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Dezoito dias.

432 horas.

25.920 minutos.

1.555.200 segundos.

Tempo pra cacete.

Era o quanto faltava para que eu fosse liberada do meu castigo.

Mas não fiquem achando que sou maluca nem nada parecido, a ponto de ficar contando em segundos quanto tempo falta para a minha liberdade. Hoje era um dia em especial para contagens. Porque hoje, era o dia em que minha ansiedade provavelmente atingiria picos altíssimos. Hoje era o show. E nesses doze dias que fiquei mantida nessa clausura desnecessária, nada me veio na cabeça. Nenhuma rota de fuga ou plano mirabolante.

O tédio me consumia absurdamente. E mesmo no tédio eu não conseguia achar uma saída para ir ao show.

A coisa estava tão séria que Raoul e Ruth coincidiram os horários para estarem em casa o tempo inteiro, impedindo que eu fugisse. E eu não podia estar mais irritada.

Esses dias que passei em casa não dirigi a palavra a eles uma hora sequer. Julia era a única pessoa que podia me visitar, e ela chegou a vir duas ou três vezes, porque também estava de castigo. Porém, seu castigo foi bem mais leve que o meu. Acho que sua mãe não percebeu que ela fumou maconha com a gente, então o único problema tinha sido chegar uma da manhã em casa. Um final de semana de castigo foi o que ela levou. Menos mal. E por um lado fiquei feliz por meus pais não terem contado à mãe de Julia sobre a maconha.

Ela me trazia as notícias do mundo de fora, e todas as vezes que falávamos do show, ela falava para eu ficar tranquila e me assegurava que as coisas iam dar certo e que íamos juntas ver nossos "amores". Comentou que Ava comprou os quatro ingressos, porque também tinha certeza que eu ia.

Acho que só eu não sabia como.

Hoje era noite de minha mãe trabalhar e Raoul ficar em casa. Terminei de jantar a sopa de ervilhas que ela tinha feito, e limpei a boca no guardanapo, sentindo o desconforto que reinava entre eu e meus pais. Não pedi licença e me levantei, indo para o meu quarto e ficando cada vez mais angustiada vendo a noite chegar.

Sentei em minha cama e liguei a televisão, satisfeita de pelo menos ter aquilo para me distrair, mas mesmo assim estava ficando tudo muito frustrante. Eu olhava para o relógio, via a hora se aproximando e ficava imaginando o que as meninas estavam fazendo no momento. Deviam estar se arrumando.

Escovei os dentes e deitei na cama, zapeando os canais e não me pergunte porque, mas parei no CNN. Aquelas letrinhas rolantes na parte de baixo da tela sempre me davam sono, e se eu não queria ficar triste, dormir era a melhor coisa que eu tinha a fazer.

Enquanto passavam as notícias rolantes e meus olhos acompanhavam buscando entorpecer em sonhos, escutei um tranco em minha janela. O susto foi tão grande, que só não gritei por um acaso do universo. Um sinal dos céus. Um anjo vindo em minha direção.

Ava Hale.

Ela estava com uma calça de couro vermelha e uma blusa preta apertada, mostrando o corpo de dar inveja a qualquer mulher. Estava descalça e tive que rir da cena.

- Porque está descalça? – sussurrei.

- Você acha que eu ia subir essas grades com minha bota de dez centímetros, Samantha?

- Adorei a roupa. – apontei para sua calça vermelha, tão apertada que me perguntei como ela fez para entrar ali, e ri mentalmente, pensando em como ela faria pra sair se tivesse alguma sorte hoje.

- Muito obrigada. – ela sorriu com todos os dentes. - Vamos?

- Vamos aonde, Ava? – franzi a testa. Eu estava liberada? Ela conversou com Raoul?

Dear Seattle - AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora