Prólogo

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18 de Agosto de 1976.

Como de costume, primeiro ela sente aquele gosto salgado em sua boca.

O presságio de seu pesadelo.

O dia é lindo e ensolarado, o mar só imensidão, refletindo sob as águas um brilho convidativo a um mergulho.
O medo surge aos louco.
Ela está comemorando os seus treze anos de idade, e para variar está  junto com seus pais, Arthur e Arlete e seu irmão mais velho, João Lucas no costumeiro passeio marítimo na lancha da família.

Deveria ser uma sensação de alegria, mas é uma mentira. Pele menos naquele instante, a dolorosa lembrança está sempre presente. Sempre.

Sim, um pesadelo.

_Não seja medrosa, Malú - caçoa João Lucas. - A água tá ótima, vem!

_Já disse que não - responde ela emburrada, escondida em seu enorme chapéu que sua mãe a obriga usar. A vontade de mandar o irmão mais velho se foder é enorme, mas não com o papai na área imposssibilita -, você sabe que não gosto.

O incidente na piscina deixou um enorme alerta de perigo perante o mar ou a profundidade. É um pesadelo a ideia de estar submersa.

Sem chance.

Malú realmente ama seu irmão e também sabe que é recíproco, mas sempre deixa se levar pelas provocações do garoto, e o pequeno desejo frequente de matá-lo às vezes parece uma "provável realidade".

Raiva considerável parece uma realidade?

_Medrosa - provoca o garoto de quinze anos de idade.

_Idiota - revide segurando um pequeno chaveiro do Chapolin Colorado que ganhou de sua melhor amiga.

Cadê você, sua vaca sortuda?

_Quer deixar sua irmã em paz, João Lucas? - Deitada de bruços com um lindo maiô sob uma enorme canga, usando óculos de sol e um enorme chapéu, Arlete tenta ler o As crônicas de Nárnia, C.S. Lewis. - Todos têm seu tempo e momento. Se a sua irmã não quer entrar na água, então assim vai ser.

João Lucas revira os olhos enquanto se esforçava para manter o ritmo de nadar em volta da sofisticada lancha da família.

_Ai mãe, não precisa de todo esse discurso.

_Ei! - A voz de Arthur ecoa com autoridade e repreensão. - Isso não é jeito de falar com sua mãe. Nossa, é sério. Quantas vezes temos mesmo que falar sobre isso?

O garoto encolhe os ombros.

_Desculpa, mãe - diz ele envergonhado - desculpa, pai.

Malú sorri, se divertindo da situação do irmão e sente o gostinho de sua vingança exibindo a língua. João Lucas por sua vez joga água na garota que revira os olhos.

_Pai, você devia ter trazido a Lori no lugar desse moleque - reclama Maria Lúcia.

Arlete faz muxoxo em desaprovação com o comportamento dos filhos, enquanto eles tentam disfarçar.

_Você sabe que tentei princesa, mas a Lorena viajou com a mãe dela - Arthur verifica o painel da lancha - e não fale assim com o seu irmão.

_Desculpa - Malú passa o pequeno chaveiro entre os dedos descontraidamente.

Ela desculpa pela educação imposta pelos pais, pois sabe que aquilo é  apenas um momento de descontração de uma família que se ama acima de qualquer situação. A menina na verdade só aceitou o convite para o passeio de lancha devido o apelo de seus pais que quem animar a filha adolescente com problemas, dentre eles um hormonal que dificultava sua menstruação, porém, recentemente ela  esteve numa situação constrangedora na escola, causada por uma colega de classe que havia posto a situação da menina na frente de todos.

Maria Lúcia precisa de sua melhor amiga, a descolada e bem humorada Lorena, a qual todos querem ser amigo devido sua popularidade, mas apenas Malú e Lori são irmãs de alma.  E pela insistência da loira, elas não demoraram em obterem sua vingança  quando a amiga popular deu uma surra na menina, que também empurrou Malú na piscina dias antes, mesmo ciente que ela não sabia nadar, causando traumas na reservada jovem

Malú quer sua grande amiga naquela lancha, mas tem que se condormar em saber que não vão dá risadinhas e implicar com João Lucas.

Graças a Deus.

Pois nesse momento Malú ouve o grito de seu pai, seguido por um impacto que arremessa a menina diretamente no mar.

Primeiro, o choque do impacto contra a água, em seguida Malú afunda enquanto aperta com força o pequeno  chaveiro em sua mão.

O gosto.

A água salgada invade seus pulmões. Ela em desespero, tenta sugar o ar pelas narinas - o que se arrepende de imediato quando a água salgada parece pequenas lâminas afiadas em sua garganta.

Medo.

A menina se debate enquanto afunda à procura de oxigênio e engole mais água.

Vômito.

Ela afunda ainda mais, consegui vê a lancha em destaque a forte luz do sol sob o mar, só que agora muito mais distante, assim como os raios de solarea da superfície e as pernas de seu irmão se debatendo a seu encontro. Ele tenta nadar até ela, mas não consegue ir tão fundo.

João...

Mais vômito.

Malú agora cansada, não se debate mais. Paralisada, ela parece aceitar o seu trágico destino. Pelo menos sua família ficaria bem.

Pelo menos.

Sua visão está turva,  e agora ela encara o breu abaixo dela, o mar não parece mais tão convidativo como antes, pelo contrário, é assustador e... Vazio. E é para esse vasto vazio abaixo de seus pés que a menina está sendo tragada.

Mamãe. Papai.

Malú entrega-se aos braços da morte...

Em breve... Obcecada pelo InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora