre entre os estudantes. Eu sentiria saudades da sensação de medo que tinha ao imaginar ela descobrindo que aquele apelido tinha surgido na minha casa.

- Ficar pendurada no último ano é pedir para morrer, imagina ver todos os seus amigos indo para a faculdade e ficar aqui sozinha? – senti um arrepio na espinha só de imaginar. – Credo, gosto nem de pensar.

Minha mãe sorriu ao mesmo tempo em que concordava comigo e avisou que iria começar a fazer o almoço. Prometi que desceria para ajudá-la depois de tomar um banho e fui para o meu quarto. Assim que entrei, porém, acabei ficando um pouco distraída ao ver o meu quadro de fotos. Ali estava marcado todo o meu ensino médio e eu já estava sentindo uma saudade enorme.

***

Meu celular tocou assim que terminei de almoçar e logo vi o nome da minha prima. Ela gritou algumas coisas desconexas quando atendi e pediu para que eu fosse até a casa dela – que ficava do outro lado da rua – porque precisava conversar com alguém urgente.

Revirei os olhos sofrendo antecipadamente com a crise que viria a seguir. A cada dois dias ela tinha algum motivo para desabafar comigo e por mais que eu gostasse um pouco dessa criatura que eu chamava de prima, minha paciência tinha um limite muito baixo para as crises de pré-adolescência que ela tinha. Às vezes eu me pegava perguntando se ela não tinha nenhuma amiga da mesma faixa etária que a entendesse.

In my bloodWhere stories live. Discover now