Musubi

Duas almas

O caminho até o carro foi em silêncio, acredito que nenhum dos dois sabia o que dizer.
Meu pensamento vagava pelo que tinha acabado de acontecer, com a entrada de Mikasa na sala, de relance eu olhava para Levi que apesar de não demonstrar qualquer sentimento balançava a perna direita levemente, isso demonstrava que estava nervoso.
Chegamos ao carro, entrei no banco do passageiro e lhe disse o endereço da cafeteria, ele ligou o som baixo no volume mínimo e pude perceber que ouviamos o mesmo tipo de música.
"- Desde quando você tem sonhado com isso ?" Ele perguntou sem tirar o olhos da direção.
"-Desde os quatorze, mas nunca consegui ver tudo com clareza e você? ?" Perguntei olhando para ele, não consigo dizer o que é, mas desde que vi o Ackerman a primeira vez, algo sempre me puxa para ele, talvez não sejá só as lembranças da vida passada, parece que é algo a mais, nós somos novas pessoas em uma vida nova, porém eu não consigo desviar o olhar dele.
"- Comecei a ter os sonhos com 12, no começo achei que era porque estava lendo muito mangá e essas coisas, mas eles só cresceram cada vez mais, no começo eu só via pessoas sem rosto, monstros  e pessoas morrendo, depois eu comecei a identificar as pessoas, mas você, eu nunca consegui ver seu rosto, apenas os olhos". Ele olhou diretamente para mim, me encarando o que me fez corar.
"- Eu também só via seus olhos, os olhos que procurei por tanto tempo", eu disse olhando para janela, pensando no que fariamos agora.
Levi parou o carro estacionando, saimos do mesmo e lá estava o café, uma lugar com a pintura em marrom e listras rosas, na parte de dentro tinha umas mesinhas de madeira e uma luminária em cada uma dando luz aquele ambiente e uma grande janela que dava pra ver os prédios altos.
Entramos no local e o Ackerman foi escolher um lugar para sentarmos, eu segui até a vitrine de doces, era maravilhado com aqueles bolos cheios de confeitos, pedi um bolo com leite ninho e morango e fui me sentar.
"- Você vai comer doce antes de almoçar ?" Ele disse olhando com cara de desprezo para meu bolo...
Eu fiz um biquinho inconsciente e afastei meu prato de perto dele...
Percebi o mesmo sorrir levemente...
Queria ter fotografado o capitão daquele jeito e guardar  na memória.
"- Eu nunca consegui te trazer em um local assim, naquele tempo, a gente só pensava em sobreviver" ele disse relembrando dos sonhos.
"- O quanto você se lembra ? " eu perguntei curioso, geralmente eu sonhava com cenas, mas nada que envolvesse nós dois por completo, geralmente eu estava lutando e procurando pelo capitão.
"- Me lembro de quase tudo, na verdade foram anos sonhando com isso, só não me lembro de como tudo acabou, se salvamos a humanidade ou morremos devorados por eles", ele disse tomando o café que havia pedido a pouco para o garçom.
"- Você se lembra de nós ?" Eu perguntei tentando não ficar corado, mas falhando totalmente.

Ele sorriu de novo, se eu não o conhecesse de outras vidas e tivesse alguma ligação com ele, com certeza  eu me apaixonaria por ele naquele momento.
"- Depende do que quer saber Jaeger, me lembro de tudo, mas não com exatidão" ele disse com um tom de deboche.
Eu deixei de encara-lo para encarar meu bolo que estava na metade.
"- O que nós tinhamos ? Qual era a nossa relação?" eu perguntei baixo...
"- Eu... não sei, não posso te falar isso, eu não entendo direito o que tinhamos".  Ele disse com uma expressão confusa, parecia que não queria falar algo que expressasse o que estava sentindo.
"- Você ja amou alguém, Levi ? Nessa vida ?" Perguntei, queria desvendar o que ele sente.
"- Passei a minha adolescência toda procurando o dono dos olhos verdes, não haveria outra pessoa que poderia ter esse tipo de sentimento". Eu senti meu coração acelerar, ele sentia o mesmo que eu sentia.
"- Você ama minha irmã?". Ele agora me encarava segurando a xicara de café pela borda de cima, meu capitão tomava chá assim.
"- Não posso dizer que é amor, eu procurei a minha vida toda seus olhos, e os olhos de sua irmã foram os mais próximos que cheguei de você" disse olhando dentro daqueles olhos que tanto me arrepiava.
"- O que iremos fazer agora ? " ele continuou o contato visual.
Senti todo o meu corpo arrepiar com aqueles olhos, cada parte do meu corpo se sentia atraído quando ele me olhava assim. Quando foi que eu me apaixonei por você capitão? Quando foi que você teve tanto poder sobre mim ? Suspirei fundo, sem quebrar aquela troca de olhar que tocava a alma e trazia de volta tudo que um dia vivemos, todos os sentimentos, os medos e as incertezas.
"- Eu não sei, sinto que não posso me ver longe de você novamente". Eu disse agora olhando os lábios do capitão, eles eram finos, mas pareciam macios.