Você já se arrependeu de algo? Pois é, me sinto assim. Naquela noite em minha varanda, fiquei tão feliz. Estava ansioso para falar com Mira no dia seguinte. Mas quando cheguei ao Lycée Charlemagne, ela não estava lá, e permaneceu sem estar lá durante todo o restante do dia. Tudo bem, foi uma falta. Mas os dias foram ficando piores. Não conversávamos direito, Mira passou a andar com Clementine e as outras garotas da sala. Ela me evitava, não me olhava no rosto como antes. Está me privando de seu olhar belo e penetrante. Sabe como isso é ruim?
O clima está estranho entre nós, e sei que é culpa minha. Naquela maldita noite, naquela maldita varanda, por causa daquela maldita paixão. Sim, estou apaixonado por Miranda Jade, desde que a conheci ano passado no sexto ano quando ela foi transferida para nossa escola. Seu cabelo era longo, castanho escuro, me fazia pensar em ondas tão naturais quanto madeira de carvalho, sem nenhuma maquiagem se destacava entre todos os rostos pintados. Lembro que eu tinha medo de falar com ela. Theo trouxe-a para perto, dizendo que deveríamos ser legais com os novatos e desde então, somos um trio.
Passam-se dias, semanas, meses. E estou ficando louco. - Ei, tapado. Ainda pensando nela? - Theo me dá um tapa na testa e me tira de meus pensamentos. - Sabe, em outubro vai acontecer o baile de Outono. O grêmio estudantil resolveu que o tema seria "baile no fundo do mar". - E então ele passa a me olhar, como se esperasse que eu dissesse algo. - Vou ter que desenhar né? Ao invés de ficar ai bolado, chama ela pro baile, converse, diga o que sente.
- É tão difícil Theo. Parece que ela não quer falar comigo, naquela noite, devo tê-la deixado desconfortável. - Tenho medo do que pode acontecer.
- Você nunca vai saber o que pode acontecer se não tentar. - Ele sempre sabe o que dizer. Theo é um cara legal, desde sempre me lembro de quando brincávamos na mansão dele. O pai de Theo, o senhor St.Claus era um influente magnata de construção civil, o mais conhecido e procurado da França. Ele era um cara bacana, até começar a encher a cabeça do meu amigo com essas coisas da empresa. - Não quero te ver faltando a mais um baile esse ano. Primeiro foi o de abertura das aulas, depois o de Verão, e agora esse também? Estamos passando por toda essa situação americanizada, então, aproveite.
Isso está errado. Parece que sou um daqueles garotos nem um pouco populares, que se apaixona pela garota mais bonita da escola. Deveria ser esse o caso. Mas éramos tão próximos, eu e ela, ela e eu. Fizemos tantas coisas juntos. Por que eu tinha de falar aquilo? Ela está sempre rodeada de outras garotas, parece que nunca está sozinha. Então o jeito vai ser criar coragem e ir. Uma vez vi num filme que só precisamos de vinte segundos de coragem. Vinte segundos sem pensar em nada. Me dirijo então até onde ela está, na hora do almoço sentada com as amigas. Paro em frente a mesa dela.
- Mira. - Todas as garotas olham pra mim. Algumas neutras, outras sorrindo e uma ou outra estavam tipo "o que esse zé ninguém está fazendo?". Ignoro tudo. - Posso falar com você, a sós. - Sem dizer nada, ela se levanta.
- Claro Joshua. - Meu nome inteiro. Não foi Josh, não foi Jojo. Ela se referiu a mim como Joshua. Pisei na bola legal. - Vamos? - Aceno, então passamos a andar pelos corredores, e paramos no hall de entrada da escola. Havia cartazes do famigerado baile por todas as partes. - Sobre o quer falar?
- Quero me desculpar. Somos tão novos... - Olho para ela, que não tinha olhado pra mim até agora. Continuo. - Naquela noite, na varanda. Eu não devia ter dito aquilo. Desculpe se te deixei envergonhada, era algo inapropriado. Perdão. Me perdoa?
- Te perdoo. Não precisa se culpar tanto, eu podia ter fingido que não ouvi. Eu saí de lá tão abruptamente, tive medo de ter feito você se sentir mal. Desculpe também por ter me afastado. Eu não sabia o que fazer. - Ela me abraça. Como isso é bom. Me lembro do que devo dizer agora.
- Ainda estamos em setembro, mas sabe o baile no fundo do mar? Quer ser meu par? - Digo. É agora ou nunca.
- Sim! - Mira diz, animada sorrindo. Toco seus curtos cabelos castanhos. Tão macios. - Eu não iria ao baile, mas já que você me convidou. - O sinal toca, acabou nosso horário de almoço. Voltamos a sala juntos, conversando. Que saudade disso. Diferente da prova de química, aquilo eu queria é esquecer. E assim termina o dia. - Tchau Josh, até amanhã! - Ela se despede de mim e segue por um caminho diferente.
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O tempo foi passando, estou tão feliz. Mira voltou para nós. E em um piscar de olhos outubro chegou. Por toda a escola a equipe de decoração corria de um lado pro outro, era uma loucura, esse povo era doido. Eu e meus amigos estávamos na equipe também. A quadra estava sendo decorado com faixas azuis, uns cavalos marinhos, estrelas do mar. Eu estava colocando papel azul nas lâmpadas, devo admitir que a decoração estava realmente bem feita. Agora bateu o arrependimento de ter perdido tantos bailes.
E chegou o grande dia, meu primo Christian me emprestou o smoking dele. Eu parecia um pinguim. Quando chego na escola estão todos se divertindo, dançando, comendo. O cenário está magnifico. Me faz lembrar de um livro que ouvi minha mãe lendo um dia desses. Os sete Amares era o nome do livro. O autor comparava as paixões de um homem com os sete oceanos do planeta, e com cada uma, passou uma situação diferente. Ele passou por poucas e boas, mas no fim conseguiu ser feliz. E o melhor de tudo é que o autor nunca cita nada real, ele usa metáforas na maior parte do tempo. Será que ele já sofreu por causa do amor?
Após alguns minutos ela chega. A visão que tive nesse momento... foi incrível. Não, não há palavras pra isso. Lá estava Miranda Jade, com seus cabelos maravilhosamente bagunçados, óculos de armação verde-água, e um vestido de renda verde esmeralda, tudo nela se encaixava perfeitamente guiando rumo aos seus olhos cor de jade. Ela é a jade mais preciosa de todas. Ela está se aproximando.
- Josh, você está bonito. Pinguimzinho. - Mira começa a rir. Tanto faz se ela caçoou de mim. Não paro de olhá-la. Ela olha pra mim.
- Você está tão linda, Mira. - Digo, vejo-a um pouco corada. Ela agradece. Começamos a nos divertir, vimos o Theo inclusive. Ele estava com uma garota que eu não tinha reparado na escola ainda. Bom pra ele. Ficamos bastante tempo lá, até que o dj do baile colocou uma musica lenta, daquelas que o casal dança juntinho. - Quer sair daqui? - Digo pra ela.
- É o que eu mais quero. - E assim, vamos para fora da escola, damos uma volta pelo jardim enquanto falamos sobre as coisas engraçadas do baile, tipo o Johan derrubando ponche em uma garota. - Aquilo foi tão engraçado. E quando o Jacques montou no cavalo marinho enquanto fugia do Johan. - Ela ria. Sempre tinha um sorriso no rosto, admiro isso nela. - Obrigado, não teria me divertido tanto se não fosse por você. - Ela me abraça. Eu crio coragem.
- Mira, eu gosto de você. - Ela me olha.Aproximamos nossos rostos. E nossos lábios se tocam. E foi em outubro no baile, que eu a beijei pela primeira vez.Naquela noite, beijei Miranda Jade.
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Dos 13 aos 33
RomanceNão concorda que o verdadeiro amor supera qualquer obstáculo? O amor pode sobreviver ao tempo? Joshua Tidall irá nos mostrar uma grande história.