Torture

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Uma forte sirene soou pelo local e nos fez acordar rapidamente, meu coração estava acelerado pelo barulho atordoante, senti minha coluna doer assim que levantei, a dor era causada pela cama desconfortável e pelo fino colchão, levantei da cama rapidamente e o impulso me causou uma leve tontura, senti minha barriga roncar e meu corpo ansiar por água e comida, senti fraqueza nas pernas e me segurei firmemente na parede, direcionei meu olhar para as janelas sem cobertura e avistei o céu cinza e levemente escuro, sem ao menos nascer o sol. A general adentrou no alojamento e sua postura rígida deixara inúmeras mulheres intimidadas, ergui meu olhar de volta para a mulher e tentei descobrir o porquê de todo aquele alvoroço em seus olhos.

-Atenção! Todas vocês irão receber o adorável café da manhã e em seguida tomarão banho, suas tarefas estão divididas entre queimar as roupas no mesmo local de sempre e algumas de vocês irão me acompanhar. -Sua voz mudou de séria para irônica, seu sorriso era debochado e seus olhos exalavam prazer em tudo que dizia.

A general apontou para algumas mulheres, no fundo eu torci para que não fosse chamada, e as mesmas se retiraram do alojamento enfileiradas, a autoridade do local saiu atrás delas e sua postura passou à ser mais rígida ao passar pelo posto de comando, obviamente o comandante Klaus estava ali, comandando assassinatos em série.

Outro soldado entrou no recinto e senti minha respiração falhar ao vê-lo se aproximar de uma mulher, seus olhos exalavam malícia e sua mão passou discretamente pela bunda da mesma mulher. O soldado de afastou e vi a mulher engolir em seco, o pedido de socorro estava explícito em seus olhos, senti um nervoso dentro de mim, tinha consciência de que não seria bom ir para onde queriam nos levar, sabia que poderia ser o fim para algumas e o início de um sofrimento maior para outras.

A general apontou, primeiro, uma mulher que tinha o nome de Abigail, ela era um pouco mais velha do que as outras, suas costas eram curvadas pelo cansaço dos anos de vida, havia pequenas rugas acompanhando seu rosto e pequenas olheiras em seus olhos. Em seguida, a general apontou para a segunda mulher, eu não sabia seu nome, não sabia o quanto ela queria ficar ou ir, mas sei que seu coração estava dilacerado ao ter que deixar sua filha de 16 anos, a mulher segurou o choro e fingiu uma postura forte e valente, sua filha a abraçou como se fosse a última vez que fossem se ver, e talvez realmente fosse. A general chamou mais quatro mulheres que não conhecia e o alojamento pareceu vazio, o soldado nazista levou-as para algum lugar desconhecido e logo o dia amanheceu. Ficamos consolando a garota que chorava descontroladamente pela vida de sua mãe, eu realmente não sabia o que teria acontecido com a mulher, mas a garota parecia sentir cada tortura que cometiam com os judeus, seus olhos estavam vermelhos e inchados quando saímos do dormitório. Tomamos banho, a mangueira espalhava água completamente fria em nossos corpos da forma mais violenta possível, o inverno havia chegado e consigo a água também havia ficado totalmente gelada.

Fomos em direção ao local de trabalho e comecei à queimar roupas, seguirei um vestido com as mãos e o analisei, lembrei da mulher que chegara comigo no trem e usava o mesmo vestido, talvez queimassem as roupas que chegamos, talvez também tivessem queimado as minhas, a joguei na fornalha e em seguida peguei um dos uniformes listrados, senti a confusão invadir meus pensamentos e procurei o número da blusa, na parte de trás da mesma havia o número 89, lembrei da senhora que havia sido chamada pela general e que tinha o mesmo número marcado em sua roupa, como forma de identificação. Eu sou a número 24, minha identificação atual é baseada em um número, soltei um riso nervoso e senti meus olhos lacrimejarem, eu não tinha pátria, eu não tinha mais família, eu não tinha uma casa, eu não tinha mais com o que se preocupar, não iria ter meu pai me abraçando antes do jantar ou minha mãe exigindo que eu fizesse uma das minhas tortas de maçã aos domingos, eu não tinha mais nada, sinceramente, não tinha mais o que fazer, também não me importava com mais ninguém, os porcos nazistas me tiraram tudo, esperança, amor, respeito e todas outras coisas importantes para a convivência dos seres humanos, coisas que eles não compreendiam que era necessárias para tudo.

-Ei, judia! Pare de moleza e vá trabalhar, germe. -Um soldado chamou minha atenção e senti o ódio me invadir, eu não tinha mais nada pelo que perder e enfrentá-lo seria suicídio, mas eu não me importava mais.

-E o que vai fazer, seu porco? Vai me matar também? Eu não me importo mais. Quero que você vá para o inferno, todos vocês nazistas. -A ira era presente em cada palavra proferida por mim e o silêncio se instalou no local, as mulheres me observavam com medo do que poderia acontecer comigo.

O soldado ficou irado ao ouvir meu afrontamento, o vi vermelho e rapidamente ele segurou os cabelos da minha nuca, fui puxada pelos fios de cabelo para fora do local de trabalho e senti minha cabeça doer, queria morrer, eu não me importava mais. Fui arrastada até um local grande, meus pés estavam descalços e as pedras em meus pés me machucavam, senti uma tontura imensa em mim e fechei os olhos em ao menos me importar para onde estava sendo levada.

-Imunda! Sua raça nos trouxe desgraça e sua vida é uma mera coincidência da definição de algo desnecessário. -Fui jogada no chão frio de um ambiente e em seguida alguns soldados me puxaram pelos braços, fui obrigada a sentar em uma cadeira de madeira e minhas mãos foram presas nos braços da mesma.- Sua vida não é importante para o mundo, sua família deve estar queimando no inferno agora e você em breve os fará companhia. Mas não agora, se enfrentou um nazista é porque não se importa com a vida, sua punição vai servir para que aprenda a ficar caladinha, como uma verme.

Por um momento, me senti arrependida pelo que fiz. Talvez Deus tivesse me abandonado, talvez ele realmente não se importasse com os judeus, eu não queria morrer, quero lutar por um futuro melhor, sem guerra, um futuro onde as pessoas serão livres para andar nas ruas, sem bombas ou nazistas nos prendendo, nos tirando a liberdade da vida. Deus não se esqueceu de mim, e isso me traz esperança.

Um dos soldados apareceram com uma faca, que na minha concepção parecia suficientemente afiada para cortar minha garganta e me matar em um piscar de olhos, tremi ao imaginar a cena em minha mente. Outro soldado apareceu com um pequeno vaso transparente e dentro aparentava ser sal, o soldado à minha frente rasgou minha blusa com a faca, fazendo meus seios cobertos pelo sutiã ficarem expostos, o tecido gasto caiu no chão e senti meu corpo arrepiar com o enorme frio que fazia. O soldado com o nome de Bruce andou firmemente até atrás de onde estava sentada e segurou minha cabeça com força, uma de suas mãos puxaram meus cabelos, o que me fez jogar a cabeça para trás, engoli em seco e fechei os olhos com força ao sentir a ponta gélida da faca, o soldado da frente, chamado Mike, pressionou a faca em minha barriga e deslizou para cima, sua força fez com que sentisse o líquido escorrer por minha barriga, era como se meu ventre estivesse sendo rasgado lentamente, a faca subiu por minha cintura e arfei de dor, Mike tirou a faca do local e a direcionou até meu pescoço, fez uma leve pressão ali e senti que agora seria o fim, apertei os olhos e senti as lágrimas escorrerem, a pressão fez o sangue escorrer por meus seios e o soldado jogou a faca em um canto qualquer da sala bagunçada. Bruce finalmente me soltou e finalmente pude olhar meu corpo, havia cortes por minha barriga, minha cintura, minha clavícula e meu pescoço, eu estava repleta de sangue e solucei ai sentir o sangue escorrer por meu corpo. Bruce, que antes estava atrás de mim, se posicionou à minha frente e encheu a mão com o sal, sua mão foi de encontro com meus cortes da barriga e senti minhas entranhas queimarem aos poucos, tremia enquanto pude sentir a queimação invadir meu interior, o porco nazista espalhou o sal por todos os cortes, e quando ia chegar ao pescoço, uma voz invadiu o ambiente, uma voz irreconhecível para alguém totalmente sem forças como eu.

-O que estão fazendo? Não podem fazer isso sem a minha permissão, idiotas. -Disse uma voz grossa que me fez estremecer, ao menos pude ver quem estava ali para impedir o maior sofrimento.

-Comandante. -o soldado fez reverência e se posicionou- Estamos torturando essa judia, ela nos desrespeitou e fez por merecer. -Seu tom de voz agora não era tão destemido como antes, parecia temer pelas decisões do comandante Klaus.

-Não podem torturá-la, ela é minha propriedade agora, não deste campo, irei levá-la para ser empregada em minha residência e vocês a deixaram em péssimas condições, eu que deveria torturá-los por tocar nesta mulher, seus imbecis.

Estremeci ao ouvir tais palavras,  a voz que tanto mexia com meus pensamentos conturbados, eu não sabia se tudo aquilo era verdade, não sabia o que iria acontecer, mas ficar perto do comandante me parecia uma boa opção. A melhor delas.

Notas finais: Oi galera! Sei que nunca fiz notas ou escrevi para vocês, mas obrigada por lerem até aqui, espero realmente que estejam gostando e se deliciem com os próximos capítulos.
spoiler: o próximo vai ser com o ponto de vista do comandante (provavelmente).
BEIJOS

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2018 ⏰

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