Prólogo

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O suor descia-lhe ao rosto ao terminar a longa subida no topo daquele monte em meio a um desfiladeiro e o mar. Seus cabelos castanhos esvoaçavam a todo momento. Colocou sua mão na parede do pequeno casebre ao topo e começou a retomar o fôlego. Olhou de relance para a trilha que subira, era íngrime e fazia-o sentir náuseas só de imaginar a descida. Tudo que vai, volta, lembrou das palavras de seu mestre. Ele o olhou, não sabia como não estava cansado. Seu mestre não mostrara o mínimo de cansaço, mesmo com todo aquele cabelo grisalho loiro. Seus olhos verdes claros cintilavam aos primeiros raios do sol, que não só refletia a luz nas águas do mar, como também nos seus olhos.

- O que exatamente estamos procurando mestre? - Disse o jovem garoto com não menos do que dezenove anos, após retomar o fôlego.

- Já lhe disse para não me chamar assim. - Seus olhos verdes rodeava a casa em pequenos movimentos rápidos, seu rosto traziam um ar de satisfação ao encontrar aquele lugar.

- E então? O que estamos procurando? - Insistiu ao ver que sua resposta não iria ser respondida da primeira vez como sempre.

Magnus retirou seus cabelos loiros escuros com pequenas nuancias de grisalho do rosto. Pôs sua mão na porta do casebre embutido em uma grande rocha e puxou, sem sucesso. A porta estava emperrada. Soltou a pequena argola de ferro enferrujado perdurado da porta. Pôs as mãos em um dos seu bolsos, sentiu os frascos vazios chacoalharem e baterem uns contra os outros.

- Mestre? - Raramente precisava chegar a insistir uma terceira vez.

- Quantas vezes tenho que lhe pedir para parar de me chamar assim? - Magnus já apresentava a fina linha da impaciência de seus lábios em meio a sua barba rala por não ter encontrado em seus bolsos o Hálito de dragão.

- Se você me falar o que está procurando, poderei te ajudar. - Andiwe já se escorava na rocha o observando. Aproveitou e iniciou a fechar as fivelas de seu sobretudo azul escuro acinzentado. Fazia frio, não que se importasse. A sua vida toda, o frio estivera presente. Sem contar que nada era comparado com o Arquipélago branco, sua casa. Um lugar tão frio, que pessoas se atiravam nas chamas em busca do conforto de algum calor.

- Estou nessa busca a anos. O que eu quero tem de estar aqui. No entanto, essa maldita porta não quer abrir. - Magnus cerrou um de seu punhos e socou a parede com força. Que demostrou pequenos sinais de desabamento.

Magnus respirou fundo e pôs sua cabeça em sinal de frustração na porta da casa. Os ventos não perdoavam e teimavam em rodopiar e bagunçar seus cabelos.

- Por que não usa sua magia? - Andiwe parecia distraindo enquanto suas palavras saltavam de tanto prazer e satisfação, não era a primeira vez que se encontrava em uma situação para forçar seu mestre mostrar sua capacidade com a magia.

Magnus o olhou com certa antipatia, seu rosto demostrava cansaço de tanta repetição.

- Magia não é...

- Brincadeira! - Completou Andiwe, antes que seu mestre repetisse novamente, aquilo que era quase seu jargão. - Poderia ao menos me dar algo para comer?! Estou faminto.

Os olhos verdes o ignoraram e retornou a recair novamente para a casa. Buscou brechas nas paredes ou buracos que coubesse qualquer coisa. Não poderia quebrar nada, pois a qualquer momento aquilo tudo iria desmoronar a qualquer sinal de força. Andiwe deu um longo bocejo, acompanhado daquilo que mais parecia o rugido de um gato da neve do que um ronco de um estômago vazio.

- Tem que haver um jeito!

- Acho que irei morrer. - Disse Andiwe agora deitado no chão com as mãos levados a barriga.

Ao se remexer no chão de tanta fome, viu um pequeno brilho azul soterrado ao seu lado, parecia vivo, e dentro existia uma espécie de névoa viva.

Magnus tocava levemente a porta e, ao tocar em uma pequena fenda achatada, sentiu algo, seu dedo adormeceu e os pelos de seu braço eriçaram. Achei!

Andiwe se ergue e junto a sua mão, estava um colar, parceria uma gema azul, no entanto, algo mágico emanava daquele objeto. Magnus rapidamente tomou-o da mão de seu subordinado e tentou colocá-lo na pequena fenda. Quase sem ao menos tocar o objeto a fenda, a porta rapidamente se abriu e junto um som de ranger ecoou quase que por toda a colina. Tinham certeza que os moradores do vilarejo ao pé do monte ouviram e estariam nesse momento assustado com tamanho som.

- Magia. Estamos no lugar certo. - Magnus sorria enquanto mergulhava na escuridão do casebre.

Lá dentro, Andiwe estava perdido. Livros e animais mortos, ou o que eram a muito tempo, restando apenas restos. Tudo parecia morto, móveis quebrados e livros estavam jogados por todo lugar. Exceto um. Parecia um lugar mais reservado, com uma pequena fenda ao teto rochoso, que permitia que as luzes do dia entrassem naquela biblioteca mortuária. Ao centro desse pequeno lugar, estava uma mesa de madeira sustentada por teias, que, em seu centro, se encontrava um livro velho e cinza. Ainda com uma pena e o tinteiro seco ao lado. Alguém andava escrevendo, pensou Andiwe observando o chão para não pisar em nenhum animal morto. Magnus foi rapidamente para o lugar, puxou a cadeira em melhor estado e tomou a lero livro.

- Não espera ler esse livro aqui, não é? - Andiwe limpava rapidamente seu braço ao perceber que se incostara naquilo que parecia ser uma aranha.

- ...sangue, eu vejo sangue derramado em todo meu corpo...

- Ao menos me fale o que está procurando! - Disse Andiwe, cansado de tanta repetição.

- A imortalidade.

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