Capítulo 5 - O Voo da Phoenix

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Os homens do Capitão Roots levantaram suas espadas, machados e facões, e começaram uma verdadeira matança. Homens, mulheres e crianças foram covardemente atacados pelos homens brutos do além mar, que revelaram sua identidade pirata sem pudor. O chefe dos guerreiros lutou bravamente junto de seu exército tribal, mas lanças de madeira e flechas com pontas de pedra não eram páreos para as espadas afiadas dos piratas.

Dr. Quantum, assustado, correu em direção ao pajé para tentar salvá-lo. O ancião tentou lançar uma magia em direção aos tripulantes do navio, mas foi interrompido no momento em que se ouviu um único estouro seco, que ecoou no campo de batalha. Uma bala de chumbo saiu da escopeta de Capitão Roots e atravessou o abdome do velho sacerdote, derrubando-o no chão.

Desesperado, o alquimista alcançou o pajé e tentou ergue-lo do chão, mas este ainda lhe sorriu, escorrendo um pouco de sangue dos lábios:

- Vá, Senhor das Nuvens... pegue o elemento sagrado da caverna e faça a máquina voar!

- Venha comigo, Senhor do Templo! Não posso fazer isso sozinho!

- Você não está sozinho...

E os olhos do sacerdote de Kultran se fecharam, entregando-se ao encontro de seus ancestrais.

Com a adrenalina correndo no sangue, Dr. Quantum foi às profundezas da caverna e coletou vários fragmentos da rocha negra. Quando se dirigiu para a saída, dois piratas mal-encarados apareceram, erguendo suas espadas. Eles se entreolharam com sorrisos macabros exibindo dentes pretos e quebrados.

O alquimista pegou um frasco de vidro do seu bolso, derramando um pó rosa na mão. Sem pestanejar, lançou-o ao ar, pronunciando as seguintes palavras:

- Ventus urens!

E o pó se espalhou atingindo os rostos dos piratas. Em instantes, a substância ardia feito fogo, corroendo-lhes a pele até os ossos.

Sem perder mais tempo, apanhou uma espada dos piratas mortos e correu para fora da gruta. Flechas e lâminas voavam pelos ares, enquanto o esguio homem de óculos conseguia defender-se manuseando o sabre um tanto sem jeito. Continuou correndo pela trilha ao redor do morro até a aldeia, que ardia em fogo, enquanto mulheres gritavam e crianças choravam em vão. Sentiu-se, de certa forma, culpado por aquele genocídio, mas era preciso correr, se quisesse sobreviver.

Subiu as escadarias de pedra até o Templo de Kultran e foi ao encontro da incrível máquina voadora de seu avô. Colocou alguns fragmentos de rocha negra no compartimento de combustível e, antes que conseguisse acender a ignição, ouviu uma voz rouca e gutural atrás de si:

- Não será desta vez que o doutor vai brincar de pássaro! - disse Capitão Roots apontando a escopeta.

- Você não sabe o que está fazendo! Nós poderíamos ficar ricos com esta descoberta! - tentou, inutilmente.

- Cale a boca! Você pode impressionar estes selvagens com seus truques e palavras, mas comigo, eu tomo aquilo que eu quero pela força das minhas armas!

Dr. Quantum ficou imóvel, sem saber como reagir. Pôs a mão no bolso, mas seus frascos haviam caído durante a corrida desesperada para o templo. Ele estava completamente vulnerável.

O jovem alquimista pensava se teria passado por tudo aquilo, teria estudado e se arriscado tanto, durante a vida inteira, para afinal morrer em vão. Qual seria o sentido de toda aquela loucura?

Capitão Roots sorriu com seu único dente dourado, e se preparou para apertar o gatilho. Inesperadamente, uma lâmina afiada atravessou o corpo robusto do Mestre dos Mares. Ele arregalou os olhos incrédulos, num último suspiro de vida.

- Maldita seja! - ainda balbuciou, antes de a morte o vir buscar.

O corpulento pirata caiu no chão, revelando seu oponente oculto. Era a jovem sacerdotisa do templo, que ainda empunhava a espada com suas mãos sujas de sangue.

Surpreso, o alquimista permitiu-se um breve sorriso de alívio e esperança, aproximando-se de sua salvadora e tocando-lhe as mãos banhadas em sangue.

- Venha! - gritou Dr. Quantum. - Vamos voar até as nuvens!

Os dois empurraram a incrível máquina voadora para fora do grande salão até o centro do templo, onde a abóbada do céu estrelado jazia acima de suas cabeças. Acendendo o motor com a chama da tocha, o alquimista puxou a grande alavanca fazendo com que as quatro hélices começassem a girar. Dentro da casaria, Dr. Quantum segurou firme o grande timão de madeira que controlava o movimento do leme.

- Está pronta? - perguntou o doutor.

- Eu sempre estive. - respondeu a sacerdotisa.

E a incrível máquina afastou-se lentamente do chão, impulsionada por suas grandes hélices que giravam velozmente. Movendo uma manivela à direita, iniciou a subida, alçando voo para o alto até sair, finalmente, da grande construção de pedras em forma de pirâmide. Quanto mais eles subiam, mais a aldeia em chamas diminuía, como se fosse um sonho ruim que se distanciava lentamente.

Quando o jovem alquimista estava para seguir o voo adiante, a sacerdotisa tocou-o no ombro:

- Espere.

Enquanto a máquina voadora pairava imóvel no ar, a jovem tribal olhou para baixo, para aquela triste cena dantesca. Toda a aldeia estava em chamas, sem sinal de vida ou do seu povo. Era possível avistar os piratas seguindo em fila pela trilha até o navio, levando os despojos do saque como prêmios do seu ataque fulminante e covarde.

Fechou os olhos, respirando fundo. Então, ela ergueu os braços suavemente, enquanto uma única lágrima escorreu por seu rosto. Baixando os braços com violência, falou em voz alta:

- Mare motus!

Em instantes, uma onda gigante ergueu-se do mar e varreu o navio pirata, junto com a pequena ilha misteriosa perdida no Oceano Atlântico, num cataclismo catastrófico. Era como se aquela massa de terra e a opulenta embarcação do Capitão Roots nunca houvessem existido.

Dr. Quantum assistiu espantado à cena, sem interferir. A jovem e enigmática sacerdotisa do Templo de Kultran recompôs-se de seu transe mágico e falou, em tom sério e decidido:

- Vamos, Senhor das Nuvens! Agora somos livres para criar nosso próprio destino.

E partiram, com a incrível máquina voadora, para o horizonte distante.


1000 palavras

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A história completa, com o título e os subtítulos, tem um total de 3576 palavras.

Gostaria de agradecer imensamente aos leitores e amigos que acompanharam a história até o fim. Este conto de fantasia traz um pouco de algumas das minhas influências literárias e cinematográficas, como o autor Julio Verne, o livro Moby Dick e o filme O Enigma da Pirâmide, entre outros.

Espero que tenham curtido esta aventura tanto quanto eu e, se quiserem dar uma força para uma autora independente, votem na estrela, partilhem e comentem! 

Gratidão! ;-)

O TEMPLO DAS NUVENSOnde histórias criam vida. Descubra agora