Acordou mais perdida que de costume. Estava em sua cama, mas não sabia como tinha chegado lá. Tinha alguns lampejos de memória. Lembrava de estar em no carro do chanceler, estavam indo para o aeroporto. Ele lhe deu alguma droga, depois... Apenas vislumbres.
Lembrou-se, apenas um relance, de seu parceiro. Ele estava com o dedo na sua... Não, ele não faria isso. Devia ser um delírio. Abriu os olhos com dificuldade, seu corpo doía, sua pele estava ardendo. Olhou em volta, não havia cápsulas de NoBrain ou Op, então de fato ela não se drogou em casa, e o que ela lembra foi mesmo a sua operação no Distrito Baixo. Como será que terminou?
Levantou-se com alguma dificuldade, se apoiando nas paredes para andar. Para sua surpresa, Kleave estava dormindo em uma poltrona, os braços cruzados, a cabeça meio caída para o lado. Estava com a mesma roupa de ontem. A imagem dele, sobre ela, com a mão no meio de suas pernas, martelava sua mente. Decidiu passar um café antes de acordá-lo.
— Bom dia, parceiro. — Tocou de leve o ombro do homem com uma das mãos. Na outra, uma xícara com um liquido fumegante. — Obrigada por me trazer para casa.
— Ah... Não há de que, parceira. Escuta, sobre ontem...
— Fiz um café, está ali na cozinha. — Interrompeu. Ela não precisava que ele puxasse o assunto. Bastava a imagem distorcida em sua mente. — Afinal, como fomos ontem?
— Prendemos o cara...
— Mas...
— Mas o cara é um grande figurão da política do país dele, e...
— E provavelmente não poderemos fazer nada contra ele além de mandá-lo embora.
Kleavon concordou. Já era uma vitória, afinal de contas. Há duas semanas atrás nem isso tinham. E agora, bem, ao menos agora Júlio e as outras gangues tomariam mais cuidado. Voltou para o quarto e começou a se vestir.
— E se prendeu alguém mais lá? — Perguntou enquanto vestia o jeans.
— Pouca gente mais.
— Haverá outras oportunidades, Kleave. — Terminou de se vestir. — Vamos?
— Vamos.
Algum tempo depois, a porta do elevador se abria no andar dos detetives, liberando passagem para Jackie e Kleavon. Havia sido penduradas faixas e cartazes de "Parabéns pela operação" e "Mandou Bem!" por todo o caminho até sua mesa. De tanto em tanto, eram abordados por colegas com mãos prontas a apertarem e darem tapas nas costas. O último deles foi o próprio Capitão Lewis.
— Eu disse no início do ano que você era grande, Aeon. — Apertou-lhe a mão com carinho. — Meus parabéns pelo sucesso da operação. Aos dois, aliás. Por que foi seu parceiro aqui que organizou todo o bloqueio e a perseguição.
— Obrigado, chefe, — responderam os dois ao mesmo tempo.
— Agora... Voltem para suas mesas que eu quero esse relatório para já!
— E aí... Que tal comemorarmos mais tarde? — Perguntou Kleavon, digitando algumas palavras no computador. — Podemos tomar um chop naquele bar onde o pessoal vai, ou talvez...
— Você não desiste, não é? — Sorriu. A imagem dele com o dedo entre suas pernas voltou com força a sua mente, forçando-a a balançar a cabeça para fazê-la desaparecer.
— O que posso dizer, Jackie baby? Você me conhece.
— Fica pra próxima, Kleave. Tenho compromisso hoje.
— Com o tal do Axel? — Zangou-se ao lembrar da forma como eles se conheceram.
— Na verdade... Não. — Disse no mesmo tom. Esfregou o pescoço de leve.
Depois de enviarem os relatórios, cerca de trinta minutos após receberem os parabéns do chefe, não havia muito mais a ser feito, na realidade. Jackie perambulou pela delegacia, verificou alguns depoimentos colhidos de pessoas que foram rendidas, conferiu alguns casos recém fechados, fez qualquer outra coisa que não voltar para sua mesa. A verdade, era que não tinha compromisso algum à noite. Seu plano era comprar drogas com Kya e ir para casa, talvez para casa de Axel. Mas uma ideia vinha surgindo em sua mente.
A lembrança de toda aemoção que sentiu na noite anterior, vestir a coleira de novo, ajoelhar-se paraKleavon, depois o leilão, seguido do sequestro. Quando passou a mão no pescoçomal acreditou na maciez que estava a pele daquele lugar, bem diferente da peleáspera que tinha logo que deixou a casa da Conselheira. Lembrou-se que hoje eraquarta-feira, e que, possivelmente, houvesse uma última reunião antes do finaldo ano. Ela poderia passar por lá, dar uma espiada e, se tivesse vontade,entrar para conhecer. Afinal, que mal teria nisso?
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Um Conto de Natal
ActionÉ Natal em Rat's Bay. As ruas estão enfeitadas, as árvores iluminadas, a neve nas soleiras das portas e janelas. Para esquentar, uma caneca de gemada e uma batida nadas docas. Nada pode dar errado.