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''Sufocada em minhas próprias lembranças, eu imploro por ar... Somente um sopro inocente. ''

...

Os olho atentamente... Por um período curto, mas suficiente para perceber que todos nós mudamos, uns mais que os outros, mas não somos os mesmos desde o acidente.

Essa terra em que estamos há 18 anos é desconhecida. Não sabemos como ou porque viemos parar aqui. Seres místicos e uma sociedade pacata, estranha. Pensamentos semelhantes e costumes idênticos, mas não poderia descrever aqui como meu lar.

Eu e mais alguns colegas sofremos um acidente de carro há 18 anos. Capotamos várias e várias vezes, até perdermos totalmente a consciência e acordarmos aqui. Eu estava sozinha em um lugar desconhecido... Separamos-nos após acordarmos, cada um de cabeça quente tentando voltar pra casa acreditando que o caminho que trilhavam era o melhor possível.

Eu não mudei muito a minha aparência. Meus cabelos sempre foram longos, negros como a noite e lisos. Meu corpo somente acentuou mais as minhas curvas, lembro-me que eu sempre amei minhas curvas quando mais jovem. Eu sou uma mulher de estatura médio-alta e meus olhos, assim como os meus cabelos, são negros.

Observo Amanda com seu ruivo hipnotizante, Vitória com seu olho esverdeado e feição amorosa, Matheus com seus cabelos negros e Pedro com a sua pele alva.

Todos ainda possuindo as mesmas características físicas, porém, com uma grande mudança no seu interior. O sofrimento traz essas mudanças para que amadureçamos. Ou para que pelo menos alguns de nós amadureçamos.

Aquele desconhecido que com eles estavam parecia ser um homem maduro e muito sério. Ele tinha cabelos cor de mel e olhos castanhos profundos. Sua pele era clara e suas roupas alvas como a neve. Ele estava com as mãos para trás e não desgrudava o olhar de mim mesmo que o encarasse.

Inabalável.

Desci do palco e me endireitei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha direita, um costume meu que já vem desde muito tempo.

-Estou feliz que te encontramos Sofi! - Vitoria diz esperançosa.

-Por quê?-pergunto curiosa.

-Vamos voltar para casa! - Amanda se pronuncia.

-Como!?

Assustada, cogito a hipótese de voltar para casa e quem sabe rever minha família e começar do zero. Mas encaro a realidade recordando-me do que já sabia sobre a possibilidade de voltar para casa.

-Já faz 18 anos, estamos todos adultos. Acham que alguém ainda nos espera retornar? - Pergunto a eles.

-Corremos esse risco... - Pedro pondera.

-Mas poderemos percorrer o caminho por todo esse reino até o outro reino do sul. Finalmente faríamos a jornada por esse mundo corretamente. Juntos! - Matheus declara transparecendo segurança.

Seria uma excelente oportunidade para mim.

-Foi complicado te achar, na verdade, te encontramos acidental e extraordinariamente. - Amanda diz.

-Sim! Ninguém nunca ouviu falar de você, ou quando o tinha ouvido, dizia que havia desaparecido há 17 anos. Você é uma espécie de lenda, como se fosse somente um fantasma. - Pedro complementa.

Talvez realmente seja.

-Melhor assim. - Ressalto.

-Queríamos saber o que houve com você... E agora pessoalmente eu quero saber o que aconteceu que te mudou tanto assim!-Matheus me encara.

-Todos mudam.

-Mas você foi a maior das mudanças. - Amanda diz.

-Eu insistiria se não soubesse que cada história terá um momento certo a ser revelada. - Matheus finaliza e olha para o desconhecido.

-Como sabe disso?-Pergunto buscando respostas. - O destino por acaso te mostrou algo?

-Bom, não temos mais tempo. Ainda faltam ou outros cinco do carro que vinha atrás de vocês! - O desconhecido fala com uma voz grossa e autoritária.

O encaro.

-Bem, você aceita ir conosco? - Matheus me olha.

Pondero soltando meu cabelo de trás da orelha.

-Eu irei com vocês, mas só até onde achar que devo ir.

-Convenceremos você no caminho que o melhor é ir até o fim, até chegarmos em casa.-Vitoria diz.

-Qual o seu nome? Já que não fomos apresentados. - Olho para o moço de roupa branca.

Sua roupa consiste em uma camisa e uma calça branca, seus sapatos, da mesma cor. Ele usa uma espécie de terno branco com alguns arabescos em azul nas mangas e barra, mas não usa gravata. Sua roupa parece ter uma luz em volta. Algo místico que me intriga.

-Prazer Sofia, meu nome é Ivan. Sou um cavaleiro do norte, um guia de destinos.

-Vai me levar até o meu destino?-O olho de maneira profunda.

-Você acredita em destino?

-Só sinto que o meu está bem próximo a mim. Então sim, eu acredito em destino.

Ele sorri de lado e ergue uma sobrancelha intrigado.

-É, aqui temos um bom começo. Vamos!-Ele vira e sai do estabelecimento.

Um a um vamos o seguindo até a parte de fora.

Não há nada de mais por aqui. Já está entardecendo, o céu está alaranjado, e sol bate em meu rosto quando saio. A estrada é um caminho de pedras grandes afundadas no chão. Ao nosso redor temos somente árvores e uma floresta densa seguindo adentro da vegetação rasteira da lateral.

Os peço para me aguardaram enquanto pego a pequena mochila preta que carrego comigo com algumas peças de roupas.

Sinto-me livre todas as vezes que coloco os pés na estrada, e dessa vez, o ar pareceu ainda mais leve. Talvez o reconforto de não estar inteiramente sozinha me dê um alívio.

Começamos a andar em direção ao leste. Parecendo aquelas cenas dos filmes que assistia com minha mãe quando era menina. Mas a vida para mim não tinha sido tão bela quanto nos filmes.

Todos estão apreensivos, eu sinto. Aprendi a estudar as pessoas, a saber o que elas sentem, o que querem, como e quando querem.

O Ivan, até então desconhecido por mim, mesmo que totalmente inabalável já me transparece mais o que quer. E creio que ele, assim como nós, está em busca do seu destino.

Um guia pode até direcionar o caminho que precisamos percorrer, mas eles as vezes também precisam ser direcionados pra onde devem ir. No final de tudo, eu sei que o nosso destino tem somente um guia, e que aparecerá quando sincronizadamente nossos corações bateram.

...

Continua












Your Queen - Sua Rainha [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora