Rat's Bay City, 18 de dezembro de 2017

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Que batidas repetidas seriam aquelas? Estavam em conjuntos de quatro, faziam uma pausa e repetiam. Jackie fazia força para abrir os olhos, mas sabia que era em vão o esforço. Limitou-se a resmungar alguma coisa e acomodar os braços sob a cabeça (Quem lhe roubara o travesseiro?).

Pouco depois as batidas cessaram. O silêncio do apartamento voltou a abraçar sua única ocupante com conforto e carinho. Era tudo o que ela precisava naquele momento.

— Jackie, acorda, baby. — Disse uma voz masculina.

A policial sentiu um toque em seu ombro.

Uma das vantagens – ou desvantagens, dependendo do ângulo por onde se olhe – de se morar no Edifício da Polícia, como era de se esperar, era a segurança. Se algum morador desmaiasse dentro de seu apartamento trancado, o porteiro tinha uma cópia de todas as chaves, que entregava apenas mediante o preenchimento de um protocolo e verificação de registro. Kleavon tinha assinado a folha fazia cerca de dez minutos, e a chave ainda estava na porta.

Baby... — Viu as cápsulas vazias espalhadas ao lado da cama e tratou de recolhe-las, colocando em um saco de lixo. — Jackie, acorda. — Voltou a sacudi-la, um pouco mais forte.

— O que você quer, Kleave? — Respondeu por fim, após cerca de cinco minutos de insistência. — Já vou pra sala...

— Jackie! Levanta! — Ordenou.

A policial abriu os olhos com dificuldade, sua visão estava nublada e fora de foco. Custou a identificar onde estava, a certeza de sua cama foi a primeira a chegar. E, se ela estava em sua cama, deveria significar que estava em casa. Arrastou o corpo em direção à parede, rastejando sobre os lençóis. Agarrando-se na cabeceira, escalou a parede de madeira e espuma até que conseguisse sentar. Estava um pouco mais fácil visualizar as coisas. Ela estava sentada, em sua cama, no seu quarto, que ficava no loft do Edifício da Polícia. Suas Roupas... Olhou para baixo, viu os seios nus, bem como as coxas à mostra. Não era, no entanto, uma grande surpresa, afinal, ela sempre dormia nua. Olhou em volta... O que Kleave fazia no seu quarto?

— Kleave?! — Assustou-se com o parceiro de mesa, puxando um travesseiro para cobrir o próprio corpo. — O que diabos você está fazendo aqui?!

— Jackie! Finalmente! — Exclamou o homem parado já havia alguns minutos. — Eu...

Não deixou o amigo terminar, pois sua lembrança havia voltado. Inclinou o corpo para a esquerda, na direção onde ele estava parado. As capsulas haviam sumido! Significava que...

— Sim, baby, eu peguei e botei aquilo tudo fora.

— Olha, Kleave... — Começou a dizer. Encontrou o lençol de cima e enrolou-se com ele, uma ponta caindo teimosa revelando parte dos quadris. Foi em direção à cozinha, pegou algo no balcão, e depois ao banheiro. — Olha, eu... — Começou de novo, decidiu parar.

— Sério, Jackie, eu estou preocupado...

— Não precisa, ok? Eu sou adulta, eu sei o que faço. Foi apenas... Um uso recreativo. Nada mais que isso.

— Jackie! — O homem puxou o telefone do bolso, tocou na tela e fez com que o relógio ficasse grande na tela. — Faltam quinze minutos pras onze. — Estava quase empurrando o aparelho no rosto dela. — Quinze pras onze, Jackie! E nós temos uma operação para organizar! SUA operação! É amanhã, não é?

Um Conto de NatalWhere stories live. Discover now