Capítulo Único

2.2K 231 203
                                    

Fic feita para Mary Olosko <3


Que feio, Near... Era isso que os olhos de Matt ao longe lhe diziam, mas Near não ligava para a opinião de Matt, nem amigos eram, então por que deveria levar em conta o que pensava de si? Além do mais, duvidava que ele fosse contar algo a Mello. Não... ele definitivamente não iria. Podia conhecer pouco Matt, mas sabia o bastante para entender que possuíam um único objetivo em comum naquele orfanato: fazer Mello feliz.

Certo, Near falhava (e muito) nessa missão, mas, minha nossa!, era difícil, ok? Mello parecia o odiar com todas as forças, e como ele podia então o fazer feliz? Tudo que fazia só parecia servir para irritá-lo, era como pisar em ovos e, ainda assim, quebrá-los a cada passo! Não havia como... a não ser o que estava fazendo agora, nesse exato momento: mentindo.

Não era a primeira vez que tinha que mentir, sendo sincero, em seus dezesseis anos, era bem comum que tivesse que se utilizar desse recurso na Wammy's House. Muitas pessoas não o entendiam, outras apenas não ligavam, então, quando vinham lhe questionar se precisava de alguma coisa, se estava bem, ele apenas enrolava uma mecha do cabelo branco entre os dedos e buscava na mente se valia mesmo a pena falar a verdade. Quase sempre, a resposta era não. Optava por mentir, assim não seria incomodado, continuaria brincando sozinho com seu castelo de dados e ainda teria tempo para quem realmente importava: Mello.

Só tinha um problema: Mello não o estava mais procurando como antes. Depois de L anunciar que escolheria entre ele, Mello e Matt o seu sucessor, as coisas mudaram, drasticamente. Não apenas se afastaram, como Mello criara em sua mente infantil uma competição acirrada; Near não era mais um amigo, era um rival, e rivais não são amigos, não perguntam como o outro está, não brincam juntos, rivais se odeiam. E como Mello sabia incorporar algo quando estava decidido...

Near sentiu em cada empurrão o peso da palavra rival, ele sentiu toda vez que Mello o ignorava ou então que vinha derrubar seu castelo de cartas, chutar seus dados, gritar consigo para que desistisse do posto de L. Havia mais, conseguia ver os sentimentos confusos nos olhos azuis, mas Mello era tão difícil de ser entendido! Ora achava que era querido, ora tinha certeza que tudo não passava de uma ilusão sua. Para Mello, ele era um rival a ser derrubado e só isso... e rivais eram incapazes de se fazerem felizes, a não ser perdendo.

Ou quase isso...

Não dava para perder; perder significaria entregar o posto a Mello, e L ainda estava vivo, então não aconteceria tão cedo. Mas dava para mentir...

O diretor do orfanato havia mudado as aulas deles, estavam em classes avançadas e a quantidade de estudo era absurda. Bem, para eles, nem tanto, mas aposto que qualquer adulto infartaria ao ver a lista de leitura obrigatória que possuíam. Enfim! O fato era que havia achado uma área em que Mello se destacava mais que os demais, quase mais que ele até... quem diria que literatura seria o forte de alguém tão explosivo e inquieto como Mello... Aliás, mesmo com anos de observação, julgando-se conhecer tão bem o outro, nunca adivinharia que Mello, a pessoa que folheava livros com os dedos sujos de chocolate e um olhar entediado, que dormia com um livro sobre o rosto na sala de jogos e que odiava passar mais de duas horas na biblioteca, fosse ser tão exímio leitor.

— Near, você está entendendo ou não? — sobressaltou-se ao ouvir Mello perguntar ao seu lado, parcialmente inclinado sobre si.

Ah, o cheiro de chocolate dele era tão gostoso... lembrava-lhe de que estava com fome. Suspirou, precisava disfarçar seu tédio ou Mello, assim como Matt, perceberia que havia mentido ao pedir sua ajuda por uma suposta dificuldade na matéria.

É, ele poderia ter pensado em algo melhor, mas não dava... Mello o olhara com tanta expectativa quando o professor anunciara o primeiro teste, que Near não quis arruinar aquele momento de felicidade. Então, aproveitou-se para completar a cena, fingiu ter dificuldade e... certo, não dava para ir mal na prova, mas ele podia sim esquecer parte de algumas respostas, somente aquilo que não lhe faria ganhar o ponto completo de uma ou duas questões.

Entre beijos e mentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora