Olhando para esse papel,
Ele realmente me parece inteiro.
Se estivesse com seus irmãos em um bloquinho,
Nem haveríamos de perceber o seu vazio.
O que é o vazio?
A ausência de algo?
Mas será que alguma vez existiu algo?
E como, mesmo assim, existe o vazio?
Como, se nada existe, existe algo?
Se extraíram um tumor,
Glória Senhor!
Mas e se foi um tiro de bala perdida?
Será que roubaram o coração do papel?
Se roubaram... será que ele reclamou?
Mas como pode um papel viver sem coração
No encontro de duas linhas?
Se uma panela está furada,
Ela não consegue conter comida.
Se um papel está rasgado,
Ele pode conter palavras?
O amor em palavras;
O ódio em palavras;
Qualquer coisa em palavras.
Nem que apenas uma palavra.
E se a palavra mais importante
Estivesse no pedaço faltante?
Amor
Paz
Vida
Carreira
Família
Amigos
Dinheiro
Qual você escolheria
Para a lacuna vazia?
O que dói mais?
No dedo ter um grande ferrão,
Ou ter buraco no coração?
Muito senti falta desse pedaço.
Muito chorei por esse pedaço.
Até que eu pudesse perceber,
Que nunca existiu tal pedaço.
Sou assim,
Oco por dentro.
Vazio no centro.
Porque todas as boas lembranças nunca existiram.
Foram tudo fruto da minha imaginação.
Meu sonho em ter o que os outros tinham,
E que no meu vazio nunca teve.
Seu abraço,
Seu sorriso,
Seu carinho,
Seu "Eu te amo"
Mas eu cresci!
E mais uma vez,
No mês de agosto,
O inverno prevaleceu.
E mais uma vez eu fui cobrado.
E mais de uma vez eu fui julgado.
Por no centro ter um buraco,
Que jamais se quer foi tapado.
Eu não quero fingir.
Eu não quero sorrir o meu falso sorriso de dentes amarelos.
Você fez falta,
Fez muita falta.
Até que eu pudesse perceber que só faz falta
Aquilo que alguma vez já preencheu o vazio.
Então não se preocupe, uai.
Que quando agosto chegar, e vai,
Sua família nunca se esvai.
E do pedestal jamais cai.
E mesmo que o complemento nunca vai,
Sendo que nem falta faz,
Você ainda terá um ótimo domingo, pai.
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Morte e Vida do Menino Bixa
PoetryQuantas palavras são necessárias para explicar uma batalha? Que o entendimento fique a cargo da subjetividade da poesia. P.S.: Obra em construção. Sujeita a mudanças e alterações.
