O som escapou dos meus lábios sem que eu pudesse me conter, e o chiclete ricocheteou pela minha língua, indo de lá para cá. Meus dentes batiam uns nos outros, a arcada de cima contra a de baixo, e o barulho parecia tão aterrorizante quanto fascinante. A carne do meu rosto estava em frangalhos mas o sangue que escorria pelas bochechas também era o motivo das minhas risadas.
Morango. Dois. Roxo. Era engraçado. Dei risada de novo.
Apertei os dedos no volante ao passo que coçei os olhos, não muito certo se a estrada a minha frente se portava num dia claro ou escuro. Poderia ser meio dia tanto quanto poderia ser três da manhã.
Colar. Amigo. Porta malas.
Porta malas.
De alguma maneira, o carro parecia pesado. O cheiro de esgoto pairava no ar e tudo que eu consegui pensar foi que, com certeza, aquela colônia provinha do corpo de Jimin. Sempre acreditei que ele era um lixo, de qualquer forma. Mesmo assim, as rodas do veículo pareciam ter se tornado quadradas porque eu pisava no acelerador com a mesma força que um dinossauro esmaga humanos naquele filme esquisito que eu vi.
Foi semana passada? Quarto. Namorado. Pó. Jungkook.
Era tudo culpa da merda do Park e da mania estupida que ele tinha de desfilar por aí com seus hematomas como se eles fossem um colar.
— Yoon, venha ver isso! – ele gritou abruptamente, entrando no meu quarto e não se assustando nem um pouco ao ver meu nariz vermelho depois de fumar uma carreira inteira.
Linhas brancas. Roxo. Jimin.
— Quê, porra?
Meu estômago embrulhou, como sempre fazia, e eu deitei de costas na cama. Encarando o teto, coloquei os dedos na frente dos olhos e tentei contar.
Dois. Seis. Vinte e seis.
Eu sou muito novo para ir parar na cadeia.
— Olha o que o Jungkook me deu!
A mera menção do nome foi o suficiente para que meu corpo moribundo caminhasse pelo quarto até a escrivaninha e agarrasse Jimin pela gola da camisa.
Pescoço. Colar. Roxo. Jimin e Jungkook.
A língua de Jimin se enrolou e ele se jogou pra frente quando sua gargalhada estridente se tornou audível. Maldito filho da puta do caralho.
O pescoço do Park está roxo. Roxo como quem foi amarrado, roxo como quem foi chupado, roxo como quem traiu.
Jungkook me traiu.
Tudo que consigo fazer nesse momento é enterrar um soco desajeitado demais para ser considerado como tal no rosto, agora, nem tão perfeito do mais baixo.
Eu quero que ele morra.
— Jungkook transou comigo, Yoongi! — ele ri de novo, seu hálito uma mistura de vodka e vômito tocando no meu rosto. — Ele me fodeu tão gostoso...
Jimin pediu. Meu corpo agarra o seu e nós dois caímos em cima da mesa de centro. Tudo vira uma bagunça de sangue, cocaína e pedaços de vidro. As unhas finas de Jimin prendem-se em minhas bochechas e arranham toda a minha pele enquanto ele grita.
Eu pego um caco de vidro e forço contra a sua garganta.
Eu quero que ele morra.
Eu quero ele morto.
Eu matei Park Jimin.
Só notei que ele estava morrendo quando seus olhos começaram a revirar e espuma escorreu entre seus lábios fartos. O sangue jorrou para fora de sua garganta e pintou os dedos das minhas mãos com seu tom rubro, mas eu nem me importei. Esfreguei as palmas no rosto, no pescoço, nos braços e no tronco, me delicando com cada gota daquele líquido absolutamente milagroso.
Ainda debruçado sobre o corpo de Jimin, dias ou segundos depois de seu óbito, ouvi um motor arrancando na rua.
Sedam. Vermelho. Jungkook.
Me levantar e conseguir tirar o corpo de Jimin da bagunça deve ter demorado pelo menos uns dez minutos. Sei disso porquê, quando finalmente consegui, saliva escorria de meus lábios, meus joelhos e cotovelos estavam completamente furados e ninguém mais ninguém menos que Jeon Jungkook me esperava na porta da frente.
Colocar o corpo de Jimin no carro deveria ter sido fácil, já que eu sou mais alto e mais pesado, mas cada passo era como andar sobre areia movediça. Simplesmente me cansei e atirei seu corpo contra o concreto quente e observei mais uma poça se estendendo, tocando os dedos da mão esquerda de Jungkook.
Enfiar a faca que surrupiei da cozinha na barriga do meu namorado soa mais difícil do que realmente foi. Ele não mostrou resistência alguma e pareceu gostar de tomar seu lugar ao lado do traíra no tapete do que era pra ser a sala do meu apartamento de quarenta metros quadrados.
Tive que usar toda a força restante em meu pequeno corpo para conseguir pisar no freio.
Duzentos. Desliga. Pega a arma. Tira o cinto. Irônico que você tenha usado cinto, Yoongi, meu subconsciente gritou, ou quem sabe fosse o Jungkook semi-morto no meu porta malas.
Jimin me abraçou e colocou uma caixinha de chicletes de morango entre meus dedos antes de sair correndo e gritando pelo apartamento moribundo.
Puxei Jungkook pelo pé e só então percebi que ele usava somente um par dos All Star pretos de cano alto. Com os dedos tremendo como um idoso, arranquei o outro, porque não era justo deixá-lo se vestir daquele jeito. Depois de jogar seu corpo pesado e esguio na sarjeta, abri o compartimento traseiro e enfiei a ponta do tênis dentro dos lábios rachados do corpo ainda quente de Jimin.
Meu quarto. Dinheiro. Vinte e seis.
Eu sou muito novo para ir parar na cadeia.
Nem ao menos fechei a porta de trás ou o porta malas, só pulei no banco do motorista e saí feito um louco.
Zigue-zague na rodovia. Maxilar. Morango. Dor.
Meu nariz sangrava copiosamente, com a veemência de uma parte do corpo que não quer mais bombear o líquido para si. Mesmo assim cheirei uma, três, cinco, até a cabeça doer e o estômago revirar. Espalhei tudo pelo sofá esburacado e gritei a plenos pulmões quando a imagem horripilante do meu próprio reflexo apareceu sob meus olhos.
Não consigo mais sentir gosto algum. Os anos de cigarro destruiram minhas papilas e o chiclete nunca teve graça alguma.
Abri um pacote de Cheetos sabor picante e virei tudo no rosto, sentindo a língua pinicar, mas nada além disso.
Será que eu conseguiria sentir o gosto do sangue de Jungkook?
Me debruço contra o piso gelado e lambo o chão, espalhando ainda mais o líquido na minha pele.
Nada. Tem o mesmo gosto que o morango.
Vejo algo na estrada mas não consigo entender exatamente a distância em que se encontra de mim, mas isso não importa mais. Piso forte e fundo no acelerador.
Cento e quinze. Roxo. Colar. Morango. Viatura.
O sedam vermelho de Jungkook, que eu roubei logo depois de matá-lo, se choca contra a patrulha policial no final da rua, na frente do prédio.
Min Yoongi está morto.
se vc chegou até aqui e tá pensando "que porr eh essa" eu digo pra vc que foi de proposito ta bom eu juuuuro.
a ideia era fazer um triangulo amoroso extremamente problemático entre o jimin, jungkook e yoongi. prefiro não explicar porque quero que cada um tenha sua própria interpretação mas a narrativa é alinear mesmo, por isso ora ela está em um lugar e ora em outro.
comentem o que acharam, pitucos, por favor!
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INTOXIQUÉ
FanfictionOnde é que foi parar minha cabeça? Talvez esteja na sarjeta, onde eu abandonei os corpos mortos de Jeon Jungkook e Park Jimin, os únicos homens que eu já amei. [ yoonkookmin | song!fic | murder au ]