2 - Shawn

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Eu só queria umas férias da vida. Da minha vida. Aquela em que eu era cantor e tudo o mais.

Acho que a partir do momento em que você vira um artista, as pessoas esquecem que você é um ser humano. Depois de aproveitar todas as vantagens, chega a hora de ver os defeitos de estar nessa posição e o principal deles é ser tratado como um objeto para lucrar. Eu sempre tive o sonho de viver de música, foi exatamente por esse motivo que comecei a postar covers na internet. Eu queria ser reconhecido. Queria ver uma multidão cantando a minha música e sentir aquele arrepio de ter atingido o ápice da carreira. Queria ver minhas músicas em primeiro lugar no iTunes de vários países.

É claro que eu sei que todo cantor sonha com isso, mas eu estava no caminho certo e já havia alcançado grandes coisas. Só que não era do jeito que eu queria. Todas as minhas músicas eram escritas por outras pessoas baseadas em sabe-se-lá-o-que e aquilo não me agradava nem um pouco. Eu tinha músicas que havia escrito durante toda a minha vida e que marcavam cada momento que vivi, mas elas não tinham a mínima importância para o meu empresário. Como ele dizia, sentimentos reais não vendem, apenas aqueles com as quais as pessoas já estavam acostumadas. Traição, dor de cotovelo, amor não correspondido, saudade do ex, relacionamento perfeito e desapego.

Ninguém queria saber a história de um menino cansado de corresponder ao que as pessoas sempre estavam esperando dele. Ninguém queria saber de um menino desesperado para viver alguns momentos como alguém normal. Ninguém queria saber a história de amizades destruídas ou de homenagens aos amigos leais. Tudo girava em torno dos relacionamentos amorosos e eu já estava me sentindo um cantor de country.

De repente, percebi que estava infeliz. Tinha tudo ao meu redor, oportunidades, meninas, dinheiro, mas eu era obrigado a fingir ser quem eu não era. Minhas músicas faziam sucesso no mundo inteiro, estavam na boca de várias meninas espalhadas pelos continentes. Tudo estava acontecendo exatamente da forma que eu imaginava que aconteceria, mas eu não estava feliz.

"Você precisa encontrar um meio termo, uma forma de se expressar e ao mesmo tempo agradar à gravadora." Disse a minha psicóloga. Eu já havia conversado sobre o assunto com os meus pais e eles me recomendaram uma profissional, estavam percebendo o quanto aquilo estava me consumindo e eu, obediente como sempre tentava ser, fiz o que pediram. Foi uma das melhores coisas que já fiz. No início era complicado me abrir e eu ficava praticamente quieto quando não estava respondendo algumas perguntas que ela fazia, mas conforme o tempo foi passando, eu comecei a me sentir à vontade para dizer coisas sobre mim e, nas últimas semanas, eu já estava contando segredos que jamais havia dito a qualquer pessoa.

Nós tentamos encontrar uma solução para a minha tristeza. Fiz uma viagem para o México, conheci outras culturas e pessoas junto com a minha família. Mas ao voltar, tudo aquilo ainda estava me esperando. Um fim de semana não fez com que um milagre acontecesse, apenas me ajudou a deixar aquela história de lado por três dias. Então, Aimee, minha psicóloga, sugeriu que eu me envolvesse com alguém, ela achava que eu poderia me sentir melhor compartilhando aquele peso com alguém por quem eu estivesse apaixonado. Segundo a profissional, o amor pode nos ajudar a passar por momentos difíceis.

E eu tentei, é claro. Conheci várias meninas, mas acabei desenvolvendo um interesse maior por uma backing vocal da banda que me acompanhava vez ou outra na tour. Conversas para cá, carícias para lá, nós ficamos e aos poucos aquilo ficou mais sério. O problema foi que eu não sentia que podia confiar nela, não quando estávamos começando a nos conhecer e aquilo me deixou ainda mais incomodado. Qual era o motivo de ter alguém do lado para me ajudar se eu não conseguia confiar nesse alguém?

O resultado daquilo era de se imaginar. Não me entreguei o suficiente e um mês depois estava sem namorada e com uma backing vocal a menos.

- E aí, Andrew! – forcei um sorriso quando cheguei na sala do meu empresário. Ele fez um sinal para mostrar que estava no telefone e eu esperei até que ele desligasse. – Queria saber se a gente podia conversar sobre uma coisa...

In my bloodWhere stories live. Discover now