Suspirei pela centésima vez naquele dia, enquanto olhava pela janela. Observava os pássaros nas árvores, cantando aos ventos, se comunicando uns com os outros, preparando-se para levantar vôo. Acho que era isso que mais me fascinava neles, a liberdade absoluta. Podiam ir e vir a hora que queriam, ir para onde quisessem, ser independente. Era isso que eu mais ansiava, ser a dona de mim mesma. Faltava pouco no meu calendário, apenas mais 3 anos, já que hoje era exatamente o dia em que eu, e meu irmão Thiago, fazíamos os tão esperados 15 anos. Eu acho que deveria me sentir diferente, mas isso não aconteceu em momento algum, pelo menos não comigo, Thiago sempre foi o mais emotivo.
Ao fundo escutei alguns murmúrios vindo da TV e de alguns colegas meus, que me tiraram dos meus pensamentos. Fechei os olhos soltando mais um suspiro, virei minha cabeça para o lado encontrando minha melhor amiga Sophia Peletier rabiscando em seu caderno, não dando atenção nenhuma às notícias na TV. Me ajeito olhando para frente, vendo que Thiago dormia bem profundamente, também não dando atenção nenhuma para o que a jornalista tentava nos alertar.
Foi então que uma música bem alta começou a tocar e a repórter foi interrompida, dando oportunidade para que o plantão do jornal pudesse passar. Me assustei com essa mudança repentina no noticiário assim como todos presentes na sala, Sophia parou de desenhar seja lá o que estivesse rabiscando, Thiago acordou no susto, mas ninguém deu importância pois a atenção estava completa na TV.
A câmera estava focada em uma pessoa que parecia estar desmaiada, estirada no chão, com outra em cima dela, mas essa outra não parecia estar em seu estado mental normal, pois rasgava a pele da desmaiada, arrancando sua carne e levando até a boca, mastigando incansavelmente. Mas isso não podia estar realmente acontecendo, pessoas não comem umas às outras, não desse jeito, não no meio da rua a luz do dia. Então a situação mudou, os policiais chegaram até o local e tentaram dialogar com o "canibal", mas parece que ele não estava para conversa. Se levantou meio cambaleante, deixando de lado o corpo desmaiado e totalmente desfigurado, no chão, e avançou contra um dos policiais. Esse começou a atirar, atirou por tudo, barriga, pernas, peito, no coração, mas de nada adiantou, a "coisa" agarrou o braço dele e deu uma bela de uma mordida, arrancando um pedaço, enquanto o policial gritava em desespero.
A imagem na TV mudou de novo, dando lugar ao noticiário local, onde a repórter nos avisava que o que acabamos de ver estava acontecendo em Jacksonville (morávamos em Havana, uma cidadezinha ao sul da Florida, com poucos habitantes, a uns 200 km de distância de Jacksonville), explicando novamente que tudo isso acontecia graças a um vírus que vinha assombrando vários cantos do mundo nos últimos meses, assim como vinham nos explicando a semanas (motivo pelo qual estávamos vendo TV em um dia letivo no meio da aula, o governo emitiu uma nota exigindo que todas as escolas passassem o noticiário local para os alunos, onde nos avisariam e alertariam sobre como não pegar o tal vírus, e como agir caso peguemos ou conheçamos alguém que tenha contraído). A moça também nos alertou para ficarmos em casa, com bastante água e comida guardados, sem fazer muito barulho ou ficar com muitas luzes acesas. Não era para entrarmos em contato com os infectados, uma mordida ou um arranhão e seria fatal. Nos pediu para esperarmos até o governo dar um jeito nisso, e que tudo iria ficar bem. Se despediu e então a programação foi para os comerciais.
Não se ouvia mais nenhum barulho, as folhas das árvores pararam de balançar, os pássaros pararam de cantar, as pessoas dentro da sala não se mexiam, não piscavam, nem sequer respiravam, todos estávamos muito chocados com todas as informações que foram derramadas em cima de nós em tão pouco tempo. A primeira a ter alguma reação foi Sophia, que se remexeu inquieta e me olhou assustada, com seus olhos azuis esbugalhados. Eu a encaro sem expressão alguma, "isso é impossível" pensei, "existe gente ruim no mundo, isso é fato, mas não a esse ponto, de comerem umas às outras como se fosse algo totalmente normal".
O silêncio foi cortado ao mesmo tempo em que o ar tenso que se encontrava dentro da sala era dissipado. Um grito agudo e estridente pôde ser ouvido de fora, e então tudo saiu do controle.
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Beginning Of The End.
Fiksi Penggemar"This is the end Hold your breath and count to ten Feel the earth move and then Hear my heart burst again For this is the end" 》Sim, esse era o fim. O fim para tudo aquilo que Lydia Clark um dia já sonhou, um dia já imaginou, um dia já fez. Quem...