3 - Joanna

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Algo no rosto dele não me era estranho. Os olhos, talvez, mas eu não conseguia reconhecer aquele menino. Ele era alto, tinha um corpo definido, com braços que marcavam no moletom. Me obriguei a olhar de novo para o rosto dele depois de reparar em cada detalhe e fixei o olhar em seus olhos expressivos. Eles me encaravam com desespero, talvez esse tenha sido o motivo de eu não ter entrado correndo em casa e trancado a porta na cara dele.

Ou talvez tenham sido aqueles braços.

- Eu... meu nome é...

Ele começou a enrolar para falar o nome e aquilo não era um bom sinal. Comecei a abrir a porta novamente.

- Ih, olha, meu pai é policial, então se você está pensando em fazer alguma coisa pode esquecer porque é só eu dar um grito que ele já te mata na mesma hora...

O menino me olhou com os olhos arregalados e começou a negar rapidamente com a cabeça.

- Não, não é isso. - ele levantou os braços como se fosse encostar em mim, mas pareceu pensar bem e deu um passo para trás. As bochechas dele estavam cada vez mais vermelhas. - É que a sua tia me disse para vir aqui te procurar.

- Aimee? - foi a minha vez de arregalar os olhos.

- Isso.

Abri a porta e gritei, chamando minha mãe. O garoto ficou assustado, provavelmente estava pensando que um policial apareceria segurando uma arma apontada para a cara dele, mas eu estava em choque demais depois de ouvir o nome da minha tia para me importar com o medo dele.

- O que foi, filh... Opa. - minha mãe sorriu ao ver o menino parado ali. - Quem é ele?

Ela nem olhou para mim ao perguntar, então eu já sabia que ela estava medindo o garoto do mesmo jeito que eu fiz.

- Ele disse que a minha tia mandou ele vir aqui.

- Sua ti... Aimee? - minha mãe ficou chocada assim como eu e olhou para o menino, dessa vez o foco foi o rosto. - Você conhece a minha irmã?

- Sim, ela é minha psicóloga.

Minha mãe respirou fundo e olhou para mim de novo, parecendo não acreditar no que ouvia. Era difícil para mim também, minha tia não dava notícias há anos, nós nem sabíamos o que tinha acontecido com ela.

- Engraçado, ela não dá sinal de vida, mas manda um menino doido para a nossa casa... - ela ainda olhava para mim com os olhos meio nublados, como se tivesse perdida demais em seus pensamentos para enxergar qualquer coisa no mundo real. Se estivesse de olhos fechados, daria no mesmo.

- Mãe, nem todo mundo que vai ao psicólogo é doido, eu hein! - revirei os olhos e voltei minha atenção para o desconhecido que minha tia mandou para a gente. - Você quer entrar?

- Joanna, que educação foi essa que eu te dei? - minha mãe pareceu sair do transe. - Você nem sabe quem é o menino e já sai convidando para entrar em casa? Nunca mais te deixo sozinha aqui!

- Ai, mãe, pelo amor de Deus, pergunta logo qual é o nome dele então, eu estou mais preocupada com o fato de que a minha tia está envolvida nisso, mas se você...

- Shawn.

- O quê? - nós duas perguntamos juntas. Minha mãe parecia não ter entendido o nome e eu achava que tinha entendido bem demais. Bem demais para ser verdade.

- Meu nome é Shawn. Shawn Mendes. E eu preciso muito me esconder antes de alguém me reconheça.

***

Puxei um cookie do prato que minha mãe colocou na frente dele e tomei um gole de leite, tentando ainda assimilar tudo o que estava acontecendo.

- Então, você decidiu dar um tempo dessa coisa de música, é isso?

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⏰ Last updated: Jul 04, 2018 ⏰

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In my bloodWhere stories live. Discover now