A primeira coisa que senti, ainda de olhos fechados, foi o vento no meu rosto, forte, como se um ventilador bem potente estivesse ligado a centímetros do meu rosto. A sensação era boa, o calor do Rio de Janeiro era intenso na maior parte do ano e aquele vento gelado não era mesmo característico do lugar que eu chamava de lar. Abri os olhos e me vi sobrevoando o mar, mas não era como imaginei, daquele azul forte e escuro como das praias daqui, a água era cristalina, era capaz de ver toda a vida marinha da altura que eu estava. Sei que devia, mas não sentia medo de estar ali, percebi que a água de aproximava de mim e meu corpo descia em queda livre, de cabeça.
No exato instante que deveria sentir a água tocar meu rosto o despertador toca, me fazendo quase pular da cama com falta de ar.
Foi um sonho bem vívido e não era a primeira vez que o tive, lembro de quando eu era pequena, sonhava com algo semelhante, às vezes eu sobrevoava algumas matas, ilhas, mas não conseguia ver nenhuma alma viva pelo caminho e, sinceramente, me sentia um pouco solitária.
Levantei da cama para me desapegar do sonho que pareceu me cansar, olhei para o relógio e me lembrei que dia era hoje. Estava completando dezessete anos! Não só isso, no dia seguinte eu iria realizar um sonho de criança, voaria de asa delta!
Culpei minha ansiedade pela noite mal dormida, mas sabia que valeria a pena, eu finalmente voaria de verdade e torceria arduamente para que eu não me estabacasse de lá do alto.
- Aurora, seu café está pronto.
Ouvi minha mãe chamar da cozinha e na mesma hora meu estômago roncou, apesar de ser magra, tenho sentido necessidade de comer muito maior que o normal. Minha mãe começou a me olhar de forma estranha toda vez que montava meu prato para o almoço. Éramos só eu e ela, qual seria o problema de colocar um pouco mais de comida no meu prato? Se eu engordasse, viveria com isso até me incomodar e mudar meu estilo de vida, só não fica me olhando com essa cara de poucos amigos que me incomoda profundamente. Se ela queria me dizer alguma coisa, era só dizer, mas olhar para mim fazendo careta era tão chato.
Ainda de camisola, entrei na cozinha e dei bom dia para ela que me esperava com a mesa pronta.
-Bom dia, dormiu bem? - Ela perguntou se aproximando com um enorme sorriso.
- Sim.
Ela então me abraçou bem forte.
-Não acredito que meu bebê está fazendo dezessete anos. Parabéns meu amor.
Retribui o abraço com animação, saltar de asa delta foi um presente da minha mãe, e ela não só pagou para mim como me deixou chamar mais um amigo para me acompanhar no salto. Não me atrevo a perguntar como ela tinha conseguido o dinheiro, mas pensando bem dois saltos de asa delta custam metade da festa que eu estava querendo.
O café da manhã era o meu favorito: café com leite e as torradas quentinhas e temperadas que só Daphne Aquilon sabia fazer.
-Eu tenho a melhor mãe do mundo.
Sentei rapidamente na cadeira e comecei a me servir, era um café da manhã simples, mas me deixava muito feliz.
-E como será o seu dia hoje? Queria estar com você por mais tempo, só que lá no trabalho...
-Mãe - segurei sua mão e ela interrompeu sua fala. - Eu sei que a senhora precisa fazer essa viagem, a agência vai te pagar bem e assim poderá juntar dinheiro para meu aniversário de dezoito.
Ela riu e me deu um leve tapa na mão.
-Garota, estou falando sério, queria passar esse dia com você, estou arrasada por passar longe pela primeira vez.
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Bruxas e Dragões - O Reino dos Elementais (APENAS INTRO e cap 1)
FantasíaRodeada por inúmeros segredos de família, Aurora Aquilon se surpreende ao descobrir, aos dezessete anos, que é uma bruxa e que tem apenas seis meses para aprender a controlar seus poderes e passar pelo teste de sua vida. Mas existem muito mais hist...