Rat's Bay City, 14 de dezembro de 2017

8 0 0
                                    

"Bom dia, Rat's Bay!".

O rádio soou estridente, como uma britadeira com broca de diamante perfurando o cérebro da única ocupante do loft localizado no condomínio destinado aos membros da polícia, no Distrito de Ar. Ela havia passado a noite sozinha, seu... Bem, não era um namorado, nem bem um amigo. Eles decidiram não se ater a títulos, decidiram que se encontrariam quando estavam querendo um ao outro, ou quando precisassem de algo, embora as noites compartilhadas vinham-se repetindo com frequência crescente. Enfim, ele havia saído da cidade em uma missão de transporte, como ele as chamava. Deveria levar uma família até San Louis, quase quinhentos quilômetros de distância. Por vezes, Jackie não entendia porque ele continuava fazendo isso.

"Bom dia, Rat's Bay!".

Gritou o aparelho uma vez mais.

"Hoje é quatorze de dezembro, as ruas estão brancas com a neve, assim como as janelas e árvores! Parece que o inverno será rigoroso esse ano! E, se você ainda não desempacotou os enfeites e luzes para o final do mês, apresse-se que dá tempo!".

A policial forçou os olhos para abrirem, mas desistiu. Estava deitada no sentido contrário da cama, inclinada no colchão. Sua cabeça estava vazia e plainava sobre a cidade. Com a ponta dos dedos, tocou o objeto em formato de charuto próximo ao pé da cama, uma pequena cápsula perfurada próxima a ele.

"Para aqueles que ainda não levantaram de suas camas, aí vai uma balada para entrarmos todos no espírito natalino. Mas primeiro, espero que não estejam atrasados, pois faltam quinze minutos para as dez horas!"

Em seguida, a voz irritante de Hillary Duff começou a cantar Jingle Bell Rock, naquele ritmo que parecia sair do coral de uma escola infantil.

— Quinze pras dez? — Jackie exclamou, forçando-se a despertar. — Puta merda! Estou atrasada de novo!

Levantou-se às pressas, ainda que a dificuldade de se concentrar piorasse sua situação. Olhou em volta, sem achar suas roupas de baixo para vestir. Localizou o pacote que comprou na noite anterior junto com a dose NoBrain, na mesa de cabeceira. Passou a mão agarrando-o, levando-o até o balcão da cozinha. Com uma faca da gaveta de talheres, raspou uma pequena porção sobre o móvel de madeira, triturando o pó branco o máximo que pode e fazendo uma linha com ele. Colocando um pequeno canudo metálico que veio dentro junto com a droga, inalou a droga, sentindo seu efeito quase de imediato.

— Tá. — Disse para si mesma, sentindo o coração acelerar sob efeito da droga. — Vejamos... — Olhava para todos os lados, apontando conforme localizava as peças de roupa. — Calcinha, calça, camisa... — Coçou a cabeça. — Onde está minha arma? Ah, sim. No banheiro. Tênis... Onde deixei os malditos tênis? Sala... — Olhou-se rapidamente no espelho de corpo inteiro. Suas roupas estavam desalinhadas, mas ao menos os botões da camisa estavam corretos. — Estou pronta.

Chamou o elevador e, após entrar, apertou várias vezes no botão marcado com um 'G' e, sempre que julgou que o equipamento diminuía sua velocidade, voltava a apertar. Por algum motivo ela acreditava que aquilo faria com que se movesse mais rápido. O fato é que ainda que tivesse ficado de braços cruzados, o elevador chegou no tempo normal à garagem. O Chevrolet Spark preto piscou os dois faróis quando ela acionou o controle. Abriu e partiu às pressas.

Sentia sua atenção se desviar, sua vista tentando se perder, como se uma nuvem tentasse passagem pela janela para o interior do carro. Sacudiu a cabeça e focou-se na rua, nas linhas interrompidas que vinham contra ela continuamente, como se fossem luzes em uma pista de lançamento, como se estive prestes a decolar... Sacudiu a cabeça uma vez mais. Fez uma curva à direita, e outra que descia em uma garagem subterrânea. Mostrou o distintivo para uma câmera e, tão logo a cancela ergueu-se, entrou.

Um Conto de NatalWhere stories live. Discover now