Capítulo 2 - Saindo das sombras

14 1 0
                                    


Estava quase na hora de sair. Cada minuto que o relógio marcava, o coração da autora batia mais rápido: Será que vou conseguir sair? Enquanto se questionava na capacidade de cumprir seus compromissos ela notou um leve tremor na mão. Pegou uma caixinha rosa na bolsa.

Na caixinha havia oito repartições, cada espaço tinha uma tampa onde se podia ler os dias da semana e o que sobrou tinha uma flor desenhada. Como se a felicidade estivesse guardada em um dia inexistente, além dos sete que conhecemos. Pensou como seria interessante encontrar uma porta para esse outro dia, perdida atrás de uma estante qualquer. Ela entraria na pequena porta e estaria livre, em um dia onde apenas pessoas realmente desesperadas estariam, e todos dançariam sem se preocupar com a música e nunca precisariam sorrir. Ela abriu o compartimento da flor e lá tinha um remédio branco bem pequeno. Como o menor dos meus remédios pode ser o pior?

A porta do banheiro tremeu, alguém queria entrar. Ela colocou a pequena pílula na boca, deu a descarga, foi até a pia e tomou um pouco de água nas mãos para ajudar a engolir.

- E aí, vai sair hoje? SEXta-feira, hein!!

- Pois é, vou sair com uma amiga hoje...

- Aeeeeeeee, beba por mim!

A colega de trabalho ainda deu um sorriso antes de entrar no banheiro e fechar a porta.

A mão tinha parado de tremer um pouco, estava mais calma e ia conseguir.

Ainda olhou no espelho e passou um batom antes de sair.

Ao se aproximar do bar tudo parecia voltar no tempo, quando era adolescente, estava tudo igual. O mesmo cheiro de pneu, suor, couro e desinfetante. Por um lado, aquilo a deixava confortável. Tinha esquecido das noite perdidas ali. Onde será que estava aquela menina que se divertia com tudo, que dançava até não conseguir parar, que bebia para se sentir inebriada e sem foco, quando tudo parecia sumir apenas para que ela existisse? Ao olhar em volta notou um monte de meninas assim, em algum lugar elas eram como um dia foi.

A música ao vivo bateu em seu peito e a transportou para um lugar seguro. Achou uma mesa e se sentou, pediu uma dose de tequila antes de sua amiga chegar.

- Está sozinha?

Ângela se aproximou sorrindo, com a piada interna de cantadas ineficazes. As duas se abraçaram longamente, um abraço forte e reconfortante.

- Caramba, você está igualzinha!

- Ai, Angela, não sei, claro que não...

- Mana, modéstia não cabe para você! Quero saber tudo!

Elas se sentaram e apesar do tempo, parecia que tinham se visto ontem.

- Já começou sem mim, doidinha?

- Ah, só uma dose de tequila pra dar coragem.

- Mas, e aí? Quero saber tudo! Onde você tá trabalhando?

- Bom — disse a autora sem ânimo — estou trabalhando naquele supermercado da 14, sabe?

- Sério, mas na parte de marketing?

- Não, não... no estoque.

Ângela parou um pouco, sem saber o que dizer para a amiga.

- Por que?

- Ah...

- Cara, você é foda! Uma redatora e escritora! Que diabos está fazendo no estoque de um supermercado?

- Foi o que deu.

A voz dela ficou embargada. A amiga do passado notou que a pergunta não tinha sido muito delicada.

A Joia PerdidaWhere stories live. Discover now