capítulo 3 - O RETORNO DA PRIMOGÊNITA

35 1 1
                                    

Caminhando por entre os móveis, notei que nada parecia com o alegre lar em que eu vivia. Meus passos pareciam ecoar. Ponderei que a casa pudesse estar vazia.
- Tem alguém aí?
- Maninha?! - então surgiu meu irmão mais novo, de 10 anos, o João. Finalmente, alguém! Ele correu e me abraçou apertado, esboçando um sorriso. Logo em seguida a caçula de 5 anos também me viu e fez o mesmo.
- Ainda bem que você voltou de viagem. Não sei mais o que está acontecendo nessa casa... - Disse ele, com os olhos marejando.
- Papai? - perguntei apreensiva.
- Sim... - Respondeu ele. Uma lágrima pesada caiu de seus olhos.
Nesse momento abracei ele com todas as minhas forças. Aquela criança doce não merecia um lar como aquele. Já com lágrimas nos olhos, disse:
- Sabe como podemos nos acalmar? Vamos lembrar de coisas boas. Quem é que quer ouvir uma canção?
Peguei meu violão em meu antigo quarto e comecei a dedilhar uma melodia que papai sempre cantava quando éramos todos pequenos. Até parecia que ele via o futuro naquela letra. Enquanto cantávamos a música, sua lembrança ficava cada vez mais forte. Sentia como se ele cantasse conosco.
"Lembre de mim
Hoje eu tenho que partir
Lembre de mim
Se esforce pra sorrir

Não importa a distância

Nunca vou te esquecer
Cantando a nossa música
O amor só vai crescer

Lembre de mim
Mesmo quando não voltar
Lembre de mim
Se um violão você escutar

Ele com seu triste canto
Te acompanhará
E até que eu possa te abraçar
Lembre de mim" (música no começo do capítulo).

Meus irmãos me acompanharam cantando também. Fecharam os olhinhos como se estivessem sonhando. "Fechem os olhos. Fechem os olhos e esqueçam desse mundo terrível. Vocês são anjos, anjos...", pensei, derrubando mais lágrimas do que gosto de lembrar.
Eram tão pequenos, ainda não mereciam passar por tudo aquilo. Era melhor para eles se eu não dissesse nada, apesar da dor que sentia em omitir algo que eles tinham todo o direito de saber. Também, por enquanto, não iria contar que não estava viajando, mas sim resolvendo coisas da família, que os envolviam. Aquelas crianças eram minha própria vida, não a imaginaria sem eles.
Desejava com todas as forças que as coisas dessem certo. Era coisa demais pra uma garota de dezesseis anos pensar sozinha.

 Era coisa demais pra uma garota de dezesseis anos pensar sozinha

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A TULPA HUMANA - AnistiadosOnde histórias criam vida. Descubra agora