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Eu sei que sóbria eu não conseguiria fazer nada, muito menos ter a cara de pau de falar com alguém da banda. Eu tinha que dar algum juízo à minha mente desajuizada. Fui até o bar, peguei mais uma rodada de uma bebida meio louca, chamada "blue lagoon", e entreguei às meninas. Barbara estava em uma situação hilária. Ela só faltava babar. Parecia aqueles lobos de desenho animado, quando vêem a presa. Boca aberta, quase babando, e os olhos prestes a arregalarem.

Balancei o drink em frente à seu rosto, tirando-a daquele transe repentino.

- Obrigada. – ela disse pegando o copo de minha mão, levando novamente o canudo à sua boca, e voltando seu olhar para Nathan, que estava sem camisa e derrotando a bateria com a força que seus braços faziam.

Julia, parecia uma besta apaixonada. Só faltavam aparecer corações em seus olhos. Entreguei o drink, e ela me deu mais um beijo estalado na bochecha, dizendo que estava mais apaixonada do que nunca por Dylan. Eu apenas ri.

Ava... bem. Havia sumido.

- Onde está Ava? – perguntei, ficando ao lado de Julia e voltando a olhar para Daniel, percebendo que a cada intervalo que ele tinha com seu baixo, ele se aproximava de uma caixa de som e pegava uma garrafinha de água.

Água? Sério? Devia ter vodka ali dentro. Sim, definitivamente. Ele tinha cara de quem bebia vodka. Mas era uma distração maravilhosa olhar aquele pomo de adão se mexendo, e imaginando o líquido gelado descendo por sua garganta. Por alguns segundos tive que olhar para os lados e ver se tinha alguém estranhando meu comportamento, porque eu devia estar exatamente igual a Barbara, em sua forma lobo-de-desenho-animado.

- Foi atrás de um cara enorme, que passou por nós com um crachá de produtor da banda. Assim que ela viu, ela o seguiu. Ele era enorme, Sam. Do tamanho dos caras da porta. – Julia levantou uma sobrancelha. – Espero que ela não se dê mal por falar besteira ou seguir pessoas que não deve. Ela sempre se mete em confusão, você sabe.

- É. Eu sei. – respondi, mordendo meu canudo, sentindo o peso da vodka adentrando em minha garganta, e olhando os músculos do braço direito de Daniel, que se mexiam também de acordo com o que sua mão fazia nas cordas do baixo. Senhoras e senhores, que mão.

Eu estava me sentindo uma groupie tarada das piores.

O show deu uma pausa, Dylan avisou que eles voltariam em dez minutos, e eu resolvi ir atrás de Ava e ver o que ela estava aprontando. Se fosse algo relacionado à camarim, ou entrada para o backstage, eu ia ajudá-la no que fosse preciso. Eu precisava ver Daniel, falar com ele, dar em cima dele, o que quer que fosse. Eu não sairia satisfeita daqui hoje, se não conseguisse nenhum reconhecimento por parte dele.

Avistei o cabelo loiro e enorme a uns cem metros de mim e apressei meu passo procurando não perdê-la de vista. Quando nossa distância diminuiu, um idiota me pegou pelo pulso e puxou meu corpo inteiro para si, nem ao menos me falando um "oi" que fosse. Não podia ser mais educado? Enfiei minhas duas palmas em seu peito e o empurrei. Só que ele era muito mais forte do que eu. Extremamente mais, de forma que meus antebraços já estavam doendo, de tanta força que ele fazia, me segurando.

- Cai fora! – falei entredentes. – Eu não quero nada com você.

- Só um beijo, gracinha... essa sua calça... pelo amor de Deus, hein... – ele falou, jogando um hálito absurdo de vodka, cachaça ou o que quer que fosse que aquela alma perdida tinha consumido em minha direção.

- Já falei! Me larga! Ou eu te dou um chute no meio das pernas! – minha voz aumentou, e olhei para os lados, vendo se alguém estava a par da minha situação, mas todos estavam fora de si, em seus pequenos mundinhos, conversando com seus amigos, ou se entupindo de álcool.

Dear Seattle - AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora