O dia estava lindo, o mar estava calmo, o azul do céu e do mar pareceriam se encontrar. Os passageiros do barco admiravam os golfinhos que se exibiam. O comandante acabara de avisar pelo alto-falante que faltava só mais alguns quilômetros até chegarmos à área das baleias. Sophia queria muito vê- las, mas antes de comprar as passagens eu tentei avisa-la que talvez as baleias não aparecessem, mas ela não se importou. De início fiquei com medo de que ela ficasse decepcionada, mas agora, com o aparecimento dos golfinhos, acho que deu pra compensar a viagem.
Minutos depois várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. Uma baleia apareceu, os passageiros se agitaram e começaram a tirar fotos, Sophia correu para ver mais de perto, eu corri atrás dela ao mesmo tempo em que eu tirava o telefone dá bolsa, pois estava tocando, parei por alguns instantes para ver quem era. Era Valter, meu marido, atendi no mesmo momento em que os passageiros gritaram outra vez.
— Alô?
— A culpa é sua — disse a voz de minha filha.
Olhei desesperada para os lados
— Sophia! — chamei.
Um policial que estava do meu lado começou a me puxar para trás, tentando me impedir de ver algo.
— Hey, me solta, eu preciso ver minha filha!
— Senhora, é melhor — disse ele com olhos tristes.
Consegui me soltar dele e corri para encontrar Sophia, ela não estava em nenhuma parte. Havia algumas pessoas olhando nas bordas do barco, fui até elas gritando pelo nome de minha filha. Quando me aproximei vi minha filha de debatendo na água.
Tentei pular no mar para salva-la, mas o policial havia me alcançado e me segurou outra vez.
— Me solta! Eu preciso salva- lá! Eu preciso salva- lá!!! — gritei.
— Não tem mais jeito Senhora. — ele me disse.
— Como não? Onde esta o salva— vidas? Não podem deixa-la morrer!!
— É sua culpa! — Todos os que estavam presentes falavam em sussurros.
Os pessoais que antes observavam minha filha agora me rodeavam, sussurrando repetidas vezes a mesma coisa, até me jogarem ao mar. Eu não consigo nadar e cada vez mais me afundo no escuro mar, mas os sussurros não param e ganha mais força, o tom cada vez mais alto.
— É sua culpa! — dessa vez era Sophia.
— Filha? — chorava e sentia minha garganta e meus pulmões doerem.
— É tudo culpa sua! — gritou mais uma vez.
— Não! — gritei.Acordo me sentando, sinto um alívio por saber que tudo era um sonho, mas meus olhos estão embaçados pelas lágrimas que não me permitem enxergar onde estou.
Ouço passos.
— Ah, Doutor! — alguém grita, mas eu não consigo enxergar nada e não sei o motivo, mas não paro de chorar — A paciente acordou!
Tento limpar meus olhos e sinto uma puxada, estou recebendo soro, e tem um tubo dificultando um pouco minha respiração nasal.Antes que eu termine de arrancar todos os cabos, alguém se aproxima de mim.
— Hey, vai com calma! — a voz masculina me impede — Tudo bem Eliana? Você esta em um hospital. Peço que mantenha a calma!
— H-hospital? — pergunto enquanto ele impede minhas lágrimas e a enfermeira o ajuda a repor as coisas.
— Sim — ele responde — Eu sou o Dr. Roberto.Me acalmo e analiso o quarto onde estou, e noto que a enfermeira não gostou muito da minha atitude desesperada porque retomou a agulha do soro com brutalidade.
— Eliana, você se lembra de alguma coisa? Como veio parar ao hospital? — o Doutor pergunta, mas eu nego com a cabeça e me pego confusa com tudo isso — Você se envolveu em um acidente de carro e acabou em um coma.
Agora, como um choque de realidade varias cenas meio desconexas vem a minha mente.
— Acidente de carro? — pergunto em voz alta — Eu... Eu... — não consigo raciocinar — Apresentação de ballet... — ponho a mão na cabeça, pois sinto uma pontada na cabeça que me obriga a fechar os olhos.
— Calma, não se esforce vo-
— SOPHIA!! — o interrompo — Cadê ela?
Olho para o doutor que fica surpreso e depois para a enfermeira que desvia o olhar.
— Cadê minha filha? — Pergunto mais uma vez.
— Eliana... Você acabou de acordar de coma de três semanas é melhor descansar... E...
— Não! — sinto meus olhos arderem novamente — Cadê a minha filha? — começo a soluçar — Ela tinha uma apresentação de ballet e eu estava levando ela...Os soluços me impedem de continuar.
Sinto a enfermeira me acariciando nas costas. Eu quero a minha filha. Aquilo tem que ser um pesadelo. Não pode ser real.
— Senhora, eu sinto muito... — o Doutor começou a falar — Quando a ambulância foi ao local do acidente...
— Não! — tampo meus ouvidos gritando — Não!
— Ela não conseguiu resistir aos ferimentos...
— Não! — grito e empurro a enfermeira, tiro novamente os cabos, tudo — Ela esta bem!Com dificuldade eu me levanto e caminho até a porta, mas acabo caindo. Sinto varias dores pelo corpo que antes estava adormecido. A enfermeira e o doutor me ajudam a levantar.
— Sinto muito, eu odeio dar essa notícia, mas sua filha morreu. — o doutor parecia sincero e triste também, eu não conseguia para de chorar. Não quero acreditar nisso.
— Não... Não pode ser verdade — digo sussurrando, e empurro os dois novamente — Eu quero ver minha filha! — grito novamente, dessa vez consigo sair do quarto.Conseguia andar me apoiando nas paredes. Sentia um vento frio na minha região traseira, mas não me importava com isso, muito menos os olhares alheios eu apenas queria ver minha filha, procuro por ela nos quartos.
Passei por um ou outro gritando pelo seu nome, até estar no meio de um deles onde perdi totalmente o controle com uma menina com sua mesma aparência e a abracei.
— Sophia? — abraçava chorando — Sophia que bom que a achei! — mesmo entre os meus soluços e os empurrões da criança eu continuava — Filha eu te amo muito!
— Você! — uma voz de mulher ecoa atrás de mim — Solte a minha filha! — ela larga as sacolas no chão e me puxa.
— Não, ela é minha filha! — ficamos em um agarramento, mas como estou fraca para revidar acabo no chão — Ela é a minha Sophia!Eu perdi o controle e o que veio depois foi merecido, aquele olhar frio da mãe, meu coração doeu ao ver a criança assustada.
— Mamãe? — a menina começou a chorar e a mulher a abraçou.
Foi ai que acordei de verdade, ela não era a Sophia.Alguém me levanta e arrasta para trás.
— S-sinto...
A mesma pessoa que me puxava me espetou com uma agulha, e senti meus olhos pesarem.
— Muito! — digo baixo adormecendo com a cena daquela criança me olhando assustada.
Eu estava no metrô quando de repente me dei pela falta de Sophia, procurei- a ao redor, mas ela não estava em vista, comecei a correr desesperadamente pelos vagões procurando e gritando por ela. De repente consegui vê-la, estava de costas para mim, corri para alcança-la. As luzes começaram a piscar, eu comecei a perder o fôlego, perdi Sophia de vista novamente, e os passageiros ao meu redor que não tinham rostos, apenas a boca e o nariz, começaram a me apontar dizendo coisas horríveis: "Como pode uma mãe perder a própria filha?", "A culpa é dá mãe, é claro...".
Acordei sem ar.
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Para Onde Eles Foram?
RomanceUma mãe arrasada, um pai arrependido, um caminhoneiro alcoólatra e um policial apaixonado. Insônia, arrependimento, ignorância e esperança. Um acidente pode trazer muitas coisas átonas, principalmente o sentido da vida. VIVA PARA AMAR. Essa foi a úl...