Lost in Japan

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 Já era Novembro e Shawn não se cansava de criar melodias. Parecia que Hanna tinha entrado na sua mente para fazê-lo compor após um longo bloqueio. Ele andava pelas ruas de Toronto imaginando ela ali: em quais lugares ele a levaria, onde eles jantariam e se ele seria um anfitrião tão bom quanto a brasileira.

As letras eram escritas em um caderno azul e Shawn Mendes parecia ter sumido. Ele nunca tinha conseguido juntar um material tão bom em tão pouco tempo. Compor para ele sempre tinha sido algo sentimental, algo que precisava ter relação com o que ele estava sentindo.

E Shawn se sentia sozinho, triste, melancólico. Ele vivia em uma nostalgia constante de algo que ele tinha certeza que não voltaria.

E também se sentia um covarde.

Ele se afastara de Hanna por saber que era um relacionamento que não teria futuro. Mas sabia que estava errado porque ele nem sequer havia tentado. Ele não deveria ter desistido dessa forma, mas será que ele tinha mesmo desistido?

Por algum motivo, ele sabia que iria reencontrar Hanna. E aquelas palavras saíram dos seus dedos para o piano, uma melodia forte, marcante e que sem dúvidas seria um single. Eles não estavam no mesmo fuso horário, tinham vidas opostas e se conheceram por apenas 24 horas. Mas porque Shawn não conseguia tirar Hanna da cabeça?

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De volta à casa Hanna precisou se acostumar a ter sempre alguém por perto. Quando não eram seus pais, era a empregada sempre perguntando se ela estava precisando de algo. Parecia que eles estavam somente esperando a hora que ela fosse surtar de vez.

E talvez ela realmente estivessse prestes a surtar, mas não pelo motivo que todos a sua volta achava que era.

Hanna já nem lembrava que Miguel existia, nem que o motivo dela ter se sentido tão sozinha no Rio não era porque ela estava só, e sim porque nenhuma de suas expectativas tinham sido cumpridas. Seus sonhos não eram tão sonhos assim.

Muitas vezes nos frustramos a nós mesmos. Nos colocamos em situações hipotéticas em que estaremos felizes quanto talvez, o nosso caminho seja o oposto. Mas dar com a cara na parede faz parte de crescer.

E exatamente por isso que Hanna convocou a famosa reunião de família na casa dos Lins. Ela tinha feito o mesmo quando resolveu se mudar para o Rio, mas sabia que estava a apenas algumas horas de casa. Agora as coisas seriam diferentes.

Seus pais se sentaram ao redor da mesa e Hanna entregou dois bolos de papéis para cada um.

- É um intercâmbio de seis meses em Toronto. Nesse tempo vou estudar inglês e também fazer um curso de piano. Dar continuidade àquelas aulas que eu fazia aqui em Juiz de Fora. Eu sei que é pedir muito porque eu vim embora do Rio, mas eu preciso disso. Eu preciso me reencontrar.

Ela pensou que seus pais fossem fazer diversas perguntas, colocar poréns, mas a única coisa que eles perguntaram era quanto isso ia ficar. Hanna às vezes se esquecia de agradecer a sorte que tinha. Seus pais não eram ricos, mas eles tinham condição o suficiente de mandar a filha para o Canadá.

E agora Hanna estava sentada no frio, de frente para aquele que seria o seu apartamento pelos próximos 6 meses.

O lugar não era espetacular. Um loft com uma cozinha que era separada do quarto/sala com apenas uma bancada, que também a mesa de jantar. Um banheiro também não muito espaçoso. Mas era um lar, o lar de Hanna longe de tudo e todos.

Ela poderia dizer que a escolha de Toronto tinha sido ao acaso, mas ela sabia muito bem o porque estava ali: era o lar dele.

Hanna sempre procurava Shawn nas redes sociais, mesmo que de forma inconsciente.

Mas aquela viagem não era sobre Shawn Mendes. Aquela viagem era sobre Hanna Lins e, por mais que machucasse, ela não iria atrás dele. Mesmo que andasse nas ruas em busca daquele rosto tão familiar, mesmo que sempre pensasse o que ele estaria fazendo e onde ele estaria.

As aulas começaram na segunda semana de Hanna no Canadá. O ano letivo da University of Toronto tinha começado em Setembro, mas eles tinham aceitado a matrícula tardia da brasileira no início de Novembro.

O curso era bem mais difícil do que ela imaginava. Apesar de ser fluente em inglês, ter que se adaptar às metodologias era complicado. Hanna sabia que o Brasil estava extremamente atrasado no quesito de educação, mas não fazia ideia que era tanto.

Noites passavam e ela apenas se dedicava aos estudos. Aos poucos, se apaixonando pela música, pelas melodias, por compositores dos quais ela nunca tinha ouvido falar.

Ela nunca tinha se sentido tão plena, tão completa, tão ela mesma.

Tinha feito alguns amigos como Shantana e Zoe. As duas meninas eram estudantes de dança e, por algum motivo, tinham se sentado ao lado de Hanna na primeira semana de aula e elas tinham se conectado instantaneamente, apesar de sempre escreverem o nome de Hanna com um h no final.

Era um domingo de manhã quando Shantana, uma canadense com descendência indiana, tocou a campainha do loft de Hanna convidando a brasileira a tomar um brunch.

- Você precisa começar a viver a vida Hanna.

- Eu estou vivendo a vida! - a menina protestou quando arrumava sua cama após deixar a amiga entrar.

- Passar o fim de semana estudando não é viver a vida. Você não vai se achar assim.

Hanna sabia que ela tinha razão. Carol falava isso com ela o tempo inteiro, mesmo que com um toque de inveja pela menina estar do outro lado do continente. Por fim, Hanna cedeu.

Vestiu um casaco grosso e um gorro cor de rosa, o frio era frequente naquela região, mas com a aproximação do inverno o clima estava ainda mais gelado.

Shantana estranhou a grande movimentação na porta do lugar, não era frequente ter tanta gente ali no domingo. Mas então Hanna escutou alguém chamando seu nome. Uma voz doce, conhecida e que não saía do seu ipod já tinha dois meses. 

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