No fim, eu apanho feio

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  Passei os últimos dias num leito de hospital, quebrei minhas duas pernas, algumas costelas e meu maxilar. Os médicos nem fizeram questão de me dar falsas esperanças. Papai morreu instantaneamente naquela batida. Mamãe não resistiu e chegou ao hospital morta. Mas o caminhoneiro, este passa bem seja lá onde ele estiver, afinal de contas, o cretino fugiu. Então tenho passado meus dias olhando para esse teto branco, dividindo meu tempo ás lágrimas ou ouvir a nojenta frase "você está bem?". Eu só quero sair daqui, não aguento mais.

  Deus, tenho apenas 13 anos, nunca achei que passaria por isso, minha vida era ótima, tinha pais amorosos, nenhum problema, tinha meu melhor amigo Theobald Saint Claus... Tinha ela. Miranda Jade. Por um momento, eu tinha cogitado a ideia de trazê-la até aqui comigo, já que ela queria ir aos Estados Unidos. Não queria deixá-la triste com todo esse clima de velório, mas consegui do mesmo jeito. Ela não sabe, ninguém sabe o que houve, não há como saberem. Os celulares foram deixados no carro, que explodiu depois de sermos retirados.

  Pai e Mãe, eles me ensinaram tudo, e tinham tanto para me dar ainda, tinham conselhos, muito amor. A única coisa que sinto é tristeza, Papai e Mamãe se foram de verdade e Paris parece inalcançável... O que será de mim agora? O Dr. Carpenter disse que um agente do conselho tutelar viria falar comigo, isso não parece bom. Mas tudo que posso fazer e me manter positivo e ver no que tudo isso vai dar.

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  Me recuperei nesses meses, estamos em fevereiro, no dia 13 de uma terça para ser mais exato. Meu aniversário é dia 21 aliás. Recebi alta e é hoje que o agente do conselho virá falar comigo. Não posso dizer que estou animado, na verdade não sinto muita coisa além de melancolia por todo esse tempo. Alguns minutos após a alta, ele chegou. Era um homem bem alto, negro, de cabeça raspada. Trajava um terno azul risca de giz e um óculos escuro.

  — Joshua Tidall? — Confirmei com a cabeça. — Ótimo, me chamo James Smith. — Ele diz, enquanto me estende a mão, cumprimento-o.

  — Então, o que vai acontecer comigo, senhor? — Pergunto.

  — Bem, você tem poucos parentes vivos, os que foram localizados não tem condição ou interesse em ficar com você. Isso é triste, devo dizer... Lamento muito ter de te dizer isso, mas... Você irá ficar em um orfanato até ser adotado ou chegar á maioridade. — Dizia o agente retirando os óculos, com seus olhos caídos e pesarosos.

— ... Certo, pelo visto ficarei aqui por um bom tempo. — Eu realmente não tinha muita esperança desde o principio. Tudo que posso fazer é usufruir da comida e cama que estão a me oferecer.

  — Você irá ser mandado para um orfanato em Brownsville, é uma cidade que fica próxima daqui, lá será matriculado em uma escola pública. — Ele tomou uma postura mais séria e seu semblante passou a me encarar de forma mais séria. — Venha comigo, vamos até lá agora mesmo.

  Entro no carro dele, e assim começamos nossa viagem de duas horas até Brownsville. Ele não falou nada, muito menos eu. Isso é ótimo, me deu tempo para observar a paisagem e pensar. Pensei em como seriam as coisas agora, e se eu não for adotado? E se eu for? Se meus pais adotivos forem dois psicopatas? Se eu não for adotado, serão cinco anos longe de tudo que conheço, de Paris, Theo, Mira? Eu tenho de voltar, não importa como. No meio da viagem, tive uma ideia.

  — Senhor Smith... — Ele pergunta o que eu desejo. — Posso usar seu telefone? Gostaria de falar com meus amigos em Paris. — Ele me dá o celular dele já desbloqueado, disco o número de Miranda e ligo para ela. Uma voz me diz que este número não existe mais. Com Theo não foi diferente. Não sei mais nenhum número. Eu e meus amigos não somos adeptos de usar Facebook ou Twitter, então, não tenho como falar com eles. Droga, agora estou me amaldiçoando por não ser um jovem alienado por causa da internet.

  — Chegamos, Joshua. — Ele diz me diz, entrego o celular dele. Estamos em frente ao Instituto Seekinger, o orfanato de Brownsville. — Então, é aqui que você irá viver até ser adotado Joshua. Aquela vindo ali é a Sra. Seekinger, a fundadora do orfanato. — Apontou James para uma mulher vindo em nossa direção. Ela aparentava ter seus 40 e tantos anos, trajava uma espécie de terno feminino. Ela nos estende a mão.

  — Seu trabalho está feito Smith, obrigada. — Ela disse sem mostrar muita emoção. Senhor Smith pareceu não se importar e deu meia volta, entrando em seu carro. Agora éramos eu e ela.    — Joshua Tidall, agora você será parte dessa instituição, dessa família. Vamos, tenho de lhe mostrar o seu novo lar provisório.

  Aquela foi uma tarde cheia, tive de aprender várias coisas sobre o orfanato, os cômodos e suas funções, alguns funcionários, um ou outro probleminha estrutural, deveres e direitos, etc. É, eles não são ricos. Senhora Seekinger me indicou meu quarto, eu teria um colega, um outro garoto que estava lá a mais tempo. No momento ele não se encontrava lá. Me instalei e fui dormir.

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  Já faz uma semana que estou aqui, sinto saudade de toda minha antiga vida, sinto saudade dos meus pais, dos meus amigos e do meu amor. No começo tive esperança de ser adotado por um casal, pediria a eles para irmos á Paris, veria todos de novo, veria ela. Mas, meus sonhos murcharam cedo, os mais velhos me disseram como são as coisas, criancinhas novas, essas são adotadas sempre, mas quando se passa dos 12 anos, as coisas são um pouco diferentes. Geralmente ficamos aqui até virarmos adultos, daí temos de sair daqui, trabalhar, isso nem sempre é fácil.

  Conheci meu colega de quarto. Ele se chama Andrew Grey. Temos nos falado bastante antes da hora de dormir. Bom, ele tem 15 anos, é mais alto que eu, um tipo meio magro de pele pálida, com cabelos castanhos quase pretos. Ele também perdeu os pais em um acidente, um acidente envolvendo álcool. Fomos juntos á escola durante esses dias, estou no sétimo ano e ele no nono, nossa idade não é tão distante assim. E é na escola que os problemas de Andrew começam.

  — Andrew, vai ter aula do que agora? — Pergunto.

  — História, vai ser bem chato. Bom, te encontro no almoço. — Ele diz, nos despedimos e então ele se dirige á sala dele. Vou indo também.

Depois de alguns minutos tive de ir ao banheiro, quando entrei lá, fiquei extremamente irritado.

  — Então, aquele garoto que chegou com você é seu novo namoradinho? — Um garoto acompanhado de outros gritava com Andrew, este estava calado. — Responde bicha! Você é uma aberração. Mas já que você gosta de homem, então, que tal se a gente se divertir um pouquinho? — Ele pega Andrew pelos braços e o joga no chão do banheiro.

  — Me deixa em paz! — Andrew grita. Isso me faz explodir.

  — Deixem ele em paz, bando de otários! — Grito chamando a atenção de todos eles.

  — Veja Andrew, seu namorado veio te proteger. — Fala aquele garoto, ao fundo ouço Andrew me dizendo para ir embora, mas não vou mesmo. Chego naquele cara e dou um soco na cara dele. — Ora seu...

  E o que veio depois foi um banho de sangue, tinha uns 4 caras ali no banheiro, todos se jogaram contra mim, eu estava no chão sangrando por toda parte do corpo possível, enquanto recebia chutes e socos, até que vi o zelador aparecer. Desmaiei novamente.  

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⏰ Last updated: Sep 07, 2018 ⏰

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