A Proposta

O louco do bar

— Você só pode estar ficando louco! — exclamei, virando a cabeça para trás na cadeira e caindo na gargalhada. — Ótima piada, Travis, até me fez rir, mas não acho que seja o melhor caso pra isso.

— Não estou contando piada, Hallie — ele me encarou seriamente, fazendo com que eu tirasse o sorriso do rosto. — Falei sério, acho que podemos fazer isso.

— Não, não podemos — inclinei-me na mesa, encarando-o bem nos olhos. Travis parecia mesmo querer fazer aquilo, mas provavelmente era só o efeito do álcool. — Você não pode assumir meu filho, isso é... Completamente insano!

— Por quê? — ele relaxou no encosto de sua cadeira. — Isso seria ótimo pra nós dois, morena. Você não vai precisar encarar essa gravidez sozinha e solteira, enquanto eu conseguirei a confiança da minha família quando eles souberem que eu estou assumindo a responsabilidade de ser pai. É o plano perfeito.

— Okay, você definitivamente deve estar bêbado — balancei a cabeça em negação, ainda indignada com a proposta. — Será que não está pensando em todos os contras que existem nessa maluquice? Será que não escutou quando eu falei sobre um casamento forçado? Você é jovem e tem um futuro inteiro pela frente, Travis, está fazendo faculdade... Não pode estragar tudo assim. Essa gravidez é o fim pra mim, mas não precisa ser pra você também.

— Hallie, essa é minha primeira cerveja da noite — disse ele, apontando para a garrafa em sua frente. — Eu não tô brincando. Minha vida até aqui tem sido erro atrás de erro e isso só me arrumou problemas. Eu quero fazer isso.

— Não quer, não! Estamos falando de um bebê, Travis. Um bebê que não é seu. Você por acaso tem alguma noção do que é cuidar de uma criança? Tem noção do que é ser pai?

— Eu não acabei de dizer que tenho uma irmã de dez anos? — revirou os olhos. — Cuidei muito de Celina quando ela nasceu, fiz isso até vir para Boston por causa da faculdade. Eu sei até trocar fraldas.

— Você não era pai dela — dei ênfase no "pai", tentando a todo custo colocar um pouco de juízo na cabeça daquele garoto. — E nós acabamos de nos conhecer, Marshall, por Deus!

— A maioria das garotas com quem eu transei nessa vida eram completas desconhecidas — ele deu de ombros. — A intimidade é a mesma, não concorda? Quer dizer, se colocarmos numa balança, deve pesar a mesma coisa.

— O quê?! — franzi a testa, completamente confusa. — Não é a mesma coisa! Estamos falando sobre criar uma criança, começar uma família. Pense bem, Travis, nós dois morando na mesma casa, um bebê pra cuidar, um casamento! Como isso pode dar certo? Isso sem comentar a parte que você tem suas necessidades sexuais e eu não aceitaria ser traída, mesmo nessas circunstâncias.

— Por quê? Você não transaria comigo? — ele arqueou as sobrancelhas. — Eu transaria com você sem problema algum.

— Chega! — disse, levantando-me em seguida. — Essa conversa já foi longe demais. Sinto muito mesmo pela sua irmã, Travis, mas eu não vou deixar que faça isso.

Então eu saí andando, parando no caixa para pagar minha água, mas sem olhar para trás. Aquela conversa com Travis tinha sido suficiente para me deixar zonza e enjoada. Confusa, também. Que tipo de ideia era aquela? Assumir um filho que não era dele? Pior, assumir o filho de uma garota que mal conhecia? Eu entendia os motivos dele e ficava sentida por sua irmã, porém aquela era uma decisão totalmente arriscada e precipitada. Tinha certeza que Travis encontraria outra forma de ajudar sua família, ele parecia ser mais inteligente que aquilo.

Fiquei andando pelo campus durante quase duas horas antes de voltar para o dormitório. Eu precisava respirar e pensar. Precisava tentar encontrar uma solução para o meu problema. Mas qual? Todas as alternativas possíveis acarretariam na destruição da minha vida. Eu podia dar adeus ao sonho de ser uma arquiteta independente e bem sucedida. Talvez estivesse na hora de contar para os meus pais e aceitar o destino iminente. Não daria para esconder aquilo por muito tempo mesmo.