Aceita uma bebida?

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Meus pais iam me matar.

Grávida aos dezenove anos? Aquele era o exemplo perfeito do que eu não deveria fazer. Eu vinha de uma família extremamente conservadora, do tipo que vai à igreja todos os domingos e acha um absurdo qualquer roupa feminina que esteja acima dos joelhos. Havia sido um custo convencer meus pais a me deixarem estudar em Boston, já que eles preferiam que eu fizesse faculdade em Wichita mesmo para poderem ficar sempre de olho de mim e, principalmente, para não ter a necessidade de que eu me mudasse para os dormitórios e ficasse mais próxima do "mar de pecados" que toda universidade oferece.

E lá estava eu, realizando um sonho após meses implorando aos meus pais que confiassem em mim e me deixassem ir. Mas em menos de dois anos eu tinha colocado tudo a perder. Tudo. Eu deveria tê-los escutado, afinal. Porém o pior nem era o fato de ter uma pessoinha se formando no meu ventre, e sim que eu não fazia ideia de quem era o pai.

Querem uma dica valiosíssima? Nunca fiquem bêbados. Nunca.

Já fazia uma semana desde que eu fizera o teste de gravidez, no entanto ainda não tinha tido a coragem de contar para alguém. Diversas vezes fiquei por um triz de dizer para Karyn, minha melhor amiga e colega de quarto, mas tive medo demais e acabei ficando de boca fechada. E se eu não tinha coragem de contar para ela, uma das pessoas em quem eu mais confiava e sabia que não ia me julgar, como conseguiria dizer para os meus pais?

Eu deveria ligar para Logan e dizer a verdade, ele entenderia. Meu irmão sempre havia sido meu maior apoio, guardava todos os meus segredos e sempre estava lá para me proteger, mas ele também sabia como me repreender pelas minhas burradas. Só de pensar em como ele me olharia... Não, eu não tinha coragem.

Droga, o que eu ia fazer?

— Hallie. — Ouvi a voz doce de Karyn, logo senti seu toque em minhas costas.

Virei-me para encará-la, girando a cadeira da escrivaninha de nosso quarto. Até aquele momento eu estava tentando fazer um trabalho, mas obviamente não conseguia pensar em outra coisa sem ser a inesperada gravidez.

— Ei, Kary — abri um sorriso fraco, desanimada demais para tentar fazer melhor.

— Você vai me contar o que está acontecendo ou não? — ela cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha. Karyn sabia dar encaradas bastante intimidantes.

— E por que você acha que está acontecendo alguma coisa? — encolhi os ombros, minha voz saiu fina por conta do desespero.

— Bem, algum motivo com certeza deve ter para você estar tão avoada ultimamente. Qual é, Hall, você é a pessoa mais animada que eu conheço, nunca dispensou uma oportunidade de sair desse quarto, está sempre sorrindo e fazendo piadas, mas já fazem dias desde que você se envolveu em uma bolha. — Seu tom de voz era firme, porém seus olhos demonstravam clara preocupação.

— Eu estou bem — menti. — Não aconteceu nada.

— Hallie... — ela sussurrou, então se ajoelhando em minha frente e pegando em minhas mãos, olhando em meus olhos. — Sei quando você está mentindo. Por favor, não faça isso consigo mesma. Se tem alguma coisa errada, me deixe ajudar ou pelo menos tentar.

— Já falei, está tudo certo — sorri, levantando-me enquanto puxava minhas mãos. — Deve ser apenas o cansaço típico depois da semana de provas — dei de ombros.

Eu odiava mentir, mas toda vez que pensava em dizer a verdade era como se um nó se formasse em minha garganta.

— Vai mesmo continuar escondendo isso de mim? — ela bufou, revirando os olhos. Eu sabia que aquela sequência de reações significava que Karyn estava segurando o choro.

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