Capítulo 1 - Maré Mortal

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O suor lhe escorria pela testa. Com mãos firmes, segurava o mapa que indicava o caminho para Kultran, o Templo das Nuvens. Seu semblante, por trás dos óculos redondos com aros de metal, expressava um misto de dúvida e esperança, apesar da dura viagem que fizera até então. Não desistiria assim tão fácil. Seu pai e seu avô não o teriam.

A embarcação navegava contra a forte corrente que balançava a nave de madeira de um lado para o outro. Ondas ferozes jogavam água salgada pelo convés, deixando o assoalho escorregadio. Com mais um solavanco, um dos tripulantes foi lançado em direção ao vasto oceano.

- Homem ao mar! - gritou o marujo no cesto de vigia, no alto do mastro.

- Joguem a boia de resgate! - gritou o Capitão Roots, atrás do timoneiro. - Rápido, 30° à estibordo!

O velho Roots era um capitão osso duro de roer. Já havia enfrentado a morte em mar aberto incontáveis vezes, e costumava dizer que só morreria se a própria morte viesse buscá-lo pessoalmente. Todos o respeitavam pela bravura e poucos ousavam desafiá-lo. Era um homem implacável.

Dois tripulantes correram para o parapeito da nau, no intuito de avistar o marujo em perigo, mas foi em vão. Ele havia desaparecido no mar revolto e não mais era possível localizar o seu paradeiro. O vigia, do alto, fez um sinal negativo com o polegar para baixo. Mais um corpo para alimentar os tubarões.

- Capitão! - chamou a atenção o imediato. - nesse ritmo, vamos ficar sem tripulantes para retornar!

Franzindo o cenho, Capitão Roots se dirigiu para o homem de óculos, que segurava o mapa:

- Você disse que estávamos no caminho certo! Foi por causa dessa sua missão idiota que chegamos neste fim de mundo! Vou decepar sua cabeça com meu sabre antes que o mar o engula como o fez com meu tripulante! - seus olhos faiscavam raiva e sede por sangue.

- Calma, Sr. Roots... - tentou apaziguar o jovem de óculos redondos. - Pelos meus cálculos, estamos próximos de nosso destino e, em breve, será recompensado com um tesouro inimaginável!

As pupilas do capitão brilharam em cobiça, e emitiu um meio sorriso expondo um dente de ouro intercalado por dentes pretos apodrecidos.

- Espero que esteja certo disso, doutor! Se não, cabeças vão rolar e a sua vai ser a primeira! - e emitiu uma gargalhada arrastada, acompanhada da risada dos outros tripulantes da embarcação.

Antes que terminassem o riso, o vigia gritou entusiasmado lá de cima do mastro:

- Capitão Roots! Terra à vista!

O ânimo reacendeu na alma daqueles homens cansados, que já estavam há cerca de quinze dias navegando na imensidão do oceano. Em busca de fortuna, Capitão Roots juntou a tripulação de homens calejados e valentes, mas, antes de tudo, leais ao seu líder - ou, ao menos, com temente respeito - embarcando naquela aventura sem precedentes. Haviam se lançado por áreas ainda inexploradas do mar atlântico baseando-se, apenas, pelo mapa manuscrito de Dr. Quantum. Especialistas diriam ser aquela uma loucura tremendamente insana.

- Peguem os galões! - gritou Capitão Roots aos seus tripulantes. - Vamos abastecer o navio para zarpar daqui assim que o doutor nos entregar nosso tesouro!

Um punhado de homens fortes e mal-encarados começaram a se movimentar feito formigas pelo convés. Botes auxiliares foram preparados para a descida, enquanto o próprio capitão fazia a sua última averiguação antes de desembarcar.

De frente para a massa de terra que se formava diante dos seus olhos, pensou nos possíveis tesouros que encontraria naquela ilha perdida no além mar. Atento ao panorama que se descortinava à frente, percebeu ao longe uma estranha movimentação na faixa de areia.

- Imediato, a luneta! - O homem careca de meia idade alcançou-lhe o pequeno instrumento, tão rápido quanto seu mestre ordenara. Focando na extremidade da lente ocular, Capitão Roots não gostou do que viu. Havia homens de corpos pintados e com vistosos adornos de penas, aglomerando-se na praia. Eles portavam arcos e apontavam flechas para o seu navio.


673 palavras

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O que vai acontecer aos tripulantes do navio?

Que mistérios se escondem na Ilha Misteriosa?

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