Capítulo 3 - Torre da sabedoria

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O primeiro dia de viagem foi marcado por um silêncio incômodo nas primeiras horas e substituído por conversas triviais quando pararam para se alimentar. Enquanto o sol se escondia, Emir parou e decidiu fazer acampamento em uma formação rochosa próxima:

- Não é seguro viajarmos de noite. Vamos parar aqui por enquanto.

A tenda saiu da pequena sacola de couro assim como tinha entrado, em um passe de mágica. O incômodo era palpável dos dois lados por motivos diferentes.

Eilena sentia calor, uma antecipação, um aperto e podia ver Emir mesmo de olhos fechados. Sentia-se uma menina tola. Ele sentia o peso de seu compromisso com os povos dos dois territórios e mesmo não sendo ele quem amaldiçoou sua princesa prometida, a responsabilidade da solução recaia sobre seus ombros.

- Você conhece Thuraya há muito tempo? - perguntou a bruxa tentando entender a situação e quebrar aquele clima ao mesmo tempo.

- Sim e não. Eu a vi uma vez quando éramos pequenos. Então sei de sua existência há muito tempo, porém não posso dizer que a conheço.

- Isso não te incomoda? Casar com alguém que não conhece?

- Não. Eu sabia que me casaria com ela desde a infância. Nossas estrelas se alinharam e será de benefício para os dois povos.

Emir não demonstrava emoção ao dizer nada disso e a bruxa conseguia sentir como a responsabilidade e a honra eram importantes para ele. Ambos concordaram em dormir mais cedo para estarem totalmente recuperados no dia seguinte.

O caminho até o ponto marcado no mapa levou mais um dia de viagem, porém mesmo a horas de distância podia-se ver uma torre gigantesca no meio do deserto. Nem a bruxa, que estava acostumada a romper com as leis naturais, conseguia entender como algo tão alto poderia estar de pé no solo inconstante do deserto. Pelas marcas do tempo nas laterais do edifício podiam notar que muitos anos haviam se passado e as dunas já haviam lambido a parte inferior, que não possuía janelas. Entretanto ali continuava de pé, impassível ao tempo, uma enorme torre.

Ao se aproximarem notaram que não havia porta de onde eles olhavam, e escolheram montar acampamento um pouco distante e sair no dia seguinte para enfrentar seu possível inimigo. Não houve conversa ou sono naquela noite, pois conseguiam ouvir gritos vindos da torre, pessoas pedindo ajuda, urros de dor. Caso ambos não tivessem passado sua cota de dor e bravura, teriam ido embora naquele momento.

Entretanto, ainda antes do sol raiar, ambos estavam de pé e preparados.

Emir Nahan se ajoelhou para leste, enquanto o sol despontava e fez sua prece e cântico matinal, enquanto Eilena pedia para que suas antepassadas a protegessem, a bruxa não queria deixar esse mundo ainda.

- Eu acho sua oração muito bonita, Emir – disse a bruxa no caminho.

- Estava falando com meu Deus, nada mais justo que o faça da melhor forma que eu puder. Ele nos deu tudo que existe para usufruir, o mínimo da minha parte é ser gentil com sua criação e cantar para que minha prece pareça um bálsamo para Seus sentidos divinos.

Eilena achou essa crença em um único Deus esquisita e incompleta, mas aprendeu há muito não questionar a fé dos demais. Ela já tinha visto tantas crenças como estrelas no céu e não acreditava em apenas uma verdade. Mas conseguia apreciar a beleza de todas elas.

Ao se aproximarem da torre sem janelas eles ouviam os gritos cada vez mais altos, mas agora podiam ver uma entrada pequena, quase uma fenda. Ambos se entreolharam sabendo que era por ali que tentariam prosseguir.

A Joia PerdidaWhere stories live. Discover now